A oferta de pacotes de conteúdos para provedores regionais de internet, com filmes, séries e canais lineares por assinatura, foi a via alternativa escolhida pela Watch Brasil quando chegou ao mercado, em 2018.

Com esse formato, a startup de Curitiba chegou a uma base de 1.060 clientes e atraiu R$ 40 milhões em duas rodadas do corporate venture capital da Multi (ex-Multilaser). Agora, a companhia está anunciando a Watch Labs, um spin-off que será a bandeira do próximo capítulo em seu enredo: a expansão internacional, divulgado com exclusividade pelo NeoFeed.

“Vamos começar sentindo a temperatura e muito pé no chão. Por isso, demos dois anos para começar a ter algum faturamento expressivo no exterior”, diz Maurício Almeida, fundador e CEO da Watch Brasil. “Mas temos certeza que essa operação tem potencial para ser muito maior que a Watch Brasil.”

Ainda em fase de “soft launch”, a operação fará a sua pré-estreia em um dos principais eventos do setor, a NAB Show, que acontece em Las Vegas, em abril. Mas já trabalha nos últimos detalhes para a sua chegada, de fato, ao exterior.

A Watch Labs não levará na mala, porém, o seu portfólio mais conhecido. Mas sim, um pacote de serviços de infraestrutura de streaming desenvolvidos internamente E que, nos bastidores, viabiliza a própria operação da Watch Brasil e já “testado” junto aos mais de mil clientes da empresa no País.

Esse leque inclui, por exemplo, envios de conteúdo ao vivo e sob demanda, gestão de usuários, controle de vendas, sugestão de conteúdos personalizados e criação de apps para diversas plataformas. No Brasil, ele já foi usado em transmissões dos festivais The Town e Rock in Rio.

“Todo e qualquer produtor de conteúdo que queira fazer uma transmissão via streaming é um potencial cliente”, diz Carlos Motter, que atuará como CEO da Watch Labs. “De um youtuber a uma grande telco até um time de futebol, um show de rock ou um evento esportivo. É um universo até difícil de estimar.”

Algumas pesquisas dão um indicativo do potencial à frente dessa investida. Segundo a consultoria Fortune Business Insights, o mercado global de streaming, em todos os elos dessa cadeia, movimentou US$ 554,3 bilhões em 2023. E a projeção é chegar ao patamar de US$ 2,4 trilhões em 2032.

De olho em um quinhão dessa cifra, a Watch Labs apoia sua tese justamente nesse portfólio mais amplo para ganhar terreno no exterior. Isso num mercado que, segundo a empresa, é formado, em sua maioria, por companhias especializadas em determinados nichos dessa cadeia.

“Os nossos próprios fornecedores, em alguns desses nichos, nos convenceram a fazer essa expansão”, afirma Almeida. Em uma primeira estratégia para escalar a Watch Labs, a empresa está costurando parcerias com esses players especializados para levarem uma oferta mais encorpada aos clientes.

Em outra ponta, a Watch Labs também está em fase final de negociações de uma parceria com uma empresa no exterior que empacota essas ofertas e as implementa nos clientes. E, a partir do mapa coberto por essa companhia, já delimitou quais serão seus mercados-alvo nesse primeiro momento.

“Pela demanda reprimida e pelo conhecimento que esse parceiro tem, o plano é começar pela parte sul da Europa, em países como Grécia, Itália, Espanha e Portugal”, diz Motter, que acrescenta ainda a América Latina a esse mapa inicial.

Carlos Motter, CEO da Watch Labs

Ao mesmo tempo, além de compartilhar os recursos de backoffice da Watch Brasil, a Watch Labs está em fase de montagem do time que será dedicado exclusivamente à sua operação. E, com um executivo já alocado em Portugal, a empresa planeja ter uma estrutura própria naquele país ainda esse ano.

No médio e longo prazo, a empresa também não descarta ir além desse portfólio inicial e incluir a oferta de conteúdos nesse pacote internacional. Nesse caso, seria necessário estender a cobertura geográfica dos acordos de licenciamento que a companhia mantém com players como Paramount e Cisneros.

A Watch Brasil fornece um catálogo de mais de 30 mil horas aos provedores que usam sua plataforma. Com isso, a empresa saiu de uma base de 400 empresas para os mais de mil clientes entre 2022 e 2023.

Segundo Almeida, o movimento de expansão internacional está sendo financiado com o próprio caixa da Watch Brasil. Ele não descarta, porém, eventuais novas captações de recursos.

“A quantidade de negócios que estamos gerando traz, claro, a necessidade de mais capital”, afirma Almeida. “Hoje, não temos nada definido sobre uma nova captação. Mas esse é um tema que está sempre na nossa pauta.”