A exatos dois meses do seu início, a edição 2025 da COP30, que será realizada em Belém (PA), já movimenta as agendas de governantes, ambientalistas, especialistas nos temas relacionados à sustentabilidade e afins.

No Brasil, sede do evento, a conferência é vista como uma janela para que o País possa se posicionar na dianteira da economia verde global. E, dentro desse contexto, um grupo de atores entende que também pode - e deve - ser protagonista: a iniciativa privada.

“O evento sempre foi majoritariamente de governos. Mas essa vai ser, disparadamente, a COP com maior participação do setor privado”, disse Denis Minev, CEO da Bemol, maior varejista da Amazônia Ocidental, durante o NeoSummit COP30, realizado pelo NeoFeed na quarta-feira, 10 de setembro.

Para ele, essa participação mais efetiva é favorável, já que, em sua visão, a iniciativa privada sempre pensa na sustentabilidade de uma forma mais ampla que os frequentadores usuais da conferência. “É preciso ter sustentabilidade financeira, sustentabilidade ambiental, social e política”, afirmou Minev.

Ricardo Mussa, presidente da Sustainable Business COP30, dividiu o palco com Minev. E também compartilhou essa visão, ao fazer referência ao fato de que 612 projetos foram lançados nas edições anteriores da conferência.

“No final, a maioria desses projetos é lançada na empolgação, não tem retorno econômico e acaba não indo adiante”, afirmou Mussa. “Então, no lugar de lançar iniciativas, vamos influenciar as políticas públicas para replicar o que já funcionou. O papel do setor privado é mostrar esse pragmatismo.”

Diante de um cenário macroeconômico global mais instável, ele ressaltou que é preciso ter uma visão mais prática também no que diz respeito à pauta de sustentabilidade, com a escolha de temas prioritários, ao invés da tentativa de encontrar soluções para um leque mais amplo de problemas.

“Tem outros problemas que são importantes, mas que são menores. O que eu vejo muitas vezes nas discussões é que falta foco”, observou Mussa. “A iniciativa privada pode trazer um pouco essa dinâmica e ter mais voz ativa de duas ou três coisas que precisam ser feitas nos próximos cinco anos.”

Nesse horizonte, a Amazônia, uma das regiões de maior relevância no mapa global de sustentabilidade, foi apontada, claro, como uma fonte de muitas oportunidades para que o Brasil também seja protagonista nesse roteiro. Mas com alguns desafios a serem superados.

“Todos aceitam que o potencial da Amazônia é extraordinário”, disse Minev. “Mas nós fazemos um uso terrível desse patrimônio. E pecamos no desenvolvimento de modelos econômicos que permitam, simultaneamente, a conservação e a prosperidade.”

Ele observou, no entanto, que, mesmo nesse contexto desafiador, já há projetos que indicam uma perspectiva mais positiva na região. E que a COP30 abre caminho para que essas iniciativas ganhem mais corpo. Mas fez uma ressalva:

“A medição do sucesso da COP30 não pode ser em novembro. Isso tem que ser daqui a 5, 10 anos”, afirmou Minev. “Se tivermos empresa de agricultura regenerativa, de reflorestamento, da Amazônia, fazendo IPO na B3, quer dizer que o que plantamos durante a COP teve sucesso.”

Para Mussa, por sua vez, antes de trilhar o percurso até o mercado de capitais e de assumir uma posição de destaque na economia verde, o Brasil, como um todo, precisa aprender a se vender melhor e perder o seu “complexo de vira-lata”.

“Nós sentamos nas mesas de conversa e o pessoal nos escuta. Agora, acho que o brasileiro faz muita lavação de roupa suja na frente dos gringos”, disse. “Temos muitas coisas boas. O que precisamos é sermos mais orgulhosos do que fazemos aqui e nos apoderarmos desse discurso.”