O cenário estressado do crédito privado parecia indicar que a Sequoia teria problemas para alcançar a sua reestruturação financeira. Com endividamento de R$ 700 milhões e uma alavancagem que chegou a 7,6 vezes a relação dívida líquida sobre Ebitda no primeiro semestre, a companhia de logística chamou os debenturistas e as instituições financeiras para sentar à mesa e renegociar.
Entre 14 horas e 16h30 desta quarta-feira, 4 de outubro, uma assembleia geral online com 98% dos detentores do título da dívida de R$ 300 milhões da Sequoia, emitido em dezembro de 2022, tiveram de tomar duas decisões: as condições de conversão dessa debênture antiga em um novo título e o esvaziamento e a repactuação desse papel.
A primeira pauta do dia era conseguir a aprovação dos debenturistas para a transformação deles de credores em acionistas. Explica-se: desde 19 de setembro a Sequoia lançou a oferta pública de uma nova debênture que transforma o título antigo, que paga principal e juros, em um novo que faz a conversão mandatória do papel em ações até o fim de 2024.
Essa nova debênture está dividida em duas séries: a primeira é a emissão de até 300 mil novos títulos de dívida (equivalentes a R$ 300 milhões), com a subscrição sendo feita através da troca dos antigos títulos por novos. E a segunda série é a subscrição de até 100 mil debêntures (R$ 100 milhões), que colocará dinheiro novo no caixa da companhia.
O NeoFeed apurou que, nos últimos dias, o management da Sequoia vinha se desdobrando para convencer esses debenturistas a aceitar a sua proposta. Com Capitânia, BB Asset e Riza, que detém quase 55% dos títulos da dívida, como líderes dessas conversas, a proposta de conversão, que começou em 1,25 por ação, terminou em 1,10 por ação.
Nessa primeira pauta levada à assembleia, a Sequoia conseguiu 94% de aprovação do quórum (eram necessários dois terços dos presentes).
Mas, como a dívida não cabe no balanço da empresa de logística, a segunda pauta do dia era mais delicada. A companhia queria esvaziar a debênture atual, ou seja, fazer uma repactuação dos prazos e condições de pagamento e prêmios do título.
Com prazo de cinco anos (pagamento de juros desde o início, mas dois anos de carência para o principal), a proposta da Sequoia era tornar a debênture emitida em 2022 desinteressante para o investidor que não aderir à conversão.
A ideia era conseguir esticar o pagamento do principal e do juro e não ter a possibilidade de nenhum credor pedir o vencimento antecipado desses títulos (covenant).
De uma aprovação mínima necessária de 90% para a repactuação, a Sequoia conseguiu 91,5% de adesão e esvaziou o papel. A companhia também vai converter esse título de CDI+2,75% em CDI “careca” (expressão utilizada no mercado quando não se tem prêmio embutido). A economia estimada para o caixa da empresa será de R$ 50 milhões ao ano sem esse prêmio.
Além disso, a Sequoia atingiu o seu objetivo de alongar o pagamento com o chamado 3 com 3, sendo os três primeiros anos de carência, e o bullet principal só no ano seis.
“Os termos e condições foram interessantes para os credores, com opção de equity”, diz Arturo Profili, sócio-fundador e diretor de gestão da Capitânia Investimentos.
O debenturista acrescenta que ao longo desse processo houve uma construção de confiança entre as partes. A gestão da empresa escolheu o olho no olho com todos os envolvidos e não procurou consultorias ou advisors. “Eles não procuraram esticar a corda”, diz Profili.
As duas próximas etapas
Essa assembleia geral dos debenturistas foi a primeira de três etapas do processo de “pivotagem” financeira da empresa de logística. A segunda termina na semana que vem, com o encerramento da oferta pública da nova debênture na terça-feira, 10 de outubro, com posterior liquidação da operação na sexta, 13.
Reforçando que a primeira e a segunda etapa estão interligadas. A condicionante para a repactuação da debênture antiga é que ocorra uma adesão mínima de dois terços, ou seja, R$ 200 milhões na primeira série da nova debênture. Para a segunda série, é necessária a subscrição integral dos R$ 100 milhões.
O quórum na assembleia e as aprovações conquistadas pela Sequoia são um indicativo que a empresa não deverá ter problema para atingir esses números mínimos.
O último passo para concluir essa reengenharia financeira é a renegociação da dívida bancária de R$ 400 milhões com as instituições financeiras. O Banco ABC e o Santander detêm quase 60%.
O NeoFeed apurou que a Sequoia vai propor aos bancos condições muito semelhantes às feitas aos debenturistas. Há um memorando de entendimento entre as partes, mas as negociações ainda não estão encerradas.
A ideia é conseguir a conversão de, aproximadamente, dois terços da dívida bancária em ações e um alongamento do prazo, que deve ficar entre seis e sete anos.
Ao final, a Sequoia deve carregar no balanço “apenas” R$ 200 milhões a R$ 250 milhões em dívida, sem nenhum obrigação pelos próximos três anos.
Esse fôlego financeiro, que internamente é visto como uma correção da distorção de capital da companhia, permite à Sequoia vislumbrar uma reestruturação nos anos de 2024 e 2025 com uma estabilização somente em 2026. É nesse período que a empresa de logística quer apresentar os mesmos números que tinha em 2021.
“Os credores apoiaram, mas vamos acompanhar direitinho se as profecias estão se concretizando”, diz Profili. “O próximo capítulo dessa história são os próximos 15 meses para saber se tudo se encaixa, com melhora de margem, faturamento e geração de caixa.”
Com valor de mercado de R$ 107,6 milhões, a ação da Sequoia estava em queda de 82,3% no ano. Em 12 meses, o recuo era de 91,5% até quarta-feira, 4 de outubro.
Procurada pelo NeoFeed, a Sequoia não quis se pronunciar.