Os próximos 10 dias podem ser decisivos para o futuro da Braskem. Esse é o prazo final estabelecido pela Unipar para a aquisição da maior produtora de resinas termoplásticas no Brasil e nas Américas. Em meio a essa indefinição, o Santander retomou a cobertura da empresa com o alerta de que tanto os fundamentos fracos como as discussões do M&A prejudicam o desempenho do papel no curto prazo.

Para os analistas do setor petroquímico do banco, Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz, o preço-alvo neste ano é de R$ 30 (praticamente sem upside visto que o papel vem sendo negociado ao redor de R$ 28). Para o ano que vem, eles projetam a ação a R$ 35.

O extenso período de discussão sobre o M&A vem impedindo outras leituras sobre a Braskem. Para os analistas, os esforços da Novonor para vender a participação na petroquímica estão cercada de imprevisibilidades para os investidores minoritários pelo risco de não receber o tag along (mecanismo de proteção que garante uma oferta próxima a dos majoritários).

“Caso a Petrobras exerça seu direito de preferência (conforme o acordo de acionistas), nossa interpretação do estatuto sugere que os acionistas minoritários não teriam direitos de tag along”, escreverem os analistas. “Embora acreditemos ser improvável que a Petrobras exerça, também reconhecemos que o negócio pode não acontecer, o que nos deixa hesitantes em assumir uma posição firme sobre o assunto”.

A estrutura societária da Braskem tem a Novonor com 50,1% do capital votante e a Petrobras com 47%. Das ações em circulação, 25,6% estão com minoritários.

Os analistas complementam: “Mas se a Petrobras exercer seu direito de preferência, ou se houver situação sem acordo, a ação pode ter uma queda de curto prazo devido à sua rica avaliação de 10,2 vezes o EV/EBITDA (valor da empresa sobre a geração de caixa) contra a média histórica de, aproximadamente, 7,5 vezes para ciclos baixos”

Além de toda essa incerteza, o Santander enxerga uma queima de caixa significativa em 2023. O que vai apertar a companhia são os pagamentos relacionados ao processo ambiental que corre em Alagoas. A Braskem deve pagar indenizações em razão de um incidente na unidade de cloro soda da companhia, o que provocou o afundamento em determinados bairros de Maceió.

“Isso pode levar a uma queima de caixa de aproximadamente US$ 630 milhões em 2023. Calculamos que isso pode se traduzir em alavancagem atingindo 4,8 vezes a dívida líquida/EBITDA no ano, sem considerar dividendos”, alertam os analistas do Santander.

Para o investidor, as possibilidades de upside da ação da Braskem são o compromisso de tag along na oferta de aquisição, além de melhorias rápidas que não estão sendo consideradas neste momento.

Por outro lado, os riscos estão na continuidade desse processo de venda do ativo não ser concluído e uma demanda abaixo do esperado. As avaliações das agências de classificação de risco, com um possível rebaixamento de rating, podem pesar sobre a empresa.

Às 12h30, a ação da Braskem estava sendo negociada a R$ 28,28 na B3. O papel está em alta de 18,7% neste ano, mas a queda acumulada em 12 meses é de 24,3%. O valor de mercado da companhia é de R$ 23,1 bilhões.