À primeira vista, o balanço do segundo trimestre da BRF tinha tudo para gerar uma reação negativa no mercado. Entre outros dados, a empresa, em meio a mais um processo de reestruturação, apurou um prejuízo de R$ 1,33 bilhão no segundo trimestre deste ano ante uma perda de R$ 451 milhões em igual período do ano anterior.

Entretanto, a resposta ao resultado está indo exatamente na direção contrária de uma visão pessimista. Na terça-feira, 15 de agosto, por volta de 13h, as ações da companhia operavam com alta de 6,80%, cotadas a R$ 10,52 e liderando os ganhos na B3. A empresa está avaliada em R$ 17,6 bilhões.

À parte do prejuízo reportado pelo grupo, um dos pontos destacados por Miguel Gularte, CEO da BRF, foram os avanços registrados entre abril e junho no campo da eficiência da operação, a partir do programa BRF+, que começou a ser implantado em setembro de 2022.

“Nós evoluímos em todas as frentes do plano de eficiência com a captura de R$ 540 milhões no trimestre e de R$ 1,2 bilhão desde a implementação”, disse Gularte, em conferência com analistas. “Essa captura está vindo mais rápido do que o esperado e começa a ser refletida no nosso resultado.”

Segundo o executivo, inicialmente, a BRF projetava encerrar o primeiro semestre de 2023 com um estágio de desenvolvimento do programa entre 41% a 45%. O fim do trimestre trouxe, no entanto, um nível de 51% das ações e capturas previstas.

Ao observar que a iniciativa inclui um pacote de medidas que vai da produção ao portfólio de marcas distribuído nas gôndolas dos pontos-de-venda, o executivo elencou uma série de dados para ressaltar essas evoluções, na comparação com o segundo trimestre de 2022.

“Na agropecuária, a mortalidade de frango regrediu 1,8 ponto percentual e, na indústria, elevamos em 2,5 pontos percentuais o rendimento fabril, reduzindo em 36% as perdas do processo”, afirmou ele. “Já na logística, reduzimos as devoluções e elevamos os níveis de serviço no Brasil em 8 pontos percentuais.”

Entre outros pontos destacados na esteira dessas ações, o custo dos produtos vendidos foi de R$ 10,7 bilhões, queda de 2,2% sobre o segundo trimestre do ano passado e de 6,8% em relação ao período de janeiro a março desse ano.

Gularte citou ainda o acréscimo de 4,5 mil clientes na comparação com o primeiro trimestre de 2023 e a abertura de 15 novos destinos comerciais, com 15 habilitações para exportações na China, Japão, Cingapura, África do Sul e Argentina.

No saldo total das capturas do programa no trimestre, R$ 211 milhões vieram de ações na esfera do agronegócio; R$ 189 milhões dos ganhos de produtividade; R$ 115 milhões da redução da ociosidade e de perdas; e R$ 25 milhões dos avanços em logística.

Um follow on para dar fôlego

O CEO da BRF também incluiu nessa equação mais otimista o follow on realizado em julho, quando a empresa captou R$ 5,4 bilhões em uma oferta ancorada pela Marfrig, sua controladora, e pelo fundo saudita Salic.

“Tivemos o maior follow on do ano na América Latina”, observou Gularte. “Ele vai nos dar uma base econômica e de capitalização muito sólida para desalavancar a companhia, com a mesma eficiência que colocamos essa oferta em tempo recorde.”

No segundo trimestre, a BRF registrou um consumo de caixa de R$ 695 milhões, contra R$ 12 milhões, um ano antes. A dívida líquida cresceu 7%, em base anual, para R$ 15,2 bilhões.

Já a alavancagem da operação, medida pela relação dívida líquida/Ebitda foi de 3,75 vezes, ante 2,98 vezes, há um ano. Levando-se em conta os efeitos do follow on, a alavancagem alcançou um nível de 2,42 vezes no período.

Em relação aos recursos captados, Fabio Mariano, CFO da BRF, disse que a companhia projeta economias entre R$ 550 milhões e R$ 700 milhões na linha de despesas financeiras. E também sinalizou alguns dos possíveis passos do grupo na gestão do montante levantado na operação.

“Não estou dizendo que não vamos endereçar as operações com os bancos, mas vamos dar prioridade ao mercado de capitais”, afirmou. “Nas próximas semanas, devemos ter novidades em relação a alguns anúncios de recompra de títulos.”

O executivo disse ainda que a BRF está nos estágios finais no processo de venda dos seus ativos de pet food, mas fez uma ressalva. “A empresa não tem razão para se desfazer desses ativos por valores considerados abaixo do justo, principalmente agora depois dessa capitalização”.

Em relatório, o Itaú BBA apontou o resultado forte, com indicadores acima das estimativas, e ressaltou que o balanço é um bom ponto de partida para que a empresa navegue nas condições mais favoráveis do segundo semestre.

“A BRF já mostrou os benefícios do seu plano de eficiência, ampliando as margens em condições de mercado desfavoráveis e sem grandes ventos para impulsionar a deflação dos custos dos grãos”, escreveram os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto.

O Santander, por sua vez, destacou importantes atualizações no processo de turnaround no trimestre, como reflexo das melhorias de eficiência, além do avanço sequencial na operação brasileira, que compensou parcialmente o fraco resultado no mercado internacional.

“A percepção é de que a BRF está avançando rapidamente com suas iniciativas de eficiência, que juntas com redução da dívida bruta (ou seja, menores despesas financeiras) e um reequilíbrio iminente do mercado global de aves pode permitir uma expansão de margem no final de 2023”, observaram Rodrigo Almeida e Laura Hirata, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 12,50 para a ação.

Em outros indicadores, a BRF reportou uma receita líquida de R$ 12,2 bilhões, queda de 5,7%. Na operação brasileira, houve um ligeiro recuo de 0,6%, para R$ 6,4 bilhões, enquanto no segmento internacional, a retração foi de 0,9%, para R$ 6,05 bilhões.

No trimestre, o Ebitda ajustado registrou um recuo de 32,7%, para R$ 1 bilhão. Já a margem Ebitda ajustada saiu de 11,6%, há um ano, para 8,2%. No Brasil, o Ebitda ajustado cresceu 46,8%, para R$ 627 milhões, e na operação internacional, houve queda de 75%, para R$ 241 milhões.