Fundada em 1989, em Uberlândia (MG), a Sankhya “corre por fora” na disputa dos softwares de gestão empresarial com companhias brasileiras listadas como a Totvs e multinacionais como SAP e Oracle. Mas isso não significa que, mesmo fora do eixo, falta fôlego para a empresa avançar nesse espaço.
Em 2021, após um aporte de R$ 425 milhões do GIC, fundo soberano de Cingapura, a companhia fez oito aquisições para encorpar sua oferta. E agora, está reforçando essa conta com a gaúcha Flowbiz (ex-Mailbiz), de marketing e automação digital para o e-commerce, em seu primeiro acordo de 2025.
A Sankhya não revela os termos financeiros da transação, que envolveu a compra de uma fatia majoritária e cujo fechamento foi adiantado com exclusividade ao NeoFeed. Mas traduz, em números, como está disposta a seguir movimentando sua esteira de M&As.
“Temos R$ 200 milhões para seguir fazendo aquisições até 2026”, diz André Britto, CFO da Sankhya. “A combinação de geração de caixa com o aporte do GIC nos dá recursos suficientes para continuar nessa pegada de dois a três acordos por ano sem necessidade de levantar capital no curto prazo.”
Nona aquisição desse pacote, a Flowbiz entrou no radar da Sankhya em 2023, como parte da tese da companhia de complementar seu portfólio com novas ofertas integradas aos seus sistemas de EPR e CRM. A empresa gaúcha decidiu, porém, não dar continuidade a essa primeira conversa.
“Naquele momento, nós ainda estávamos um pouco mais imaturos em termos de produto e tecnologia”, diz Vinícius Correa, fundador e CEO da Flowbiz. Essa imaturidade, na verdade, estava relacionada a uma evolução do portfólio com o qual a companhia ganhou corpo.
Fundada em 2012, em Santa Cruz do Sul (RS), a empresa nasceu no segmento de e-mail marketing, o que explica seu nome de batismo. Mas, com o tempo - e a ascensão de outros canais além do e-mail - trouxe mais ferramentas para auxiliar nas vendas, fidelização e retenção de clientes para o e-commerce.
Hoje, isso envolve, por exemplo, recursos automatizados, baseados em dados segmentados como histórico de compra e navegação, para abordar o cliente. Seja para uma ativação, um push ou mesmo a recuperação de um carrinho abandonado numa compra. E em diferentes canais. Entre eles, o WhatsApp.
“Basicamente, nós ajudamos o e-commerce a vender mais”, afirma Correa. “Porque o tráfego pago está cada vez mais caro. Se uma loja depende só disso, normalmente, ela não sobrevive. A lucratividade do comércio eletrônico está na recompra e na frequência.”
Com essa evolução, a empresa alcançou uma base de 1,1 mil clientes, que inclui nomes como Brooksfield, Zelo, Tea Shop e Guess Brasil. E entendeu que estava pronta para voltar a conversar com a Sankhya. E também, para mudar de nome, adotando, a partir da aquisição, a marca Flowbiz.
“Nós gostamos da tese de ecossistema da Sankhya e percebemos que podíamos suprir a demanda dessa ponta que faltava na oferta da empresa”, diz Correa. “E, ao mesmo tempo, eles abrem portas para novas verticais, além do e-commerce, e novas fontes de receita.”
Com uma participação de 30% na base de 25 mil clientes da Sankhya, as indústria serão um dos proáveis destinos dessa ampliação de escopo. “O marketing digital é uma dor grande dos nossos clientes. Incluindo as indústrias, que, cada vez mais, estão vendendo diretamente para o cliente final”, diz Britto.

Em paralelo, a possibilidade de vendas cruzadas, dado que há pouca sobreposição na base de clientes das duas empresas, é um dos racionais sob a ótica da Sankhya. Assim como a oportunidade de ampliar sua presença no varejo – hoje, na faixa de 10% da sua carteira.
Em busca dessas sinergias, Correa e todo o time de aproximadamente 80 profissionais da Flowbiz serão integrados como um braço da unidade de negócios da Ploomes na Sankhya, que reúne ofertas como CRM. Assim como os processos de back office da operação.
No portfólio, além de fazer as integrações com o CRM e o ERP até o fim de 2025, os planos passam por frentes como conclusão da construção de uma plataforma de dados unificada para a Flowbiz e a adição de recursos de inteligência artificial – uma área já em avanço na Sankhya – às ofertas da empresa.
M&As na conta
Enquanto desenvolve esses projetos, a Sankhya segue mapeando o mercado em busca de novas aquisições. Sempre sob a estratégia de complementaridade, esse escopo inclui, por exemplo, uma empresa com sistemas de logística e uma companhia com softwares na área de recursos humanos.
“Temos um pipeline para concluir pelo menos mais uma ou duas transações esse ano”, diz Britto. “Poderíamos fazer mais, mas nós entendemos que esse volume é o ideal, porque conseguimos fazer as integrações na melhor forma.”
Ele acrescenta que os M&As são uma das vias da Sankhya para alcançar a meta de superar a marca de R$ 1 bilhão em faturamento até 2026. Mas não revela qual é o patamar atual da receita bruta. No último número divulgado pela empresa, de 2022, essa cifra foi de R$ 294 milhões.