No país do futebol, as sportstech estão distantes da elite da inovação mundial. Mas o Brasil tem buscado virar esse jogo. No relatório Global Sportstech Ecosystem 2023, divulgado pela empresa alemã de análise de dados SportsTechX, a OneFan foi escalada entre as 26 startups globais de esporte mais promissoras.
Ao entrar na vitrine mundial das sportstech, a OneFan já anunciou uma substituição no seu time. Fabio Palma, ex-sócio do Distrito, assumiu como CEO no lugar de Eduardo Tega, que passou a ser o CSO (Chief Strategy Officer) da startup que oferece interação e fidelização para os torcedores dos clubes de futebol.
“Na OneFan, nossa missão é engajar o fã ao seu clube de uma maneira totalmente nova, personalizada e profunda”, diz Palma, que assumiu a posição na primeira semana de julho, ao NeoFeed. “Somos Fancentric! Estou ansioso para impulsionar essa conexão e contribuir ainda mais para o vibrante ecossistema de sportstechs no Brasil.”
A OneFan é uma das criações da Sportheca, uma fábrica de startups que desenvolve as próprias teses de esporte e entretenimento e passa a construir o negócio do zero - Tega é o CEO desse hub.
A ideia é explorar cinco territórios: conteúdo esportivo, experiência em dia de jogos, tecnologia em blockchain, performance de atletas (hardware e software) e tecnologias imersivas (VR e AR). O investimento inicial dos sócios fica entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões para a startup nascer, amadurecer e ficar pronta para o próximo estágio. Todas devem, necessariamente, ser viáveis para entrada e saída de investidores.
Criada em julho de 2020, a OneFan foi pensada para ser o canal de monetização e engajamento dos torcedores. Nesses três anos, a startup fechou acordos com Corinthians, Coritiba, Flamengo, Fortaleza, Grêmio, São Paulo e a Federação Alagoana de Futebol. No exterior, o Osasuna, da La Liga espanhola, e o Deportivo Cuenca, da Liga equatoriana, além da Federação Romena de Futebol.
“No momento da pandemia, as fontes de receitas secaram e os clubes precisaram acelerar a sua transformação digital”, diz Marcelo Nicolau, head de venture building da Sportheca. “A OneFan ofereceu produtos e soluções para digitalizar e integrar todos os pontos de contato dos clubes com o torcedor”
O sucesso da OneFan atraiu a atenção do Grupo SBF, dona da Centauro e da distribuição exclusiva da Nike no Brasil. Em 17 de janeiro de 2022, a SBF anunciou um investimento por meio de um bônus de 30% em subscrições de ações da sportstech. No balanço do primeiro trimestre daquele ano, a empresa informa que o mútuo não conversível da OneFan foi no valor total de R$ 10 milhões, com vencimento em abril de 2027 com reajuste do IPCA do período.
Com quatro startups em diferentes fases de desenvolvimento dentro do seu campus, a Sportheca enxerga potencial tanto na experiência de live streaming como nas NFTs. Se no primeiro a tentativa é personalizar a interação com a partida, seja marcando highlights do jogo para compartilhar nas demais redes sociais ou interagir em salas de de interesses específicos, no segundo a ideia é explorar a capacidade da tecnologia blockchain além do item colecionável.
“Nosso jogo não é comprar os direitos de transmissão, mas potencializar os detentores desses direitos, que hoje concorrem com os e-sports”, diz Nicolau. “Da mesma forma, a NFT tem de ir além do óbvio do colecionável, com experiências digitais que só quem tiver poderá ter acesso.”
Um segmento em ascensão
Se as sportstech viveram um boom de investimentos em todo o mundo de 2020 para 2021, com o total de aportes crescendo de US$ 3,9 bilhões para US$ 11,4 bilhões, o ano passado pode ser considerado um novo patamar para o segmento de startups ligadas aos esportes, que receberam um total de US$ 8,2 bilhões, de acordo com o estudo anual da SportsTechX.
O Brasil aparece com uma captação total de US$ 48,2 milhões no ano passado, muito distante dos líderes Estados Unidos e Alemanha, que atraíram US$ 5,57 bilhões e US$ 459 milhões, respectivamente. E mesmo esse montante ficou bastante concentrado. Somente o fantasy game Rei do Pitaco e o app de organização de jogos Appito receberam US$ 32 milhões e US$ 5,3 milhões, respectivamente.
O potencial das sportstech pode ser medida pela série de fundos de corporate venture capital (CVC) ou mesmo de venture capital dedicados aos esportes - muitos capitaneados por ex-atletas. Lionel Messi criou a Play Time Sports-Tech e Shaquille O’Neal, a Courtside Ventures. No Brasil, a musculatura ainda está em construção, mas a Bossanova Investimentos, de Pierre Schurmann e João Kepler, e a Go4It, de Marc Lemann e Cesar Villares, já se destacam na liderança.