Brasília - A tensão entre os governo do Brasil e dos Estados Unidos levou o Palácio do Planalto a dar uma ordem unida para que os ministros da Esplanada desmobilizem a ida para a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que acontece na terça-feira, 23 de setembro.

Ao contrário dos dois primeiros anos do governo, quando uma comitiva da Esplanada acompanhou o presidente da República no evento da ONU, desta vez deve viajar, além de Lula, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

No ano passado, 10 integrantes do primeiro escalão do governo Lula estiveram em Nova York para encontros bilaterais com os respectivos ministros estrangeiros e também com empresários. Em 2023, sete nomes da Esplanada foram para a ONU.

Até a publicação desta reportagem, nem mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - que conseguiu o visto para participar da cerimônia - tinha a presença confirmada, segundo apurou o NeoFeed. No Planalto, não há confirmação da lista dos que devem viajar.

O plano do governo em desmobilizar a participação de ministros é não ter de passar pelo constrangimento de os ocupantes da Esplanada terem o visto negado. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que teve seu visto revogado pelos EUA, fez o pedido de visto diplomático, mas ainda não recebeu a confirmação pelo governo dos EUA.

A informação no Itamaraty é a de que os vistos estão em processamento, mas, segundo apurou o NeoFeed, o escalão avançado da Presidência (Escav) só prevê até aqui a ida de Mauro Vieira e do próprio Lula.

O Escav é formado por integrantes do Itamaraty e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e se desloca com antecedência de uma semana para montar roteiros de visitas das autoridades, definindo rotas a partir de regras de segurança oficiais.

“O clima não está bom. Então, para evitar constrangimentos em solo norte-americano, houve uma desmobilização planejada”, disse ao NeoFeed um integrante do governo que acompanha as negociações para a viagem a Nova York.

Discurso inicial

O presidente brasileiro historicamente abre a Assembleia com o primeiro discurso entre chefes das Nações. Antes e depois dos discursos, há reuniões e encontros. Neste ano, tudo será muito protocolar. Lula deverá defender a democracia e a soberania.

Desde a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a expectativa do governo brasileiro é de novas sanções vindas dos EUA contra o Brasil. Mesmo remota, há a chance de Lula implantar a lei de reciprocidade em casos específicos.

Na segunda-feira, 15 de setembro, o secretário de Estados dos EUA, Marco Rubio, disse que Donald Trump deve anunciar nos próximos dias ações contra a condenação de Bolsonaro pelo STF. Rubio, entretanto, não antecipou quais serão as medidas norte-americanas.

No fim de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou o Itamaraty a acionar a Câmara de Comércio Exterior (Camex) e iniciar consultas para aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos.

Reportagem do NeoFeed mostrou que a medida para suspender os direitos de propriedade intelectual, a quebra de patentes, não deve ser posta em prática. Integrantes do alto escalão do Planalto são contra a medida por dificultar a oferta de medicamentos no Brasil.