O Spotify está enfrentando uma prova de fogo com a divulgação dos resultados financeiros do primeiro trimestre deste ano. O desafio é provar que seu negócio é sólido frente às polêmicas envolvendo a ameaça de artistas de deixarem a plataforma e que não está fadado a tomar o mesmo caminho da Netflix, que vem derrapando na bolsa.
A queda de 12,4% nas ações do serviço de streaming de áudio negociadas na Nasdaq nesta quarta-feira, 27 de abril, mostra que a companhia ficou aquém das expectativas.
O Spotify apresentou crescimento de 15% em sua base de assinaturas ativas, que cresceram 2 milhões no trimestre, chegando em 182 milhões de assinantes. O mercado, no entanto, esperava que esse número fosse 1 milhão superior. Foi a primeira vez em 14 trimestres consecutivos que o Spotify ficou abaixo das expectativas do mercado.
Para o próximo trimestre, os números poderão mais uma vez ficar abaixo da expectativa do mercado, de acordo com a empresa americana de dados financeiros FactSet. A expectativa da empresa é atingir 187 milhões de assinantes contra uma previsão inicial do mercado de 188,8 milhões.
Avaliado em US$ 18,5 bilhões, o Spotify viu seu valor de mercado diminuir mais de 34% desde a abertura de capital por listagem direta em abril de 2018. As ações estão sendo negociadas por valores próximos de US$ 96 nesta quarta-feira, bem longe do pico de mais de US$ 360 atingido pela companhia em fevereiro do ano passado.
Neste trimestre, a receita total foi de 2,6 bilhões de euros, número que é 24% maior do que o registrado no primeiro trimestre do ano passado. Uma fatia de 282 milhões de euros veio com publicidade, que cresceu 31% no trimestre. O lucro líquido foi de 131 milhões de euros.
O receio é de que a companhia siga um caminho semelhante ao da Netflix. A companhia com sede em Los Gatos, na Califórnia, enfrenta um momento turbulento no mercado após divulgar que sua base de assinantes diminuiu no último trimestre. As ações da empresa acumulam queda de 68% desde o começo do ano.
“Acho que muitas pessoas estão nos agrupando com a Netflix”, disse Daniel Ek, fundador e CEO da empresa em teleconferência na divulgação dos resultados nesta quarta-feira. Segundo o executivo, as únicas semelhanças entre os dois negócios é de que ambas são empresas de mídia e cobram por assinaturas.
As diferenças, no entanto, são várias de acordo com o executivo. Ek ressaltou que o Spotify tem uma base de usuários que utiliza a versão gratuita do serviço – algo que não é possível fazer na Netflix.
Outra diferença entre os dois negócios foi o fato de que enquanto o Spotify parece reinar absoluto no mercado de streaming de áudio, enquanto a Netflix vê os concorrentes se aproximarem. “Quando olho para o cenário de vídeo, parece que a concorrência está esquentando”, disse Ek.
Entre boicotes e podcasts
O Spotify enfrentou um primeiro trimestre de polêmicas envolvendo artistas e podcasters de sua plataforma. O cantor Neil Young ameaçou deixar o serviço de streaming em janeiro deste ano em represália ao não banimento do podcaster Joe Rogan do serviço. Rogan é acusado de disseminar notícias falsas sobre a covid-19 em seu programa de entrevistas.
Outros artistas fizeram coro aos protestos de Young e também ameaçaram retirar suas músicas da plataforma. Entre elas, a cantora Joni Mitchell. O Spotify, por sua vez, comprou a briga e não baniu Rogan, com o qual tem um acordo de exclusividade no valor de US$ 200 milhões.
Em vez disso, o serviço deletou mais de 70 episódios do podcast do ex-lutador do serviço. Cada episódio, vale dizer, tem uma média de 11 milhões de reproduções.
As polêmicas envolvendo artistas, no entanto, surtiram pouco efeito prático nos resultados do Spotify. Prova disso é que o número de podcasts na plataforma aumentou mais de 10% no último trimestre e somou 4 milhões de episódios. Rogan, por sua vez, ganhou mais de 2 milhões de seguidores.