A fusão entre Marfrig e BRF criou uma gigante global de alimentos: uma plataforma multiproteínas com receita líquida de cerca de R$ 160 bilhões, presença em 117 países e valor de mercado de R$ 15,4 bilhões.
Apesar dos superlativos, a XP Investimentos observa investidores em modo “esperar para ver” e recomenda cautela inicial, dado o valuation elevado no curto prazo.
Os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak iniciaram a cobertura da MBRF com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 20,90, o que representa um upside perto de 10% sobre os níveis atuais - o papel abriu aos R$ 19,42 o pregão de quinta-feira, 2 de outubro.
Segundo os especialistas, as perspectivas da MBRF são positivas no longo prazo. No curto, porém, os mercados de proteína bovina nos Estados Unidos e de aves no Brasil exigem postura mais cautelosa.
“Embora sejamos construtivos quanto à geração de valor e à capacidade da gestão em entregar sinergias, acreditamos que os ciclos de proteína e os resultados terão papel relevante, mantendo o mercado em compasso de espera”, aponta o relatório.
Com margens da National Beef pressionadas pelo menor rebanho nos Estados Unidos e operações sul-americanas perdendo força, a BRF deve ganhar protagonismo nos resultados de curto prazo. Nos próximos dois anos, será responsável por cerca de 80% do Ebitda da MBRF.
Esse ganho ocorre enquanto as margens da carne de frango no Brasil começam a se normalizar. Em 2024, produtoras tiveram rentabilidade elevada devido à alta demanda, oferta equilibrada e menores custos de ração.
O cenário, contudo, dá sinais de reversão. Segundo a XP, a oferta de aves dá sinais de crescimento, embora os custos de alimentação estejam controlados e a demanda interna e externa siga positiva.
Essa normalização coincide com as ações apresentando valuation elevado. “Com ações negociadas a 5,9 vezes o EV/Ebitda estimado para 2026 e retorno de fluxo de caixa livre modesto, acreditamos que os papéis devem permanecer estáveis por ora”, diz o relatório.
Apesar dos desafios de curto prazo, a MBRF tem potencial relevante de geração de valor no longo prazo, segundo os analistas.
“A diversificação geográfica e de proteínas deve mitigar a volatilidade de margens e geração de caixa, podendo alterar o perfil de alavancagem estrutural observado em Marfrig e BRF”, afirma o relatório.
A estimativa para 2026 é de receita líquida de R$ 163,8 bilhões e Ebitda de R$ 12,8 bilhões.
A geração de valor também se apoia em sinergias: dos R$ 805 milhões previstos, R$ 320 milhões vêm de despesas administrativas e R$ 485 milhões de iniciativas de cross-selling e cadeia de suprimentos. Há ainda R$ 3 bilhões em sinergias fiscais.
Por volta das 13h15, as ações da MBRF caíam 2,9%, cotadas a R$ 18,86.