Nesta semana, a suspensão das exportações de carne bovina brasileira para a China, após a confirmação de um caso de doença da “vaca louca” no Pará, impactou as ações dos frigoríficos locais listados na B3. Entre eles, a Minerva, que viu seus papéis caírem 4,6% entre a sexta-feira, 17 de fevereiro, e o pregão de ontem, dia 23 de fevereiro.

Ainda não há uma perspectiva de um ponto final para o autoembargo imposto pelo Ministério da Agricultura, como parte dos protocolos firmados com a China. Mas, a princípio, ao menos no que diz respeito à Minerva, a expectativa é de que os efeitos negativos do caso já estejam precificados.

“A questão não é ter o problema e sim, como o Brasil tem tratado o problema. E o Ministério da Agricultura tem sido extremamente diligente”, disse Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva, em conferência com analistas na manhã desta sexta-feira.

“Já há uma prova de que o caso foi atípico e estamos esperando a contraprova na semana que vem mostrando que não há nenhum efeito”, prosseguiu o executivo. “Então, com essa contraprova e a missão brasileira indo para a China, não esperamos nenhum grande impacto nas exportações.”

O histórico recente em casos semelhantes envolvendo suspensões nas exportações para a China mostra que não há como estimar um prazo para a liberação. Em 2021, por exemplo, o embargo durou mais de cem dias. Já em 2019, o período foi bem mais curto, de 13 dias.

Apesar dessa indefinição da extensão da suspensão das exportações para o país, Edison Ticle, diretor de relações com investidores e de finanças da Minerva, ressaltou que a empresa tem condições de seguir com os embarques para o mercado chinês.

“Nosso footprint diversificado nos permite atender a China através das operações de outros países, como Argentina e Uruguai”, afirmou. O executivo também comentou sobre as perspectivas de retomada no mercado chinês, após o fim da política de Covid zero no país.

“Esse processo está ganhando força semana a semana, com o food service, a volta do turismo e outros fatores acelerando o consumo e pressionando o nível de estoque de carne bovina, que está em níveis bastante reduzidos”, disse. “Vemos uma retomada gradual, com aceleração de volumes e preços, especialmente a partir do segundo trimestre.”

Como parte das boas perspectivas para o ano e, em suas palavras, até para “contrabalancear” as preocupações quanto aos efeitos dessa suspensão, Queiroz citou como ponto positivo as informações da provável abertura das exportações de carne bovina brasileira para o México.

“O México é um dos grandes importadores de carne e um grande importador dos Estados Unidos”, disse. “Então, especialmente com a situação que o mercado americano está vivendo, de redução de rebanho, o país passa a ser mais uma opção para o Brasil e a América do Sul manterem o crescimento de share dos últimos anos.”

Resultado

Entre outubro e dezembro, a Minerva teve um prejuízo de R$ 25,7 milhões, contra o lucro líquido de R$ 150,3 milhões reportado em igual período, um ano antes. A empresa ressaltou que o resultado reflete o impacto negativo de R$ 198,4 milhões relativo a instrumentos financeiros de proteção cambial (hedge).

Já no que diz respeito ao ano consolidado de 2022, o frigorífico brasileiro registrou um lucro líquido de R$ 655,1 milhões. O montante representou um crescimento de 9,4% sobre o valor divulgado em 2021.

No quarto trimestre, a receita bruta recuou 8,2%, para R$ 7,3 bilhões, enquanto no consolidado de 2022, avançou 15,1%, para R$ 32,8 bilhões. No ano, o faturamento no mercado externo cresceu 16,8%, para R$ 22,5 bilhões, e 11,7% no mercado interno, para R$ 10,3 bilhões.

Já a receita líquida teve uma retração de 8,9% no último trimestre do ano, para R$ 6,8 bilhões. Em 2022, por sua vez, o indicador trouxe um salto de 14,9%, para R$ 30,9 bilhões.

O Ebitda teve queda de 17,4% entre outubro e dezembro, para R$ 607,5 milhões. Mas cresceu 17,6% em 2022, para R$ 2,8 bilhões. A margem Ebitda ficou em 8,9% no trimestre, contra 9,8% no mesmo intervalo de 2022. No ano, a margem Ebtida evoluiu de 8,9% para 9,2%.

As ações da Minerva estavam sendo negociadas com queda de 4,4% por volta das 10h32 na B3. Em 2023, os papéis da companhia, avaliada em R$ 6,7 bilhões, registram uma desvalorização de 12,9%.