O Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros inalterada na reunião do Comitê de Política Monetária de quarta-feira, 10 de dezembro. Para a autoridade monetária, a Selic em 15% ao ano é vista como a mais adequada.

Para Marcelo Tangioni, presidente da Mastercard Brasil, a Selic alta é um “remédio amargo” para conseguir manter a inflação perto do centro da meta. O resultado, segundo ele, é um freio no consumo, mas isso é necessário para a sustentabilidade da economia brasileira.

“Claro que se a taxa de juros estivesse mais baixa, provavelmente a gente venderia mais. Mas esse é o momento de ter consciência. Não dá para pensar só no curto prazo”, diz Tangioni, em entrevista ao NeoFeed.

“Quando se busca esfriar um pouco o consumo, isso tem um impacto direto no nosso negócio. Mas é um sacrifício importante que precisa ser levado em consideração, pensando no médio e longo prazo”, completa.

Na visão do executivo, o primeiro ano da gestão de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central tem sido de decisões acertadas. Para ele, há uma continuidade do caminho que vinha sendo trilhado pelo seu antecessor, Roberto Campos Neto.

Nesta quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a inflação de novembro alcançou 0,18%, o que leva o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 4,46% no acumulado de 12 meses.

Com isso, o índice volta para o limite estabelecido pelo governo, de 4,5%, após 13 meses fora do intervalo. O centro da meta é de 3% em 12 meses, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Na entrevista, Tangioni também falou sobre negócios, como o recém-lançado cartão World Legend, para o público de altíssima renda e que terá benefícios como uma passagem de classe executiva para o titular e acompanhante em rotas internacionais selecionadas.

Acompanhe, a seguir, os principais trechos:

Qual é sua avaliação sobre o primeiro ano da gestão de Gabriel Galípolo no Banco Central?
Ele está indo muito bem. Existe uma continuidade do trabalho em relação ao mandato de Roberto Campos Neto e em tudo que o Banco Central vem fazendo. Não só em relação à política monetária, mas também sobre nosso meio de pagamento. Com o Galípolo, o Banco Central continua aberto e nos ouvindo. Ele vem ajudando no aumento da concorrência, na abertura de mercado. Aquilo que existia, do ponto de vista de gestão, houve claramente uma continuidade.

Boa parte do setor produtivo tem reclamado da manutenção por longo tempo da taxa Selic a 15% ao ano. Enxerga esse patamar ruim?
Não é ruim. É necessário. O objetivo do Banco Central em manter a taxa de juros neste nível é de, principalmente, conter a inflação, que é algo muito ruim para todos os setores. Para nós, é muito importante que a inflação esteja controlada. Infelizmente, esta taxa elevada é um remédio amargo, mas é importante para a sustentabilidade da economia.

"Infelizmente, esta taxa [Selic] elevada é um remédio amargo, mas é importante para a sustentabilidade da economia"

E como uma taxa neste nível ajuda a conter a inflação?
Isso acaba dando uma amenizada no consumo. Quando se busca esfriar um pouco o consumo, isso tem um impacto direto no nosso negócio, que é muito ligado a isso. Mas é um sacrifício importante que precisa ser levado em consideração, pensando no médio e longo prazo. A gente entende que existe a intenção de trazer a inflação mais para o centro da meta. Mesmo que impacte negativamente nosso negócio, é algo importante. Por mais que o impacto não seja positivo a curto prazo, o nosso entendimento é que é muito necessário esse movimento.

Mas o impacto não é grande para a Mastercard no primeiro momento, com esse freio no consumo?
Claro que se a taxa de juros estivesse mais baixa, provavelmente a gente venderia mais. Mas esse é o momento de ter consciência. Não dá para pensar só no curto prazo. Assim como outras medidas do Banco Central, essa é justificável. A inflação alta é ruim em qualquer cenário e ruim para todo mundo. Lembro da época da hiperinflação, que era um cenário maluco. Por mais que o Brasil tenha avançado na inclusão financeira, muita gente ainda não tem condições de poupar e se proteger contra uma desvalorização da moeda.

Na sua visão, então, as razões apresentadas pelo presidente do Banco Central para explicar a Selic no atual patamar estão corretas?
Estão. Entendo que todos os esforços necessários para a redução da inflação são importantes neste momento. E a taxa de juros é um deles.

"Entendo que todos os esforços necessários para a redução da inflação são importantes neste momento. E a taxa de juros é um deles"

Recentemente, a Mastercard lançou sua versão para a altíssima renda, que é o World Legend. Qual é a perspectiva de aderência no Brasil?
Esse lançamento é um marco importante. É um produto que vem ocupar o topo da pirâmide, daquilo que a gente já oferece no mercado de alta renda. Ele vai ocupar o espaço que o Mastercard Black ocupou ao longo dos anos desde que foi lançado, há 19 anos. Foi um lançamento mundial e o Brasil o segundo país a lançar, atrás apenas dos Estados Unidos.

Já há quantos emissores para oferecer o cartão?
Até aqui, já temos sete emissores (Banco do Brasil, C6, BTG Pactual, Itaú, Picpay, Sisprime e Sicredi). A gente tem negociações com outros que querem emitir. E ainda neste ano deveremos ter o cartão já distribuído nas mãos dos consumidores. Por mais que a gente tenha mais emissores, foi estabelecido um limite para cada um. Queremos manter este produto bem exclusivo.

Há um volume estabelecido?
A gente está falando de 0,1% da população brasileira (cerca de 200 mil pessoas). Mas este produto não é de grandes números. Vamos ter um controle. Não vamos pisar no acelerador para oferecer um monte de cartão. Pelo contrário.

Qual é o grande diferencial?
Há uma grade de benefícios globais, incluindo uma experiência de gastronomia nos principais aeroportos do mundo. No Brasil, o primeiro neste conceito será no terminal 3 de Guarulhos e deve ser inaugurado até o fim do ano. A assinatura é de Alex Atala. Outro exemplo é o fast pass. Além disso, há benefícios locais. E, dentro do World Legend, há um benefício ainda mais exclusivo, para público de private banking, definido pelos emissores, que é o Legend Exclusive.

O que oferece essa linha ainda mais exclusiva?
Além de todos os outros, há um complementar, que é a passagem gratuita de classe executiva, para o titular e acompanhante, em rotas internacionais selecionadas, concedida no momento da entrada. O banco decide para quem vai oferecer esse benefício.

De uma forma geral, como foi 2025 para a Mastercard no Brasil?
Foi um ano muito bom. A gente continua crescendo de forma bastante robusta. A gente teve revoluções importantes, como o click to pay (forma eletrônica de pagamento, sem precisar digitar os dados do cartão), que está ganhando tração, com a entrada de mais estabelecimentos comerciais. Hoje, nossa penetração de transações tokenizadas no País está superior a 50%. E o Brasil é o mercado número um em tokenização. Há oito anos a Mastercard é líder no mercado brasileiro de cartões, com share de 60%. E a cada ano aumenta essa participação.