O interesse do iFood pela Alelo, a líder do mercado brasileiro de benefícios de vale-refeição e vale-alimentação, com uma fatia de aproximadamente 30%, pode ser interpretada de duas formas.

A primeira é que o gigante do setor de delivery brasileiro cansou de esperar pela portabilidade, o que garantiria um crescimento acelerado de sua operação de benefícios, e resolveu ir direto para a avenida de M&As.

A segunda é que a companhia quer mesmo ser protagonista do setor de benefícios, a despeito das mudanças de regras que estão em discussão. Entre elas, a diminuição dos custos de intermediação ao limitar em 3,6% a taxa de administração das operadoras e a redução do prazo de compensação do pagamento aos estabelecimentos em até 48 horas.

A informação de que o iFood está em negociações avançadas para comprar a Alelo, empresa controlada pelo Bradesco e Banco do Brasil, foi divulgada nesta quarta-feira, 23 de julho, pelo jornal Valor Econômico – e confirmado pelo NeoFeed. Segundo a publicação, a transação seria fechada por cerca de R$ 5 bilhões.

Uma aquisição dessa magnitude seria um atalho para driblar um cenário de competição que, na prática, passou por poucas mudanças nos últimos anos, com as alterações anunciadas nas regras do PAT desde 2020 trazendo poucos impactos nesse contexto.

Até o momento, esse saldo mostra que a participação detida pelas quatro gigantes do setor (Alelo, Ticket, Pluxee -ex-Sodexo - e VR) caiu de aproximadamente 90% para 80% nesse intervalo. A queda é considerável, mas ficou bem aquém do que se prometia quando os embates nesse front ganharam corpo.

Em outubro de 2024, em entrevista concedida ao NeoFeed, Arthur Freitas, diretor-geral do iFood Benefícios revelou com exclusividade que a operação acumulava uma base de 650 mil usuários ativos. E tinha a expectativa de chegar a 1 milhão de usuários no fim do seu ano fiscal, em março deste ano.

A projeção foi acompanhada da meta de alcançar um volume mensal transacionado de R$ 500 milhões, o que, em base anualizada, resultaria em R$ 6 bilhões. Na época, a cifra movimentada por mês na plataforma era de R$ 400 milhões.

A principal aposta do iFood e de outras “novatas” com apetite para embolar esse meio de campo – como Swile, Flash, Caju e PicPay - era a questão da portabilidade, por meio da qual os trabalhadores poderiam passam a escolher as operadoras dos seus cartões de benefícios.

Esse recurso foi aprovado em 2022 e, inicialmente, tinha previsão de entrar em vigor em 2023. Entretanto, sua implementação ainda depende de regulamentação e tem sido sucessivamente adiada.

À parte dessa indefinição, outras mudanças previstas no arcabouço do PAT foram adotadas. Entre elas, a proibição do rebate, uma prática até então usual e vista como a principal barreira de entrada para outros players no setor.

O rebate eram os descontos concedidos pelos grandes players do setor às empresas contratantes. Os índices giravam, em média, de 2% a 5%. E, na prática, eram financiados pelas taxas cobradas dos estabelecimentos credenciados, que, por sua vez, repassavam a conta para os consumidores.

O apetite da Prosus

Em um escopo mais amplo, ao acelerar sua escalada no setor com a compra da Alelo, o iFood também estaria alimentando a meta de Fabricio Bloisi, CEO da Prosus, controladora da plataforma de delivery, de dobrar a receita da holding de tecnologia até 2028, alcançando o patamar de US$ 12,5 bilhões.

Essa ambição foi revelada durante o Investor Day da Prosus, realizado há um mês. Mas já vem se traduzindo há mais tempo, justamente com aquisições de grande porte, que mostram que a holding não está disposta a economizar para atingir seus objetivos.

Um dos exemplos nessa direção foi dado em fevereiro deste ano, com a compra da Just Eat Takeaway, com sede em Amsterdã, na Holanda. A transação foi fechada por € 4,1 bilhões e criou a quarta maior empresa de delivery do mundo.

Antes, em dezembro de 2024, a Prosus já havia desembolsado US$ 1,7 bilhão para adquirir a Decolar, principal agência de viagens online – ou OTA, no linguajar do setor – da América Latina. Resta saber agora se a Alelo será o próximo grande nome nesse cardápio.

Procurada, a iFood e Alelo disse que não iriam comentar.