Quando o Google anunciou a criação da Alphabet, em agosto de 2015, os objetivos eram claros: separar o negócio principal, que manteria a bandeira pela qual a empresa ficou conhecida, das operações que ainda figuravam como apostas. E, dessa forma, dar mais autonomia a cada negócio, bem como mais visibilidade e transparência ao mercado.
Nessa configuração, os fundadores Larry Page e Sergey Brin passaram a desempenhar um papel mais estratégico. Enquanto o Sundar Pichai, um nome já bem conhecido internamente, assumiu como CEO do Google.
Desde então, Pichai tornou-se uma figura carimbada também fora das fronteiras de Mountain View, sede da holding na Califórnia. E agora, passados pouco mais de quatro anos, o executivo indiano passa a ser, de fato, o número um de toda a operação da gigante de tecnologia.
A Alphabet anunciou hoje que Page e Brin estão deixando os cargos de CEO e presidente, respectivamente, da Alphabet. Eles serão substituídos por Pichai, que passa a acumular as duas funções com o posto de CEO do Google. Segundo a holding, "a dupla seguirá ativa como cofundadores, acionistas e membros do Conselho de Administração”.
“Estou ansioso para seguir trabalhando com Larry e Sergey em nossos novos papéis”, afirmou Pichai, em nota. “Graças a eles, nós temos uma missão atemporal, valores duradouros e uma cultura de colaboração e exploração. É uma base sólida sobre a qual continuaremos construindo.”
A rasgação de seda foi mútua. Em uma carta na qual oficializou a saída de cena, a dupla, também conhecida como “Google Guys”, teceu uma série de elogios a Pichai. “Sundar traz humildade e uma profunda paixão por tecnologia para nossos usuários, parceiros e funcionários todos os dias”, afirmaram. “Não há pessoa melhor para liderar o futuro do Google e da Alphabet.”
Page e Brin classificaram ainda a transição como um movimento natural. E comparam a empresa, fundada por eles em 1998, com um jovem de 21 anos. “Nós acreditamos que é hora de assumir o papel de pais orgulhosos. Oferecendo conselhos e amor, mas não incomodando e dando broncas diariamente.”, escreveram.
Logo após o anúncio, as ações da empresa, dona de um valor de mercado de US$ 892 bilhões, subiram menos de 1% no after market da Bolsa de Nova York.
Linha de frente
Pichai, 47 anos, é formado em engenharia pelo Indian Institute of Technology e cursou o MBA na Wharton School, além de fazer seu mestrado na Universidade de Stanford. Com essas credenciais, ele ingressou no Google em 2004, logo após a abertura de capital da empresa. E assumiu posições-chave na companhia.
Em sua escalada dentro do Google, ele liderou as áreas de engenharia e de produtos de praticamente todas as linhas do portfólio da gigante de buscas. Com destaque para frentes como o navegador Chrome e o sistema operacional Android.
Pichai liderou as áreas de engenharia e de produtos de praticamente todas as linhas do portfólio do Google
Desde que passou a ocupar o posto de CEO do Google, Pichai tem renovado os esforços para manter a relevância dos serviços mais conhecidos, além de comandar a abertura de novas frentes. Em destaque, conceitos como inteligência artificial e computação quântica. E o ganho de presença em segmentos como serviços financeiros e os dispositivos vestíveis.
Na prática, o executivo indiano já era o responsável por boa parte das receitas da Alphabet. No terceiro trimestre, a holding faturou US$ 40,5 bilhões. Desse montante, apenas US$ 155 milhões foram receitas relacionadas a outros produtos e serviços, fora do escopo do Google.
Essa linha ainda pouco representativa dos negócios inclui operações que estão ganhando tração e que foram destacadas na carta de Brin e Page. A lista passa por startups como a Waymo, de carros autônomos, a Calico, de genética, e a Wing, de serviços e entregas via drones.
Ao mesmo tempo, Pichai já vinha sendo o nome na linha de frente de uma série de desafios da empresa. Entre eles, as acusações de negligência da companhia ao lidar com denúncias de assédio sexual. Bem como os diversos casos envolvendo questões regulatórias relacionadas à atuação do grupo, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.
“Sergey e Larry não são as melhores pessoas para lidar com isso. Os dois são bastante reclusos e não gostam de batalhas públicas”, disse, ao NeoFeed, Vivek Wadhwa, professor da Carnegie Mellon University. “Então, eles deixaram esse papel para Sundar, que se mostrou um líder muito forte e capaz. Ele se provou para Larry e Sergey. E é por isso que eles estão saindo completamente do seu caminho.”
Analista da consultoria americana Endpoint Technologies, Roger Kay entende que não se trata de uma grande ruptura. Para ele, Brin já estava fora do dia-a-dia e Page estava cada vez menos envolvido.
“Sundar administra o negócio principal há vários anos e fez um bom trabalho. Ele é calmo e racional, e adota uma postura equilibrada”, afirma Kay. O analista faz, no entanto, uma ressalva. “Ele está tendo algumas dificuldades com a cultura corporativa. E eu vejo mais desafios nesse sentido no futuro.”
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