A Unico, unicórnio brasileiro líder em verificação de identidade digital, anunciou a aquisição da norte‑americana OwnID, empresa especializada em autenticação sem senha para clientes corporativos B2C.

A transação, cujo valor não foi revelado, reforça a estratégia de internacionalização da Unico, ampliando sua atuação nos Estados Unidos e em outros 10 países. Com sede em São Francisco, a OwnID atende 26 grandes empresas globais, como Nestlé, SAP, NFL e Michael Kors, e realiza 3,5 milhões de autenticações por mês.

“Foi um movimento triplo essa aquisição, visando a tecnologia desenvolvida, a equipe e o mercado de atuação. Temos interesse em avançar no mercado americano, que é muito grande”, disse Marcelo Zanelatto, head de M&A da Unico.

Do lado tecnológico, a OwnID passa a oferecer ao portfólio da Unico um sistema de autenticação de baixa fricção, baseado em passkeys — o mesmo usado por Apple e Google para desbloqueio de celular.

Zanelatto explica que a aquisição é complementar ao sistema de reconhecimento facial desenvolvido pela Unico — mais lento, mas com maior segurança, sendo ideal para verificações de alto risco, como recuperação de senhas bancárias, por exemplo.

“Há sempre uma comparação entre segurança e usabilidade. Se um banco quer o máximo de segurança, ele vai colocar reconhecimento facial em tudo. Mas isso vai piorar a experiência do usuário”, diz ele.

Com a OwnID dentro de casa, portanto, a ideia é unir o melhor dos dois mundos, desenvolvendo uma ferramenta mais segura que os passkeys e mais rápida que o reconhecimento biométrico.

“Se eu tenho uma autenticação sem fricção que me traz essa assertividade biométrica, sobem as duas barras. Eu tenho usabilidade e tenho segurança. Eu não tenho um sem o outro”, afirma Zanelatto.

A equipe da OwnID será mantida, incluindo os fundadores, o CTO, o vice-presidente de vendas e parte significativa do time de desenvolvimento. Os escritórios em São Francisco e Tel Aviv também continuam operando normalmente.

A marca OwnID será preservada em um primeiro momento, com a inclusão do selo “by Unico” — estratégia semelhante à adotada após a aquisição da mexicana Trully, que inicialmente manteve sua identidade antes de ser gradualmente integrada à marca Unico.

Marcelo Zanelatto Unico
Marcelo Zanelatto, head de M&A da Unico

Essa é a oitava realizada pela Unico desde 2020 e a décima em sua história. Apesar do ritmo acelerado de aquisições, Zanelatto afirma que a empresa segue capitalizada e atenta a novas oportunidades de negócio. "As aquisições são importantes. Nos ajudam a dar passos maiores. Já vem time, produto, cliente, volume."

Numa transação, o head de M&A da Unico diz considerar três pilares: time, tecnologia e mercado de atuação. No alvo, afirma, estão regiões sem controle de identidade digital em larga escala pelo governo, em que a bancarização está crescendo e que têm alta incidência de fraudes. Nesse sentido, comenta, ter começado no Brasil foi uma grande vantagem competitiva.

“O tipo de ataque que as empresas sofrem no Brasil é muito mais sofisticado em relação ao que enfrentam as companhias americanas. Então, temos soluções para ataques que estão acontecendo agora nos Estados Unidos — e para os que ainda vão acontecer. É um mercado que evoluiu muito rápido, assim como o dos fraudadores”, afirma.

Zanelatto afirma que a empresa está saudável, gerando caixa e sem necessidade de uma nova captação. Em sua rodada de investimentos, liderada pelo Goldman Sachs, a Unico levantou US$ 100 milhões, sendo avaliada em US$ 2,6 bilhões.

Apesar do tamanho já relevante, especialmente para uma empresa de tecnologia da América Latina, o diretor da Unico diz que a companhia ainda está distante de um IPO. “Como a gente começou esse nosso processo de globalização, primeiro acho que precisamos nos consolidar bem fora do Brasil. Estamos só começando a caminhada internacional.”

Além da presença nos Estados Unidos por meio da OwnID e no México com a Trully, nos últimos anos, a Unico também comprou a Oz Forensics, com sede em Dubai, e abriu escritórios próprios em Palo Alto, no Vale do Silício, e em Portugal.