Depois de fortalecer sua estrutura de capital, levantando R$ 1,5 bilhão em maio deste ano para reduzir a alavancagem financeira, a Oncoclínicas&Co está dando um passo rumo à internacionalização das operações da companhia. E a primeira parada é na Arábia Saudita.
O grupo de saúde focado em tratamentos ao câncer anunciou nesta terça-feira, 6 de agosto, um acordo para criação de uma joint venture com o grupo saudita Al Faisaliah para desenvolver uma operação de tratamento oncológico no país.
“Já ensaiamos em alguns momentos esse movimento e acabamos indo para a Arábia Saudita por uma questão de oportunidade”, diz Bruno Ferrari, fundador e CEO da Oncoclínicas, ao NeoFeed. “A Arábia Saudita tem uma medicina avançada, mas, do ponto de vista oncológico, o país não tem estrutura suficiente para tratar da população dentro do reino, a maior parte acaba sendo enviada a outros países.”
O acordo prevê, inicialmente, o estabelecimento de uma unidade em Riad, para depois expandir pelo país e pelo Oriente Médio. A unidade será focada no atendimento ambulatorial, medicina diagnóstica e nos tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
O investimento previsto para essa unidade, pela Oncoclínicas, é de US$ 10 milhões a US$ 20 milhões nos próximos três anos. Além do aporte financeiro, a Oncoclínicas vai disponibilizar seu conhecimento técnico e protocolos médicos na operação, replicando o modelo de atuação em suas 147 unidades no Brasil. A joint venture será formada na proporção de 51% para a Oncoclínicas e 49% para o Al Faisaliah.
A empresa estima que depois de cinco anos de operação, a joint venture terá aproximadamente US$ 550 milhões em faturamento anual e US$ 150 milhões de Ebitda. “A iniciativa vai requerer um investimento inicial, mas depois, em algum momento ao longo desse plano, a geração de caixa financia a abertura de novas unidades”, afirma Cristiano Camargo, CFO da Oncoclínicas.
Para se ter uma ideia do potencial da expansão, o Ebitda (excluindo o efeito não caixa da apuração do valor justo do plano de incentivo de longo prazo) ficou próximo de R$ 1,1 bilhão na operação brasileira em 2023. E a receita líquida se aproximou de R$ 5,5 bilhões no ano passado.
Ferrari destaca que dois pontos foram fundamentais para começar a internacionalização da pratica assistencial da Oncoclínicas pela Arábia Saudita – em 2022, a empresa comprou uma participação na empresa espanhola de pesquisas clínicas Medsir.
O primeiro foi o fato de ter encontrado o que entendem ser o parceiro ideal no país. O grupo Al Faisaliah é um conglomerado diversificado, atuando em vários setores econômicos, incluindo laticínios, eletrônicos. E, além disso, é representante da parte de equipamentos médicos Philips no país. A empresa é comandada pelo príncipe Mohammed K.A. Al Faisal, que será chairman da joint venture.
O caminho rumo ao Oriente
As conversas entre a Oncoclínicas e o Al Faisaliah começaram há mais de um ano, durante uma visita dos executivos da companhia brasileira à Arábia Saudita. Na ocasião, eles se reuniram com uma série de investidores e empresários locais para apresentar a companhia e como conseguiram criar um programa de tratamento padronizado cobrindo o Brasil. E isso atraiu o Al Faisaliah, que decidiu aprofundar as conversas.
“O grupo veio ao Brasil, viu nossas operações e a partir disso assinamos um memorando de entendimentos não vinculante, há cerca de seis meses, que culminou agora com essa sociedade”, afirma Ferrari.
Outro ponto que levou a Oncoclínicas à Arábia Saudita, e que também incentivou o Al Faisaliah a fechar um acordo para formar uma joint venture, foi o fato de o avanço da estrutura médica e a promoção do tratamento de câncer serem pontos centrais do plano Vision 2030, programa estratégico do governo que visa a modernizar e diversificar a economia saudita.
Além desses fatores, a companhia também ponderou o tamanho do mercado e da economia saudita – dados do censo de 2022 apontaram a população da Arábia Saudita em cerca de 32 milhões de pessoas, enquanto o PIB fechou o mesmo ano na casa do US$ 1 trilhão, segundo o Banco Mundial.
“Todas as forças estão jogando a favor”, diz Ferrari. “O governo quer, os players locais querem, porque precisam de um apoio na parte de oncologia, as fontes pagadoras também, sejam do governo ou privadas, a população precisando, o regulador a favor. Então, por que não começar pela Arábia Saudita?”
O plano da Oncoclínicas é utilizar a Arábia Saudita como um hub para expandir pelo Oriente Médio, casa de mais de 300 milhões de pessoas e que também apresenta poucas opções de tratamento oncológico, segundo Ferrari. Considerando o tamanho e a necessidade desse mercado, ir para países fora da região está descartado por enquanto.
A ida da Oncoclínicas ao mercado internacional também vem no momento em que a Oncoclínicas trabalha para reduzir sua alavancagem financeira, sem tirar o olho de oportunidades de mercado, plano que segue em voga, segundo os executivos.
Com o aumento de capital de R$ 1,5 bilhão, operação ancorada pelo Banco Master e por Ferrari, a relação entre a dívida líquida e o Ebitda deve cair dos 3,9 vezes apurados no primeiro trimestre para 2,6 vezes, segundo disse Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, em entrevista ao NeoFeed, em maio deste ano.