Depois de um trimestre para esquecer, marcado por queda de lucro, revisão de guidance, ROE baixo e corte de dividendos, só restou ao Banco do Brasil levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas isso não será nada fácil.

Para a XP Investimentos, o caminho do banco estatal rumo à recuperação será difícil, e a evolução tende a ser lenta, prejudicada por fortes ventos contrários. A situação levou os analistas Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães a reduzirem o preço-alvo das ações de R$ 32 para R$ 25, mantendo a recomendação neutra.

“Grande vilã” dos resultados do segundo trimestre, a inadimplência no agronegócio deve continuar pressionando os números do Banco do Brasil.

Mesmo com alguns sinais de melhora, a normalização da carteira agro deve demorar, num momento em que margens apertadas continuam pesando sobre produtores menores ou mais alavancados.

Além da carteira agro, a inadimplência do banco deve ser impactada pela pressão de outras linhas de crédito. Segundo a XP, a desaceleração da economia e os juros elevados continuarão afetando as carteiras de pessoa física e de pequenas e médias empresas (PMEs), mais sensíveis a esse cenário.

“Consequentemente, no segundo semestre, projetamos uma provisão para perdas esperadas de R$ 33 bilhões, o que levaria o total anual além do limite superior da faixa do guidance, que vai de R$ 51 bilhões a R$ 56 bilhões”, diz trecho do relatório.

A combinação entre aumento da inadimplência e do custo de risco — associado principalmente ao risco de crédito — subindo dos 3% registrados em 2024 para 4,5% em 2025, somada à pressão contínua sobre a margem financeira líquida (NII) e à estabilidade do índice de eficiência, levou a XP a reduzir as projeções de lucro líquido para este ano e o próximo.

A estimativa para 2025 foi cortada em 21%, para R$ 20,6 bilhões. Para 2026, a projeção caiu 16%, para R$ 23,3 bilhões. No ano passado, o Banco do Brasil registrou lucro de quase R$ 38 bilhões.

“Como resultado, agora esperamos um ROE de 11% para 2025, com retornos se aproximando do custo de capital (Ke) apenas nos próximos anos”, diz o relatório.

Os analistas estimam ainda dividendos suficientes no terceiro e quarto trimestres para alcançar um payout de 30% no ano, implicando um dividend yield (DY) de 4,8%.

Considerando os múltiplos e o cenário projetado, a avaliação é de que as ações estão em patamares elevados.

“Vemos os papéis do Banco do Brasil sendo negociados a múltiplos de 6,1 vezes o P/L e 0,7 vez o P/B para 2025, e 5,4 vezes o P/L e 0,6 vez o P/B para 2026. Em nossa visão, esses níveis de P/L ainda parecem caros, com prêmio em relação às médias dos últimos anos”, diz o relatório.

Por volta do meio-dia, as ações do Banco do Brasil subiam 0,27%, a R$ 22,28. No ano, acumulam queda de 6,86%, levando o valor de mercado a R$ 128,1 bilhões.