Organizar um jantar, planejar uma viagem, comprar um presente ou apenas repor itens da casa. Em breve, essas tarefas podem deixar de exigir pesquisas, comparações e cliques. Bastará dizer a um agente de inteligência artificial o que você precisa e ele fará todo o resto: da escolha do produto ao pagamento. Mas, para que essa engrenagem funcione de ponta a ponta, uma carteira digital precisa estar habilitada.

É exatamente o elo dessa engrenagem que o PayPal está trazendo para o Brasil. A primeira carteira digital do mundo integrada ao ChatGPT, a empresa está testando um modelo que vem sendo chamado de “agent commerce”.

Nesse modelo, a IA não só recomenda, mas finaliza a compra após realizar a pesquisa de preços e a comparação de fornecedores. O usuário recebe alertas da lista de compras ao longo do processo. E o PayPal entra na finalização da transação com a carteira do usuário após todo o trabalho feito pela IA.

Para Brunno Saura, general manager do PayPal no Brasil, essa mudança marca “a transição do uso consultivo da IA para um uso operacional, em que ela trabalha junto com o consumidor”.

“Somos a primeira carteira realmente integrada ao GPT, possibilitando esse tipo de transação. O brasileiro é um early adopter, mas nem todo mundo está preparado para traduzir essas tecnologias”, diz ele, em entrevista ao NeoFeed.

Essa integração faz parte de uma estratégia global e conversa diretamente com outra aposta da empresa: o PayPal World, uma plataforma recém-lançada que conecta carteiras digitais de diversos países, como PayPal, Venmo, Mercado Pago, UPI e Tenpay, entre outras, para permitir compras internacionais, transferências e pagamentos em lojas físicas usando a carteira local.

Com o PayPal World integrado à IA - todas as carteiras estarão disponíveis -, a empresa busca criar o primeiro corredor global para compras feitas por bots.

“Com mais de 30 milhões de vendedores globais, eu trago segurança e conforto para o usuário ali dentro daquele bot ao usar a carteira PayPal em um catálogo de produtos desses vendedores globais”, afirma Saura.

Para o general manager do Brasil, o divisor de águas no universo dos pagamentos em 2026 vai ser a IA. Se há cinco anos o PIX mudou a relação do brasileiro com transferências de dinheiro, agora são os agentes de IA que podem alterar a relação com a compra em si.

“Será sobre como interpretamos as tecnologias de IA para pagamentos e criamos experiências fluidas”, afirma Saura.

A gigante americana de pagamentos digitais registrou um volume total de pagamentos (TPV) de US$ 458,1 bilhões no terceiro trimestre deste ano, com 6,3 bilhões de transações e 438 milhões de usuários.

E o Brasil com isso?

Em paralelo a essa estratégia, o PayPal tem buscado criar diferenciais no mercado local. Perto do fim do primeiro semestre, a companhia recebeu a licença para atuar como adquirente no País, após um projeto de 12 a 18 meses envolvendo engenharia local e internacional.

O movimento dá ao PayPal mais controle sobre fluxos, geração recorrente de receita, capacidade de inovar e liberdade para lançar novos produtos. “É um investimento substancial e uma integração completamente nova”, diz Saura.

O segundo movimento é a chegada da plataforma PayPal Complete Payments, que foi desenhada para pequenas e médias empresas. Ela concentra carteira digital, cartões, QR code, links de pagamento e antifraude em um único lugar.

O foco da empresa é tornar acessível ao pequeno empreendedor a mesma robustez que grandes empresas já têm. “O arroz com feijão do PayPal sempre foi o pequeno e médio empreendedor”, diz Saura.

Embora o Brasil seja um mercado hoje dominado pelo Pix e por grandes carteiras digitais, Saura vê espaço para colaboração e não conflito - até porque adquirentes e bandeiras também seguem se reinventando.

Em um horizonte não tão distante, há temas como stablecoins e pagamentos com criptoativos, que já são realidade no PayPal dos Estados Unidos com o PYUSD.

O avanço para Europa, Ásia e América Latina está no roadmap. E o Brasil, claro, está no radar, mesmo ainda sem uma data para isso ocorrer.