Em meio às dificuldades financeiras, a Sequoia desenhou um plano de reestruturação que começa a engatar e mostrar resultados. Agora, a empresa de logística apresentou uma proposta de conversão de debêntures em ações, um passo para conseguir alongar seu endividamento e ganhar um respiro.

A Sequoia informou na terça-feira, 19 de setembro, por meio de fato relevante ao mercado, que o conselho de administração aprovou a emissão de até 400 mil debêntures conversíveis em ações, totalizando R$ 400 milhões.

A operação será dividida em duas séries. Na primeira, serão emitidas até 300 mil novas debêntures, voltadas para credores da terceira emissão da companhia, com a subscrição sendo feita através da troca dos antigos títulos por novos.

Já a segunda série vai permitir a subscrição de até 100 mil debêntures em dinheiro, o que resultará na injeção de R$ 100 milhões em capital no caixa da companhia. O NeoFeed apurou que existe um compromisso de um grupo de investidores de adquirir a totalidade destes papéis da segunda série.

Caso a operação seja concretizada do jeito que foi proposta, ela pode resultar numa diluição de 20% a 30% da base atual de acionistas, situação que só será conhecida após a finalização do processo de bookbuilding, marcado para 3 de outubro.

A proposta de emissão de debêntures conversíveis começou a ser analisada há cerca de um mês pela Sequoia, como parte de um plano para equilibrar sua estrutura de capital, segundo apurou o NeoFeed. Esse caminho foi levado em consideração em meio à disparada do endividamento diante dos problemas operacionais que a empresa vem enfrentando somado ao aperto visto no mercado de crédito no começo do ano.

A Sequoia vem convivendo com dificuldades operacionais desde o ano passado, em meio à retração do e-commerce, além de ter sido duramente prejudicada pela interrupção abrupta das linhas de risco sacado, que pesou sobre o capital de giro e afetou os serviços e o faturamento do segmento de leves.

O endividamento subiu 7,5% entre o primeiro e o segundo trimestre, para R$ 736,4 milhões, fazendo a relação entre a dívida líquida e o Ebitda avançar de 3,2 vezes para 7,6 vezes. A expectativa é a de que a emissão de novas debêntures possa reduzir a dívida em cerca de 30%.

A empresa já vinha deliberando com os credores a possibilidade de fazer uma operação dessas. Ainda que tenham recusado conceder um “waiver prévio” em reunião realizada no dia 9 de agosto, muitos debenturistas entendem que a Sequoia passa por um momento complicado e reconhecem os esforços da companhia para melhorar a situação. Essa postura deve resultar numa maior aceitação da conversão, ainda que nem todos devam concordar.

“A empresa e os acionistas sempre tiveram postura impecável em termos de atitudes, indo para a linha de frente e fazendo o que precisava ser feito”, diz Arturo Profili, sócio-fundador e diretor de gestão da Capitânia Investimentos, que tem cerca de R$ 40 milhões em debêntures da Sequoia.

A negociação com os bancos

Com o lado dos debenturistas relativamente encaminhado, falta endereçar o endividamento com os bancos. As conversas visam fechar um acordo para também alongar a dívida, que se encontra na casa dos R$ 400 milhões. Entre os maiores credores estão o Banco ABC e o Santander.

A solução colocada no lado da estrutura de capital deve abrir caminho para a Sequoia seguir em frente com o seu plano de reestruturação operacional. Entre as principais iniciativas está o encerramento da unidade de e-commerce de produtos grandes, segmento que a empresa havia começado a operar há três anos, após a aquisição da Prime Express.

Em entrevista ao NeoFeed na divulgação dos resultados do segundo trimestre, o CEO da Sequoia, Armando Marchesan, disse que o conjunto de decisões tomadas resultaram numa economia de cerca de R$ 112,1 milhões no primeiro semestre e a expectativa era obter uma redução de mais R$ 22,7 milhões na segunda metade do ano com ajustes adicionais.

A Sequoia fechou o segundo trimestre com um prejuízo de R$ 149,3 milhões, um aumento de 5,8 vezes em relação à perda apurada no mesmo período de 2022. A receita caiu 61,5%, para R$ 191,3 milhões, enquanto o Ebitda ficou negativo em R$ 64,4 milhões, revertendo o resultado positivo de R$ 75,8 milhões de um ano atrás.

Procurada pelo NeoFeed, a empresa não quis comentar.

As ações da Sequoia fecharam o pregão com alta de 3,92%, a R$ 0,53. No acumulado do ano, elas registram queda de 82%, levando o valor de mercado a R$ 105,5 milhões.