Quando deixou seu trabalho na agência de publicidade África em 2020, a cineasta Monique Lima trouxe para a casa um cheque de R$ 100 mil assinado por Sérgio Gordilho, um dos sócios da agência.
Foi o primeiro aporte da Mimo Live Sales, startup que atua com live commerce cofundada por Monique ao lado da sócia Etienne Du Jardin e que atraiu, meses depois, um grupo ilustre de investidores-anjo. Entre eles estão os apresentadores Luciano Huck e Sabrina Sato e o publicitário Nizan Guanaes, e o influenciador digital Felipe Neto.
Agora, a Mimo está atraindo dois nomes corporativos à sua base de acionistas. A companhia está recebendo um aporte dos fundos de corporate venture capital (CVC) da rede varejista chilena Cencosud, dona das marcas como Bretas, Prezunic e Giga Atacado no Brasil, e Locaweb.
O aporte, que não teve seu valor divulgado, deve ampliar a produção de lives para empresas como C&A, Whirlpool, Samsung, Bayer, entre outras, de 18 segmentos em que a Mimo atua.
“Este round vem para melhorar o produto em termos de tecnologia e captura de dados”, diz Monique em entrevista exclusiva ao NeoFeed. “Essa é a experiência mais profunda em relação ao usuário. São os dados que permitem às marcas entender o que o consumidor quer, quais são suas dúvidas e seu comportamento de compra.”
Esse foi o primeiro aporte do fundo de CVC da Cencosud no Brasil – outros aportes já assinados devem ser anunciados ao longo deste ano. Criado em 2021, o fundo da empresa chilena investe entre US$ 500 mil e US$ 5 milhões em cada negócio. No radar estão startups de varejo, logística, supply chain e fintechs.
A Cencosud espera que as lives da Mimo possam ajudar a companhia a melhorar seus indicadores financeiros. No quarto trimestre de 2022, a companhia, que no Brasil conta com 372 lojas, viu seu prejuízo mais do que triplicar para R$ 176,1 milhões. A receita líquida, por sua vez, aumentou 25% para R$ 2,7 bilhões. Já a dívida ficou em R$ 642 milhões.
O que chamou a atenção dos investidores é que a empresa de Monique e Etienne aposta em conceitos que já existiam antes da pandemia, mas que cresceram mesmo durante o isolamento social.
A startup faz transmissões ao vivo em formato white label e que são exibidas no site ou no aplicativo do cliente. Nas lives, os clientes podem conhecer e tirar dúvidas sobre um determinado produto.
O diferencial é o apoio constante da operação em dados. “Sempre conectamos dados na plataforma porque é a forma como entendemos que podemos ajudar uma marca a performar melhor", diz Monique. No fim, o objetivo é o mesmo: é fazer com que um determinado produto seja vendido.
As lives são exibidas em um player de vídeo customizado para cada empresa e que é produzido pela própria Mimo. Pelo computador ou pelo celular, o consumidor pode adicionar produtos ao carrinho sem sair do vídeo, acessar o catálogo ou interagir com comentários ou curtidas durante a transmissão.
Essa forma de aproximar os consumidores das empresas vem gerando resultados para os clientes da startup. A Mimo informa que registra uma conversão média de vendas de 10%. No e-commerce, a conversão média gira em torno de 1,6%, o que significa uma venda para cada 100 visualizações.
O dinheiro desta rodada deve ser utilizado para dois objetivos. Primeiro para que a companhia amplie seu leque de produtos oferecidos para ir além das transmissões ao vivo e permitir que os clientes possam disponibilizar em suas plataformas outras ferramentas de vídeos. “A ideia é ir além do live commerce e fazer com que as marcas convertam mais vendas no digital.”
Na outra frente do negócio, a Mimo deve utilizar uma parte dos recursos captados neste round para fortalecer sua estrutura de dados. A companhia já oferece aos clientes um relatório com informações relevantes sobre o desempenho de suas lives, mas quer descobrir novos insights que possam ser úteis para os clientes.
A startup produz 30 transmissões por mês. Com duração de uma hora, cada live tem, em média, cerca de 1 mil espectadores conectados. O tempo de permanência de cada um fica entre 5 e 15 minutos. “É o suficiente para o consumidor tirar a dúvida e fazer a compra”, diz Monique.
Para ganhar dinheiro, a Mimo opera em modelo de plano de assinatura para a produção das lives. Cada plano permite que a empresa realize um determinado número de transmissões por mês. A maior parte dos clientes opta por uma live mensal, mas há quem prefira realizar até quatro transmissões no mesmo período.
Por ora, a companhia não tem um take rate. Mas, para o ano que vem, Monique afirma que a companhia pretende implementar um modelo em que também vai cobrar um percentual das vendas realizadas durante as lives produzidas pela startup. Os percentuais ainda estão sendo discutidos internamente.
O live commerce vem crescendo no mundo inteiro. Um estudo realizado pela Research and Markets aponta que as vendas feitas desta maneira devem movimentar US$ 600 bilhões até 2027. No mês passado, a influenciadora digital brasileira Virgínia Fonseca afirmou que faturou R$ 22 milhões com a venda de produtos de sua marca de cosméticos WePink durante uma live.
Além da Mimo, outras empresas também estão de olho neste mercado. Uma delas é a VTEX. Em abril do ano passado, o NeoFeed informou que a companhia iniciou suas primeiras incursões neste setor com as empresas de e-commerce Honeybe e Babadotop.
A aceleradora B&Partners, comandada pelo publicitário Bazinho Ferraz, também se aventurou neste mercado ao lançar, em dezembro, a Live Cake, Segundo a empresa informou na época, a expectativa é de que no primeiro ano de operação, a companhia possa faturar algo em torno de R$ 4 milhões.
Grupo chileno fundado em 1960, a Cencosud é dona de oito marcas que atuam com varejo e atacado no Brasil. Entre elas estão Bretas, Perini, GBarbosa, Prezunic e Giga Atacado. Essa última foi comprada no ano passado em um movimento da companhia para expandir sua presença no País. A transação movimentou R$ 500 milhões. Ao todo são 372 lojas, sendo 323 de varejo e 49 de atacado.