O avanço das plataformas de investimentos, assessorias e fintechs nos últimos anos têm imposto um desafio para os grandes bancos. Por muito tempo acostumados a “jogarem parados”, ganhando dinheiro sem fazer muito esforço para inovar a oferta de serviços, os incumbentes vêm perdendo terreno em diversas frentes que dominavam.
Por conta disso, os bancos vêm trabalhando para recuperar as parcelas de mercado que perderam. Mas um estudo conduzido pela boutique de assessoria financeira Seneca Evercore alerta que o caminho não será fácil, pois envolve quebrar paradigmas estabelecidos há anos.
O estudo analisou essa perda de competitividade por meio da retração que as grandes instituições financeiras tiveram na parte de crédito corporativo. Segundo ele, até 2018, os bancos comerciais no Brasil possuíam uma fatia de mercado acima de 70,6% do financiamento de empresas do País.
Mas o avanço do mercado de capitais, com o crescimento no número de players independentes, reduziu a participação dos incumbentes. Em seis anos, essa parcela caiu para 54,3%, até março deste ano. Essa perda de market share, porém, não fez com que os grandes bancos ajustassem seus spreads para ficarem mais competitivos.
A pesquisa aponta que as instituições financeiras brasileiras apresentam um ganho proporcionalmente maior derivado do spread financeiro sobre os ativos financeiros do que os bancos americanos – 4,4% contra 2,6%, respectivamente. Enquanto o spread no Brasil em março foi de 12,7%, nos Estados Unidos, ele estava em 3,2%.
A grande questão, segundo Daniel Wainstein, sócio da Seneca Evercore, é que os bancos não têm espaço para cortar o spread porque a estrutura de despesas dessas instituições é mais onerosa, exigindo a cobrança de spreads elevados para atingir o mesmo nível de rentabilidade dos bancos americanos.
“Os bancos são pesadíssimos no Brasil”, diz Wainstein. “Eles não conseguem diminuir os spreads porque não terão lucratividade mínima se fizerem isso.”
O estudo aponta que a estrutura de despesas dos bancos brasileiros é superior ao das instituições americanas, de 3,7%, contra 2,9%, respectivamente, quando se pega as despesas administrativas e divide pelos ativos financeiros.
No caso da rentabilidade, embora o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) dos bancos brasileiros seja superior, com uma mediana de 12%, enquanto nos americanos é de 9,5%, quando se leva em conta a taxa básica de juros de cada país, o ROE das instituições brasileiras é de 1,5%. Nos bancos americanos, a mediana é de 4,1%.
Segundo Wainstein, a estrutura de despesa dos bancos brasileiros já foi bem mais pesada, chegando a estar em 7% no início dos anos 2000. Ele diz que os bancos fizeram um bom trabalho nos últimos anos de redução de despesas, com fechamento de agências e reduzir pessoal.
O sócio da Seneca Evercore destaca ainda que os bancos lidam com um índice de inadimplência muito elevado. De acordo com o estudo, os bancos brasileiros provisionam 2,9% em relação a sua carteira de crédito, enquanto os bancos americanos provisionam apenas 0,6%.
“Os bancos brasileiros têm que cobrar juros muito altos para poder comportar o risco e para comportar uma estrutura administrativa pesada”, afirma Wainstein.