O projeto de retrofit do histórico edifício A Noite, que fica no centro do Rio de Janeiro e que já foi sede do antigo jornal A Noite e da Rádio Nacional, receberá R$ 120 milhões de uma captação total de R$ 220 milhões que a Azo Incorporadora concluiu com o Bradesco.

Para mexer no primeiro arranha-céu da América Latina, a incorporadora com mais de 40 empreendimentos lançados na região de Campinas (SP) e no Rio de Janeiro acessou uma linha especial voltada a títulos verdes - além do edifício tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o recurso será utilizado para a construção de outros dois projetos imobiliários.

O edifício A Noite irá se transformar em um condomínio residencial de 450 unidades de studios, com metragem média de 40 metros quadrados (m²). Entre os detalhes sustentáveis na obra, a Azo destaca o uso de 90% de energia elétrica renovável, além do reaproveitamento de água e da implementação de um modelo de isolamento acústico.

Somente com a readaptação do prédio para uso residencial, sem a necessidade de uma construção desde o início, a Azo conseguiu reduzir em 75% as emissões de carbono, além de deixar de usar 3 mil metros cúbicos (m³) de concreto e 300 toneladas de aço.

A empresa não revela o valor geral de vendas (VGV) do empreendimento, pois 97% das unidades autônomas foram adquiridas pela Brookfield, para implementar um modelo de multipropriedade. O empreendimento deverá ser entregue no segundo semestre de 2027.

“A empresa realizou mudanças na governança, com a chegada de profissionais do mercado, e esse tema passou a ser diretriz da companhia. A partir disso, a Azo passou a construir somente empreendimentos sustentáveis”, diz Bruno Mota, superintendente de negócios e finanças da Azo, em entrevista ao NeoFeed.

Desde então, a incorporadora já concluiu um empreendimento neste novo formato, que fica em Campinas. As medidas adotadas garantiram à incorporadora a obtenção da certificação Excellence in Design for Greater Efficiencies (Edge), sistema internacional criado pela International Finance Corporation (IFC), membro do Banco Mundial.

O Bradesco atuou tanto na concessão do título verde como participou da concepção do framework, ou seja, com a orientação e o estabelecimento de critérios sobre como os recursos captados por meio de títulos verdes seriam aplicados em projetos com impacto ambiental positivo.

“Um dos pilares de atuação do banco está em negócios sustentáveis. Monitoramos a evolução dos clientes, principalmente a estratégia de sustentabilidade. E o segmento imobiliário é um dos mais relevantes”, afirma Fabiana Costa Tolentino, superintendente de sustentabilidade do Bradesco.

O banco tinha uma meta inicial de direcionar R$ 250 bilhões em recursos para negócios sustentáveis no Brasil entre 2021 e dezembro de 2025. Mas, em maio do ano passado, esse marco foi alcançado e o banco adicionou mais R$ 100 bilhões até o fim deste ano.

“Mantivemos esse prazo de dezembro justamente porque a taxonomia sustentável está em vias de ser lançada. Então, não faria sentido estabelecer uma meta por um período maior sem entender esses critérios”, afirma Tolentino.

Bruno Mota, superintendente de negócios e finanças da Azo

Além do residencial na região central do Rio de Janeiro, os recursos obtidos via Bradesco pela Azo também vão garantir a construção do conjunto Casa da Mata, condomínio fechado com 60 casas, em Campinas, com metragem entre 190 m² e 210 m².

Do financiamento obtido, o residencial receberá R$ 57 milhões. O VGV do residencial na cidade do interior paulista é de R$ 180 milhões.

O terceiro empreendimento é o Insigna Península, na Barra da Tijuca, também no Rio de Janeiro. Com R$ 42 milhões destinados do empréstimo do Bradesco, a construção no bairro de alto padrão carioca tem um VGV estimado de R$ 200 milhões. São 39 unidades de alto padrão, com 330 m².

A exemplo do edifício A Noite, os outros dois empreendimentos da Azo Incorporadora devem ser entregues segunda metade de 2027. E, ao contrário do modelo do edifício no centro do Rio, o Casa da Mata e o Insigna Península são projetos greenfield (construção desenvolvida do zero).

Em uma espécie de modelo "carimbado", os valores aos empreendimentos são liberados diretamente para cada Sociedade de Propósito Específico (SPE) responsável pela obra.

Com landbank (banco de terrenos para futuras construções) que atingem VGV de cerca de R$ 500 milhões, a Azo deve seguir com projetos imobiliários no Rio de Janeiro, especialmente na região central. No mês que vem, a empresa lança um residencial no bairro Ipanema, perto do Arpoador.

“A legislação no Rio de Janeiro, muito mais clara que a de São Paulo, por exemplo, facilitou a implementação de empreendimentos no centro, justamente para revitalizar a região. Há uma avenida muito grande de crescimento. Estamos com pé no acelerador na cidade”, diz Mota.