Criada em 2011 como um simples aplicativo para entrega de refeições, o iFood, hoje um ecossistema de serviços controlado pela holandesa Prosus, deve alcançar faturamento de US$ 1,3 bilhão (perto de R$ 7 bilhões) ao fim do ano fiscal de 2025 (em março de 2026), o que representaria uma taxa de crescimento anual (CAGR) de 28% nos últimos três anos.

O maior volume está no segmento de entregas de comidas, com cerca de R$ 5,2 bilhões ao mês em Volume Bruto de Mercadorias (GMV), seguido por consumo no local (dine-in), com R$ 2,5 bilhões e área de adjacências (R$ 700 milhões). A perspectiva é que, no período, a companhia chegue a um Ebitda acima de US$ 250 milhões.

Ao todo, o GMV já ultrapassa R$ 10 bilhões por mês em 2025. Com mais de 60 milhões de usuários, a empresa possui 440 mil entregadores parceiros e 408 mil estabelecimentos conectados, o que assegura um processamento mensal de 122 milhões de pedidos.

Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 6 de outubro, em relatório do BTG Pactual, que aponta a sinergia das operações como a principal alavanca de crescimento. “O crescimento tem sido sustentado por uma cultura de inovação contínua, execução eficiente e uma notável capacidade de adaptação”, dizem Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima.

“Entre as diversas iniciativas inovadoras que impulsionaram o crescimento do iFood, destacam-se o lançamento de um modelo logístico proprietário, o gerenciamento de demanda com base em inteligência artificial, e a expansão para os segmentos de supermercados, farmácias, bebidas e serviços financeiros”, afirma o relatório do banco.

Para os analistas, essa diversificação do negócio não resultou apenas no aumento da frequência de pedidos, mas também criou um efeito de plataforma na operação, reforçando a fidelização dos usuários nas diferentes verticais.

Segundo o documento do BTG, a integração do Clube iFood com o sistema latino-americano mais amplo da Prosus, como a empresa argentina Despegar (que no Brasil usa a marca Decolar), OLX e Sympla, tem garantido a sinergia de tráfego cruzado e pagamento e ampliado a participação na receita do grupo.

“Além de abrir caminho para a criação da principal plataforma de experiência de estilo de vida da região, a integração representa uma ameaça competitiva para incumbentes do varejo físico e do e-commerce”, afirma o banco, na análise.

Neste sentido, ainda segundo os especialistas, a fidelização dos clientes, a partir do Clube iFood, tem se tornado o pilar central da estratégia de retenção e engajamento da companhia. Originalmente baseado no modelo de vouchers, o sistema evoluiu para um mecanismo de assinatura que impulsiona uma maior frequência de uso.

Os membros do clube de descontos do iFood apresentam retenção 70% superior e respondem por uma fatia representativa dos pedidos de supermercados (50%) e farmácias (33%). Somente nas entregas de refeições, o sistema de fidelidade está perto de 40% do total de pedidos, com mais de 39 milhões por mês em 2025.

“Isso posiciona o motor de fidelidade do iFood como um dos mais poderosos da América Latina”, afirma o BTG.

As soluções de fintech desenvolvidas pelo iFood alcançaram R$ 2,7 bilhões em ativos de crédito sob gestão (AuM). No iFood Pago, o volume total de pagamentos (TPV) alcançou um volume próximo a R$ 100 bilhões, anualizando a partir do início de 2025.

O segmento de retail media, a partir do iFood Ads, plataforma criada em fevereiro deste ano, já responde, segundo o BTG, por cerca de 6% do GMV de todo o ecossistema da empresa, levando em conta entregas, supermercados e iniciativas de mídia de varejo, com projeções de aceleração contínua.

A rentabilidade também tem sido impulsionada com a integração dos modelos de IA da empresa. “Com mais de 180 modelos proprietários de IA e cerca de 14 bilhões de previsões mensais em tempo real, o iFood está à frente dos concorrentes locais na incorporação de IA tanto na aquisição de consumidores quanto na eficiência operacional.”

Em agosto, o iFood anunciou investimentos diretos de R$ 17 bilhões no Brasil, direcionados entre abril deste ano e março de 2026, bem acima dos R$ 10,3 bilhões aportados pela plataforma em 2024 e dos R$ 13,6 bilhões em 2025, contando o ano fiscal encerrado em março.

O recurso contempla ações para aumentar o impulsionamento do tráfego na plataforma, a recorrência de compras no aplicativo e ampliação dos segmentos de atuação da empresa.

Parte do aporte também será alocado nos setores de tecnologia e inovação, justamente no desenvolvimento de IA proprietária. Outro montante tem como destino crédito a restaurantes parceiros e clientes para uso no aplicativo. Em junho, o CEO do iFood, Diego Barreto, foi escolhido para liderar a operação da Prosus na América Latina.