A agtech americana Provivi, fundada em 2013 pelo empreendedor brasileiro Pedro Coelho, acaba de receber um novo aporte de US$ 10 milhões (R$ 54,2 milhões) da Bill & Melinda Gates Foundation.
Desde sua fundação, a startup já recebeu US$ 200 milhões de aportes de investidores como Vivo Capital, um fundo do Vale do Silício, e de Antonio Moreira Salles, filho de Pedro Moreira Salles, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, que hoje tem a gestora Mandi Ventures, focada em agtechs e foodtechs.
“Passamos por um processo de due diligence bastante rígido”, conta o CEO e cofundador Pedro Coelho, em entrevista ao NeoFeed. “Eles fizeram uma análise técnica, validaram nossa tecnologia e viram a proposta de valor para os fazendeiros.”
O principal produto desenvolvido pela Provivi é um feromônio que, quando aplicado, cria uma nuvem que causa uma confusão sexual no spodoptera frugiperda, conhecido popularmente como lagarta-do-cartuxo, uma praga perigosa que ataca lavouras de milho, soja e algodão. Com isso, os machos não fecundam os óvulos das fêmeas.
Apenas no Brasil, a lagarta-do-cartucho causou um prejuízo de R$ 34 bilhões em 2017, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).
A empresa desenvolve outros produtos, como um feromônio específico para o arroz, que evita as pragas yellow stem borer e strip stem borer, que será comercializado em Bangladesh. A grande vantagem é reduzir a necessidade de defensivos químicos, que são caros, oferecendo uma alternativa biológica.
Atualmente, a Provivi atua comercialmente apenas no México, mas tem escritórios no Brasil, Argentina, China, Índia, Quênia e Bangladesh. No início de fevereiro, a startup conseguiu a aprovação regulatória no Quênia. A solução para o cultivo de arroz em Bangladesh também deve chegar ao mercado no final de 2021.
O lançamento do feromônio contra a lagarta-do-cartucho no Brasil está previsto para o fim deste ano. Em 2020, o produto recebeu a aprovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Agora, a empresa está fazendo ensaios principalmente em fazendas de algodão na Bahia e Mato Grosso, antes do lançamento comercial.
Com o aporte da Gates Foundation, a Provivi se compromete a levar seus produtos a preço de custo para pequenos produtores do Quênia, Índia e Bangladesh. Os recursos serão usados justamente para expandir a atuação nesses três países.
O objetivo é chegar a produtores que tradicionalmente ficam à margem das inovações tecnológicas. “Muitos deles não usam nenhum tipo de produto para proteção da lavoura. Fica por isso mesmo”, diz Coelho.
O empreendedor afirma que esse compromisso está alinhado à visão da empresa. Desde 2017, para cada acre (medida usada nos Estados Unidos que equivale a 40% de um hectare) em que seu produto é vendido, a empresa se compromete a oferecer os produtos em medida suficiente para outro acre destinados à agricultura de subsistência, a preço de custo.
De acordo com Coelho, a demanda por uma produção mais sustentável vem também dos consumidores. “Muitos estão dispostos a pagar mais por algo produzido de forma sustentável, na Europa, Estados Unidos e na China”, afirma. Do ponto de vista do produtor, o uso de produtos biológicos representa uma forma de ser reconhecido na cadeia e aumentar seu faturamento.
A Provivi foi fundada por Coelho ao lado da doutora Frances Arnold, vencedora do Prêmio Nobel de Química de 2018, e do alemão Peter Meinhold. Tanto Coelho quanto Meinhold estudaram com Arnold na Caltech, o Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ricardo Miranda, CEO da Provivi no Brasil e Argentina, já atuou em gigantes do setor, como Monsanto, Syngenta e Bayer CropScience.