Prestes a dar início às obras para a construção do túnel Santos-Guarujá, a Autoridade Portuária de Santos (APS) celebrou contrato com a Fundação Valenciaport (que administra o porto espanhol) para a implementação de um plano de descarbonização e um Plano Diretor Energético (PDE) para o Porto de Santos.

O objetivo do plano, que deve ficar pronto em 2026, é reduzir as emissões de gases de efeito estufa nas operações do maior complexo portuário da América Latina, o que inclui tanto as atividades da APS como dos terminais portuários, dos navios que operam no porto e dos modais de transporte ferroviário e rodoviário.

São pelo menos 20 mil caminhões que circulam diariamente pelas áreas do terminal portuário, incluindo os locais que integram os 32 contratos de arrendamento com empresas como Santos Brasil, DP World, Brasil Terminal Portuário, Eldorado Brasil, Marimex, Bracell, Copersucar, entre outras.

Para Anderson Pomini, presidente da Autoridade Portuária de Santos, o maior desafio nesse processo de descarbonização é integrar o setor privado, que opera no terminal, para trilhar essa jornada com a empresa pública, ligada ao Ministério de Portos e Aeroportos.

“Santos já é um grande destaque em termos de infraestrutura portuária, responsável pela movimentação de 30% da balança comercial brasileira. Mas essa boa estrutura traz junto a emissão de milhares de toneladas de CO². E precisamos criar ações para diminuir esse impacto”, diz Pomini, em entrevista ao NeoFeed.

“Contratamos a Fundação para fazer um inventário detalhado. Precisamos saber que porto teremos daqui a 20 anos, com eficiência, tecnologia e na busca pela transição energética”, completa.

Na segunda-feira, 27 de outubro, a APS contabilizou 120 navios atracados, sendo 65 no cais e 55 na área de fundeio - locais um pouco mais distantes dos terminais em que as embarcações aguardam autorização para avançar. Segundo a administradora, hoje só 10% dos navios do mundo estão adaptados para combustíveis não fósseis, como hidrogênio.

Mesmo ainda sem esse desenho definido, o Porto de Santos já começou a adotar ações para incentivar a prática de iniciativas sustentáveis nas operações. A principal delas está associada a um pacote de descontos nas tarifas para as empresas que registrarem menos emissões.

Portaria assinada pelo presidente da APS no início de outubro deste ano adotou uma tabela entre 4% e 20% de redução de tarifas, de acordo com o Índice de Eficiência e Sustentabilidade Portuária (IESP), elaborado pela APS.

No primeiro semestre de 2025, a gestora do Porto de Santos registra receita de R$ 1 bilhão, alta de 13,4% em relação ao mesmo período de 2024. Deste volume, R$ 300 milhões (o equivalente a 30%) vieram de tarifas portuárias.

É justamente nesse ponto que Pomini acredita que pode avançar junto às arrendatárias para conseguir, desde já, minimizar os impactos das emissões a partir de combustíveis fósseis. Para os que já possuem contrato, a ideia é incentivar. Para os novos terminais, é incluir como exigência no edital.

“No caso do Porto de Santos, a gente vem atuando nesse incentivo tarifário para minimizar esse impacto. O caminho é fazer com que toda a cadeia logística faça a adesão a este plano”, afirma Pomini.

Mesmo que essa ação possa significar, em um primeiro momento, perda de receita na rubrica de tarifas, Pomini acredita que o benefício ambiental compensa essa iniciativa.

“Como porto público, um dos nossos objetivos é oferecer essas condições para as empresas. O navio que comprova a redução na emissão de CO² obtém esse desconto para acessar nosso canal. Essa redução de receita tem o objetivo claro de ajudar a descarbonizar o terminal”, diz ele.

“Isso é um investimento. E agora queremos ampliar isso para caminhões e automóveis que trafegam pelo porto, além de integrar as cerca de 150 mil pessoas que trabalham de forma direta e indireta no Porto de Santos”, diz o presidente.

Cronograma do túnel

A própria implementação do túnel Santos-Guarujá, quando estiver pronto (previsto para 2031), deve contribuir na redução de emissões.

Segundo o executivo, dos 20 mil caminhões, cerca de 5 mil trafegam cerca de 45 quilômetros para transportar cargas das duas margens do porto (entre Santos e Guarujá). Isso representa a emissão de 70 mil toneladas de CO². Com o túnel, essa emissão deixa de existir.

No início de setembro, a construtora portuguesa Mota-Engil foi a vencedora do leilão, realizado na B3, para a construção do túnel, que terá 1,5 quilômetro de extensão, sendo 870 metros abaixo do canal do porto. O próximo passo, agora, é a assinatura do contrato que, segundo Pomini, será em dezembro. “Até janeiro de 2026 teremos o canteiro de obras implementado.”

A obra custará R$ 6,8 bilhões e será dividida entre governo federal e estadual. A empresa terá o direito de arrecadar receita a partir da cobrança de pedágio, prevista para R$ 6,15 para automóveis, R$ 3,07 para motocicletas e R$ 18,35 para caminhões.

Na quinta-feira, 23 de outubro, o Tribunal de Contas da União (TCU) solicitou um plano de fiscalização dos recursos federais que serão alocados no túnel.