Peter Thiel não é um dos personagens mais influentes – e controversos - do Vale do Silício por acaso. Dono de uma fortuna estimada em US$ 8,7 bilhões, ele foi o fundador do PayPal, da Palantir e da gestora de capital de risco Founders Fund, além de ser o primeiro investidor do Facebook.
À parte esses e de outros “feitos”, o empresário e investidor coleciona polêmicas. Seja como defensor ferrenho das criptomoedas, financiador secreto, por vingança, do processo que levou o grupo de mídia Gawker à falência ou como um dos grandes doadores da campanha de Donald Trump, em 2016.
Muitas dessas histórias já foram bastante exploradas em reportagens e livros como The Contrarian: Peter Thiel and Silicon Valley’s Pursuit of Power, do jornalista americano Max Chafkin. Mas há uma faceta em sua biografia que, até então, era totalmente desconhecida: a de informante do FBI.
Esse novo capítulo veio à tona em uma reportagem do Business Insider. Segundo o portal americano, Thiel começou a fornecer informações como uma “fonte humana confidencial” ao departamento federal de investigações dos Estados Unidos em meados de 2021.
Sua conexão nessa trama era Johnathan Buma, um agente do FBI baseado em Los Angeles e especializado em investigações ligadas à corrupção política e campanhas de influência de origem estrangeira.
Em nota enviada ao Business Insider, Charles Johnson, um parceiro de longa data e um nome bastante conhecido da extrema-direita americana afirmou que ajudou a recrutar Thiel para essa “missão”, ao apresentá-lo a Buma.
Outras fontes ouvidas pela reportagem confirmou tanto o relato de Johnson como os contatos de Thiel com o agente e sua inclusão na ampla rede de colaboradores do FBI. E, dentro desse organograma, uma “fonte humana confidencial” (CHS, na sigla em inglês) não está restrito a um papel de informante casual.
Segundo o Guia de Políticas Confidenciais de Fontes Humanas da agência, citado pelo Business Insider, essas pessoas entram em um “relacionamento com o FBI e esse relacionamento afetará para sempre a vida desse indivíduo”.
Com essa premissa, o recrutamento e a manutenção dessas fontes são bastante regulamentados e envolvem diversos níveis de aprovação. Para alcançar o status de CHS, a pessoa em questão precisa ser capaz de fornecer informações valiosas e de forma recorrente, destaca o guia.
Charles Johnson afirmou que acredita que os relatórios de Thiel ao FBI foram mais restritos a tentativas de outros países em avançar no Vale do Silício. Publicamente, em 2019, o fundador do PayPal apelou para que o FBI investigasse as ligações do Google com o governo chinês.
Essa aproximação com o FBI pode ser vista, no entanto, como um distanciamento gradual de Thiel de Donald Trump e do movimento Make America Great Again, que teceram fortes críticas à agência e a outros órgãos federais americanos.
Segundo Johnson, o empresário teria sido orientado pelo FBI a não relatar suas interações com Trump e outros políticos americanos. Entre eles, nomes cujas campanhas foram financiadas por Thiel e que atacaram de forma recorrente o departamento e suas lideranças.
O fato é que alguns dos interesses comerciais e receitas potenciais de negócios de Thiel dependem do FBI e de outras agências governamentais. É o caso da Palantir, empresa de big data que tem entre seus clientes órgãos como o Pentágono, a Cia e o próprio FBI, além do governo federal. E que já enfrentou algumas controvérsias por suas relações nessa esfera.
Não há informações se Thiel segue como informante do FBI. Johnson, que também afirma cumprir esse papel, disse que acredita que essa conexão foi interrompida, já que Buma declarou ao Senado americano que recebeu a ordem de encerrar todos os contatos com suas fontes no fim de 2022.
Essa lista incluía uma CHS de codinome “Genius”, a qual, o Business Insider confirmou que se referia a Johnson. A declaração em questão de Buma não menciona, porém, o nome de Thiel.
Ao portal americano, Johnson disse que estava expondo o papel secreto de Thiel em resposta ao que classifica como más decisões do Founders Fund. E que se sentiu traído pelo fato de Thiel não ter investido em suas startups, algo que ele esperava como uma recompensa por ter feito o elo do investidor com o FBI.