Às vésperas da posse do novo presidente dos EUA, Donald Trump, que ocorre na próxima segunda-feira, 20 de janeiro, uma dúvida ronda os 170 milhões de americanos usuários do TikTok, a rede social chinesa que pertence a ByteDance – será possível acompanhar pelo aplicativo a prometida “dancinha” de Trump em algum momento da cerimônia de posse?

A expectativa cresceu nesta sexta-feira, 17 de janeiro, depois que a Suprema Corte americana rejeitou, por unanimidade, um recurso apresentado pelo TikTok que visava a adiar a aplicação de uma lei de desinvestimento, aprovada em abril do ano passado pelo Congresso americano, exigindo que a ByteDance venda suas operações no país para um proprietário não-chinês até o próximo domingo, 19 de janeiro, véspera da posse de Trump.

Autoridades americanas têm repetidamente levantado preocupações sobre os laços do TikTok com a China. A lei exigindo a venda no país se deve à suspeita de que o governo chinês possa manipular o conteúdo do aplicativo, usá-lo para espalhar desinformação ou obter acesso a dados confidenciais dos usuários nos EUA.

De acordo com comunicado da Suprema Corte, “o Congresso determinou que a alienação é necessária para abordar suas preocupações bem fundamentadas de segurança nacional em relação às práticas de coleta de dados do TikTok e ao relacionamento com um adversário estrangeiro.”

Com o anúncio da decisão, a 48 horas do prazo final, uma grande nuvem de incerteza passou a cercar o caso, pois não há nenhuma negociação conhecida de venda do TikTok – a quinta maior rede social do mundo, com 1,6 bilhão de usuários. Só nos EUA, seus seguidores gastam em média 53,8 minutos por dia no TikTok.

A legislação aprovada exige que lojas de aplicativos, como as administradas pela Apple e Google, parem de distribuir o TikTok, sob pena de pagar multas de até US$ 5.000 por usuário que conseguir acessar o aplicativo dentro dos EUA se a proibição entrar em vigor.

A saída mais viável no curto prazo envolve o próprio Trump e o bilionário Elon Musk - dono da rede social X e apontado como possível interessado em adquirir o controle da rede social chinesa nos EUA.

Logo após o anúncio da Suprema Corte, Trump se comprometeu a lutar pelo TikTok, cuja possibilidade de banimento causou comoção entre os seus usuários nos EUA.

“A decisão da Suprema Corte era esperada, e todos devem respeitá-la”, postou Trump no Truth, sua rede social. “Minha decisão sobre o TikTok será tomada em um futuro não muito distante, mas preciso de tempo para rever a situação. Fiquem ligados!”

O novo presidente americano revelou ter discutido o assunto em um telefonema ao presidente da China, Xi Jinping. Foi a primeira ligação entre os líderes em quatro anos.

O papel de Trump no caso ganhou ainda mais relevância depois que o presidente Joe Biden, que deveria assegurar o cumprimento do banimento do TikTok no domingo, seu último dia no cargo, decidiu jogar o problema para seu sucessor.

Por meio de um comunicado da Casa Branca, o governo Biden lavou as mãos, afirmando que “reconhece que as ações para implementar a lei simplesmente devem caber à próxima administração, que toma posse na segunda-feira”.

Trump – que já vinha se movimentando para evitar o banimento do TikTok - aprovou o gesto do antecessor. O novo presidente, que no primeiro mandato chegou a ameaçar o TikTok de banimento, voltou atrás e hoje é um dos maiores defensores da manutenção do aplicativo nos EUA.

Antes da resposta do Judiciário, Trump convidou o CEO do TikTok, Shou Chew, para comparecer à sua posse – onde vai ocupar assento no palanque ao lado de outras figuras importantes, incluindo Mark Zuckerberg e Jeff Bezos.

Venda difícil

O TikTok, conhecido como Douyin em seu mercado doméstico, foi lançado na China em setembro de 2016 e rapidamente se transformou numa febre mundial. Seu aplicativo já foi baixado mais de quatro bilhões de vezes, sendo 876 milhões de vezes apenas no ano passado.

Dan Ives, analista do banco de investimento Wedbush Securities, estima que o TikTok possa valer “entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões” com o algoritmo — o grande trunfo de performance da plataforma, um segredo tão bem guardado pela ByteDance quanto a famosa fórmula da Coca-Cola.

“Sem o algoritmo, seriam de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões”, disse Ives, que não acredita que a ByteDance obteria autorização do governo chinês para vender o TikTok com o algoritmo. Advogados do TikTok e da ByteDance alegaram que é impossível alienar a plataforma comercial e tecnologicamente.

Com Trump ocupando papel central na solução do problema, as especulações de que Musk poderia comprar a operação americana do TikTok ganharam novo impulso.

Dono do X, antigo Twitter – pelo qual pagou US$ 44 bilhões -, Musk até teria dinheiro e interesse em absorver o TikTok nos EUA.

Além de assumir o controle de duas das maiores rede sociais em operação no país, Musk estaria de olho na receita comercial do TikTok nos EUA. Só em 2024, foram US$ 13 bilhões.

Outros nomes foram citados como interessados em comprar o ramo americano da rede social chinesa. O empresário bilionário do ramo imobiliário Frank McCourt e seu grupo de defesa da internet anunciaram recentemente que apresentaram uma proposta para comprar o site de mídia social da ByteDance.

O famoso investidor do Shark Tank Kevin O'Leary também se juntou ao esforço, mas o grupo não divulgou detalhes da oferta.

Se uma venda ocorrer, o antigo dono do Los Angeles Dodgers disse que planejaria reestruturar o TikTok e dar mais controle às pessoas "sobre suas identidades e dados digitais", migrando a plataforma para um protocolo de código aberto que permite mais transparência.

Vários outros nomes foram cogitados como possíveis compradores — o empresário e influenciador digital Jimmy Donaldson (MrBeast), que recentemente postou nas redes sociais sobre a possibilidade de fechar tal acordo, e o ex-CEO da Blizzard-Activision, Bobby Kotick. No entanto, não está claro se esses compradores são sérios e estão ativamente montando uma oferta pela empresa.

Enquanto isso, os usuários americanos de redes sociais já começam a mirar outras plataformas. O RedNote, que é basicamente a versão chinesa do Instagram, está crescendo em audiência nos EUA.

O RedNote se tornou tão popular que o aplicativo de aprendizado de idiomas Duolingo anunciou um crescimento de 216% no número de novos alunos de mandarim nos EUA – numa mostra de que, se não tomar cuidado, o TikTok pode literalmente dançar.