Negativa para ambos os bancos. Foi assim que a Fitch leu a decisão do Banco Central de rejeitar a venda de parte do Master para o Banco de Brasília (BRB). Na noite de quarta-feira, 3 de setembro, a autoridade monetária vetou a operação após mais de cinco meses de análise.
“A compra seria boa para os dois bancos. Se não avançar, pode ser negativo para um ou para os dois bancos. Temos que analisar caso a caso. Não há uma definição clara”, diz Claudio Gallina, diretor sênior responsável pela cobertura de bancos no Brasil na Fitch, ao NeoFeed.
De um lado, a venda para o Master aliviaria a pressão da dívida do banco de Daniel Vorcaro. Do outro, o especialista destaca que a carteira do Master ajudaria o BRB a ganhar musculatura para além de sua atuação regional.
“Ele [BRB] está buscando outras formas de expandir a carteira. A capitalização dele está muito próxima dos limites regulatórios, o que limita o poder de alavancagem. É um dos pontos fracos que sempre comentamos nos relatórios”, afirma Gallina, que participa na terça-feira, 9 de setembro, do Fitch On Brazil 2025, um painel sobre os principais desafios das instituições financeiras brasileiras.
Até abril, o rating de longo prazo em moeda estrangeira atribuído pela agência de classificação de risco ao BRB era B- enquanto o do Master era B+ (ambos significam risco de inadimplência).
Após a decisão do BC, as duas notas foram colocadas em revisão em função do processo de compra, aguardando o desfecho regulatório e os termos finais da transação. Os bancos ainda não deram um posicionamento final.
Há grande dúvida, no entanto, sobre os CDBs do banco Master, amplamente distribuídos para investidores de varejo e institucionais nos últimos anos. Estima-se que R$ 60 bilhões foram distribuídos aos investidores. XP e BTG respondem pelas maiores posições, com R$ 35 bilhões e R$ 10 bilhões, respectivamente.
“O conglomerado que seria formado pela junção dos dois bancos tinha elementos que fortaleceriam a estrutura e ajudariam um rating maior, que diz que o banco tem mais capacidade de honrar seus pagamentos”, diz Jean Lopes, diretor de bancos na América Latina da Fitch.
Mas Gallina avalia que, mesmo assim, seria preciso entender os detalhes da destinação dos CDBs, pois o acordo original previa a venda de apenas uma parte do Master. “Isso não estava definido. Era uma operação complexa.”
Sem perspectivas de que a operação avance, os analistas estudam o que pode acontecer com os CDBs, com o indeferimento da venda do Master pelo Banco Central.
“Esse cenário positivo não deve acontecer mais, pelo menos no primeiro momento. Temos que analisar os CDBs novamente, em um contexto em que a parte líquida, que iria para o BRB, volta para o Master, e quais tipos de ativos foram vendidos nesse meio tempo para fazer frente ao caixa do banco”, afirma Lopes.
Inadimplência
Apesar da maior incerteza associada ao desfecho das operações de BRB e Master, os analistas avaliam que os bancos brasileiros estão mais preparados para lidar com um eventual aumento da inadimplência pela alta da taxa de juros. Uma das ferramentas são os sistemas de renegociação, com extensão do número de parcelas de menor valor.
“Isso ajuda o cliente a se recuperar ao longo do tempo e continuar junto do banco. Isso tem sido interessante. Acho que foi uma lição aprendida na pandemia. O Brasil tem muitas crises, e os bancos têm aprendido a se proteger”, diz Gallina.
A maior cautela na concessão de crédito e a diversificação das carteiras dos bancos também são pontos que devem ajudar a controlar a inadimplência bancária, a despeito da queda de atividade esperada para o segundo semestre. “Os bancos top 10 estão com uma exposição muito mais diversificada. Não se vê mais uma exposição tão alta em determinado tipo de cliente ou segmento”, afirma Lopes.
A exceção nesse cenário é o Banco do Brasil, que passou por uma redução de lucro líquido de 40% no primeiro semestre, influenciada pela crise de inadimplência no agronegócio. Apesar do impacto no balanço, o analista avalia que o banco tem outros instrumentos para contrabalancear os impactos do agro.
A expectativa da Fitch, baseada nas projeções do Banco do Brasil, é de uma melhora somente a partir de 2027. Os analistas, no entanto, pontuam que a base comparativa do efeito da inadimplência deverá ser mais complexa de analisar no caso do BB e de outros bancos. Isso devido à Resolução do Bacen 4966/2023, que define novas regras contábeis para instituições financeiras e entrou em vigor no início do ano. As principais mudanças estão relacionadas à forma como o banco contabiliza seus provisionamentos, que é a perda estimada com a inadimplência.
“É uma resolução que mimetiza a IFRS 9, que, do ponto de vista regulatório, é positiva para quem analisa do exterior. Isso melhora a transparência do mercado. Mas a comparação fica mais difícil. Isso tende a melhorar em 2026, quando os bancos publicarem mais balanços e as contagens ficarem mais homogêneas”, diz Lopes.