Foi com a mescla de vendas online, preços baixos, marketing agressivo e um ritmo alucinante de lançamentos - temperada com muitas controvérsias - que a chinesa Shein tornou-se uma gigante global de fast fashion e uma parada indigesta para os varejistas de moda ao redor do globo.
Agora, a companhia asiática está adicionando uma nova peça a essa sua coleção. A empresa anunciou na quarta-feira, 1º de outubro, que escolheu a França como palco da abertura das primeiras lojas físicas permanentes da marca.
Em comunicado, a Shein informou que o ponto de partida para essa estratégia é uma parceria costurada com o Société des Grands Magasins (SGM), grupo de real estate e varejo dono de operações como a loja de departamentos BHV Marais e de unidades da Galeries Lafayette.
“Essa aliança é mais do que um lançamento: é uma promessa de revitalizar os centros urbanos da França, restaurar as grandes lojas de departamento e criar oportunidades para a moda francesa pronta”, destacou a Shein, em nota.
Programada para novembro deste ano, a estreia dessa tese da varejista chinesa acontecerá em uma unidade da BHV Marais, em Paris. Outras cinco lojas já estão previstas em Galeries Lafayette nas cidades de Dijon, Reims, Grenoble, Angers e Limoges.
“Ao escolher a França como o local para testar o varejo físico, estamos honrando sua posição como uma importante capital da moda e abraçando seu espírito de criatividade e excelência”, afirmou Donald Tang, presidente executivo da Shein, na nota. “É apropriado que essa jornada comece em Paris.”
A companhia também ressaltou que, como parte desse plano, as lojas da Shein irão oferecer um leque completo de serviços. Nessa primeira etapa, a projeção é criar 200 empregos diretos e indiretos no mercado francês.
Até então, as iniciativas da Shein no varejo físico se resumiam à abertura de pop-up stores. Esse modelo foi e segue sendo adotado, por exemplo, na escalada da empresa no mercado brasileiro, com unidades em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e, mais recentemente, Goiânia.
Em contrapartida, seja no Brasil ou em outros mercados, esse avanço foi acompanhado de uma série de denúncias de cópias por parte de outras marcas, concorrência desleal, condições de trabalho análogas à escravidão e críticas quanto ao impacto ambiental de sua produção em massa.
A entrada definitiva no varejo físico também já enfrenta, na largada, alguma resistência. Segundo a agência France Presse (AFP), embora não seja mais proprietária das unidades da marca incluídas no plano da Shein, a Galeries Lafayette manifestou sua oposição a essa estratégia.
"A Galeries Lafayette expressa sua profunda discordância com esta decisão à luz do posicionamento e das práticas desta marca de moda ultrarrápida, que estão em contradição com sua própria oferta e valores", disse a empresa, em comunicado.
À parte dessa barreira, há outros casos de gigantes do varejo que fizeram sua fama no online e abalaram as estruturas de seus rivais no mundo físico. E que, posteriormente, decidiram ingressar nesse formato. Essas incursões mostram, porém, que nem sempre é fácil replicar o sucesso nesse outro ambiente.
O caso mais emblemático é o da Amazon, que surgiu como um arrasa-quarteirão e, em seus primeiros anos, foi o estopim do fechamento de uma série de livrarias e redes no mercado americano. Anos depois, a companhia avançou justamente nessa fronteira.
Um dos principais passos nesse sentido veio em 2017, com a compra da rede de supermercados Whole Foods, em 2017, por US$ 13,7 bilhões. Desde 2023, porém, o caminho da Amazon no varejo físico tem sido marcado pelo fechamento de lojas e de algumas de suas bandeiras nesse espaço.
Em setembro, no movimento mais recente que ilustra esse cenário, a Amazon anunciou que planeja fechar todas as suas 14 lojas do formato Amazon Fresh no Reino Unido e converter outras cinco em unidades da Whole Foods.
A decisão veio apenas quatro anos depois da abertura da primeira unidade da marca no mercado britânico. E foi justificada com o racional de redirecionar o foco e os recursos para a expansão das operações do online e de delivery.