Os Exchange Traded Funds (ETFs) vêm ganhando espaço no portfólio de gestoras como parte da oferta de diversificação de ativos. Nos últimos dois meses, Avenue, Galápagos e BlackRock lançaram novos fundos de índice listados em bolsa para os investidores brasileiros. Agora, quem aumenta essa lista é a Rio Bravo Investimentos.
Cofundada por Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e com R$ 13 bilhões em ativos sob gestão, a gestora anuncia nesta terça-feira, 21 de outubro, uma parceria com a Investo para o lançamento de seu primeiro fundo ETF.
Com o ticker QLBR11, o ETF da Rio Bravo vem para atender à demanda dos investidores por exposição à renda variável, inaugurando uma nova fase na gestora de quase 25 anos, na qual esses ativos prometem ganhar espaço na prateleira de investimentos.
“O mercado de ações no Brasil está com uma participação baixa na carteira dos investidores, seja do varejo ou do institucional, mas isso está começando a mudar”, afirma Evandro Buccini, sócio e diretor de crédito da Rio Bravo Investimentos, ao NeoFeed. “Essa onda de crescimento deve ser desproporcionalmente a favor dos ETFs, que já vêm em tendência de alta.”
O QLBR11 foi estruturado em um modelo de cogestão, o primeiro acordo do tipo firmado pela Investo, que desde 2021 tem ganhado espaço no mercado brasileiro de ETFs. Atualmente, a gestora conta com quase R$ 4,5 bilhões em ativos sob gestão em 26 fundos de índice. Neste formato, a Rio Bravo ficou responsável pela tese e a Investo pela parte operacional.
O fundo segue o MarketVector Brazil Multifactor Quality Index, um indicador cujo conceito e regras foram desenvolvidos pela Rio Bravo para considerar o desempenho das companhias com base em critérios de liquidez, eficiência operacional, lucratividade e solidez financeira.
Em sua seleção, o índice leva em conta empresas com bons indicadores de eficiência (margens bruta, EBITDA e líquida), rentabilidade (ROE, ROA, ROIC e suas tendências) e alavancagem baixa. Ele também considera nomes com múltiplos de P/L mais atrativos, baixa volatilidade e alta capitalização.
Entre as dez maiores posições do ETF no momento estão Bradespar, Cyrela, ISA Energia, CPFL, BRF, Prio, XP e Itaúsa, com pesos que variam de 3,09% a 6,48% – o rebalanceamento da carteira é feito trimestralmente. Segundo simulações, o QLBR11 acumula alta de 34,6% no ano, superando o Ibovespa, que avançou cerca de 21,6%.
A Rio Bravo começou a olhar para o mercado de ETFs na pandemia, tentando estruturar produtos para a parte de renda fixa, mas não foi adiante. Há um ano e meio, veio a ideia de seguir com um ETF de renda variável, como forma de retornar para essa classe de ativo, mercado que a gestora deixou de olhar há quase sete anos por conta da onda de saques nos fundos de ações.
Um dos pontos que atraiu a Rio Bravo foi o fato de os ETFs serem um produto relativamente simples, de amplo alcance e mais barato que um fundo de gestão ativa – o QLBR11 possui uma taxa de administração de 0,50% e cota de R$ 100.
Segundo Buccini, o ETF é a melhor forma de atrair um público que pensa em voltar à Bolsa, mas que se “machucou nos ciclos malucos” dos últimos anos ou ainda não teve experiência em renda variável, por ser um veículo simples de operar e mais barato que fundos.
“O mais lógico é que esses investidores entrem com ETF, porque ele pode ser vendido rapidamente em dois dias, enquanto num fundo vai demorar 30 dias, 60 dias”, afirma ele. “Neste momento de mercado, da volta do crescimento da parcela de ações na carteira de ações dos investidores brasileiros, ela vai se dar em ETF num primeiro momento.”
ETFs em alta
Essa ideia de “simplicidade” vem combinada com dados mostrando que os ETFs vêm ganhando aderência entre os investidores, chamando a atenção de gestoras tradicionais.
Mesmo representando menos de 1% da indústria de fundos, que tem mais de R$ 10 trilhões sob gestão, os ETFs vêm crescendo. Veículos negociados em Bolsa acumulam entrada líquida de R$ 6,25 bilhões em 2025, revertendo as saídas de R$ 314 milhões registradas no biênio anterior, segundo levantamento da Quantum para o NeoFeed.
Dados da B3 apontam que até setembro deste ano, o número de investidores aumentou 18%, considerando todos os tipos de produtos, para 841 mil. Em relação a cinco anos, o número é praticamente o triplo.
Esses números têm estimulado a chegada de um número maior de players. No começo de outubro, a Galapagos Capital anunciou sua estreia no setor com o lançamento de um fundo de renda fixa lastreado em Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Antes, a Avenue havia anunciado a oferta de ETFs UCITS, fundos de exposição internacional tributariamente mais eficientes.
Maior gestora global do mercado de ETFs, administrando cerca de US$ 5 trilhões em fundos de índice no mundo, a BlackRock projeta um crescimento acelerado desses ativos no Brasil. Em setembro deste ano, a empresa listou, na B3, 29 ativos de sua base global por meio de BDRs, elevando sua grade para 181 produtos.
Para Cauê Mançanares, CEO da Investo, a parceria com a Rio Bravo e a aposta em renda variável, segmento até então deixado de lado pelo mercado, devem ajudar a Investo a manter a toada de crescimento no médio prazo, considerando que deve fechar o ano cumprindo a meta de atingir R$ 5 bilhões sob custódia.
“Cerca de 25% do dinheiro novo em ETF veio para a Investo no acumulado do ano”, afirma Mançanares. “Estamos vendo bastante fluxo para a renda fixa e na parte internacional, mas acredito que a Bolsa brasileira é o próximo segmento em que isso vai acontecer. E quando a gente fala em renda variável, ter uma gestora como a Rio Bravo nos posiciona bem, permitindo construir um amplo leque de produtos sofisticados.”
Pelo lado da Rio Bravo, o QLBR11 abre caminho para ampliar o portfólio, que conta atualmente com 40 fundos. “Temos outras teses que gostaríamos de desenvolver, tanto de ações locais, com complemento do QLBR11, quanto de outras classes de ativos. É o próximo capítulo da nossa parceria com a Investo”, diz Buccini.