Em janeiro de 2023, quando o rombo contábil de mais de R$ 20 bilhões da Americanas se tornou público, uma das empresas que ficou na berlinda foi o da PwC. Agora, a companhia, uma das “big four” de auditoria, está novamente sob os holofotes. Mas em outro país e num escândalo ainda maior.

A bola da vez que está colocando o nome da empresa em jogo é o caso da Evergrande, incorporadora que, em 2021, foi o estopim da crise imobiliária na China e da onda de calotes do setor no país. E que, em janeiro deste ano, teve sua liquidação decretada por um tribunal de Hong Kong.

No capítulo mais recente desse caso, o grupo foi multado na última quarta-feira em US$ 580 milhões pela Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC), sob a acusação de que o Hengda Real Estate Group, uma de suas empresas, inflou suas receitas em cerca de US$ 78 bilhões, em 2019 e 2020.

Nesta sexta-feira, em mais um desdobramento dessa história, a agência Bloomberg informou que a CSRC está investigando o papel da PwC nesse episódio. As autoridades estão conversando com profissionais da empresa que atenderam a Evergrande. Mas ainda não há uma decisão sobre sanções.

“A verificação desse tipo de distorções é uma das rotinas de auditoria mais básicas”, afirmou Richard Murphy, professor de práticas contábeis da Universidade de Sheffield, à Bloomberg. “O risco para a reputação da PwC, não apenas na China, mas de forma mais ampla, é muito real.”

Na prática, a Evergrande registrava receitas de vendas contratadas antes de concluir e entregar seus projetos aos clientes. A empresa começou a ter problemas de fluxo de caixa em 2021 e, no fim do mesmo ano, deixou de cumprir suas obrigações, com mais de US$ 300 bilhões em débitos.

Embora boa parte da culpa seja atribuída a Hui Ka Yan, fundador da Evergrande, o fato de o grupo estar com sua falência decretada em Hong Kong pode respingar na PwC. Na tentativa de recuperar recursos dos credores, esse processo pode passar por pedidos de indenização junto à firma de auditoria.

Ainda em Hong Kong, a PwC também está sendo investigada pelo Financial Reporting Council por não ter identificado a capacidade da Evergrande de seguir com sua operação. O processo cobre os dados da incorporadora nos anos de 2020 e de 2021.

Os riscos da empresa não se restringem, porém, a Evergrande. Segundo dados compilados pela Bloomberg, entre as “big four”, a PwC foi a mais atuante entre as incorporadoras chinesas durante o boom imobiliário no país.

Nessa carteira, a empresa atendeu nomes que, posteriormente, também deixaram de pagar suas dívidas, como Country Garden e Sunac. Ainda não está claro, porém, se essas e outras incorporadoras tiveram práticas semelhantes a Evergrande.

O alvo das autoridades chinesas não está, porém, centrado apenas na PwC. Em 2023, por exemplo, a Deloitte foi multada em 212 milhões de yuans e teve as operações do seu escritório suspensas por três meses por “sérias deficiências de auditoria” na estatal China Huarong Asset Management.

No caso da PwC, a investigação da CSRC só agrava um cenário que, além da China, já inclui escândalos e problemas em outros mercados. Um exemplo é a Austrália, onde a empresa foi acusada de divulgar planos fiscais confidenciais do governo a clientes.

Já no Reino Unido, em março de 2023, o grupo foi multado em 7,5 milhões de libras esterlinas (US$ 8,9 milhões) por falhas e “violações graves” na auditoria do Babcock International Group, referente aos anos de 2017 e 2018.

No Brasil, a PwC também está no centro de processos administrativos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apurar, entre outras questões, eventuais irregularidades em sua atuação no caso da Americanas. O grupo era o responsável por auditar os balanços da varejista desde 2019.