Em meados de 2022, a Creditas colocou em prática um plano para interromper a queima de caixa e se tornar lucrativa. Quase dois anos depois, a fintech, enfim, conseguiu atingir o seu primeiro lucro.
No primeiro trimestre de 2024, a Creditas atingiu um lucro de R$ 1,4 milhão. Para comparação, registrou perdas de R$ 128,9 milhões no mesmo período do ano passado.
“Não vou falar que foi fácil ou difícil”, diz Sergio Furio, fundador e CEO da Creditas, em entrevista ao NeoFeed. “Foi uma briga de paciência.”
Os resultados foram divulgados nesta quinta-feira, 16 de maio. Além do lucro líquido inédito, a empresa informou que a receita somou R$ 485,6 milhões, uma queda de 1,3% no período de 12 meses
Em 2023, o prejuízo tinha sido reduzido em 64%, para R$ 385 milhões. Mas a fintech tinha conseguido um Ebitda positivo de R$ 1,2 milhão em dezembro do ano passado, o primeiro mês sem queimar caixa - um indicativo que o lucro estava logo ali.
A jornada para reduzir a queima de caixa envolveu corte de custos. Nos últimos dois anos, a companhia reduziu pela metade o número de colaboradores, que já chegou a somar mais de 4 mil pessoas. A empresa também caminhou para um modelo mais asset light com o fechamento de duas lojas de venda de automóveis.
Houve também uma injeção financeira. Em agosto do ano passado, a companhia anunciou a captação de mais US$ 70 milhões em uma extensão da rodada de série F. Segundo Furio, o dinheiro foi usado para que a empresa não precisasse reduzir ainda mais o ritmo de crescimento para atingir o ponto de equilíbrio.
“A gente conversou com os investidores e foi proposto que não precisaríamos desacelerar”, diz Furio. “Se eu não captasse a extensão ainda daria para atingir o breakeven? Sim, mas teria uma receita menor. É matemática direta.”
A intenção é fazer com que o resultado siga positivo nos próximos trimestres. A prioridade, porém, volta a ser focar no crescimento. “À medida que você cresce, a situação fica melhor porque você aumenta o lucro bruto sem aumentar os custos fixos”, diz Furio. “Você cria mais gordura.”
Furio diz que a estratégia de crescimento começou a ser aplicada já em março, mas começou a ganhar mais tração somente no segundo trimestre. A estimativa é de crescimento anual na casa de 25%, mas agora “com as próprias pernas”, segundo o fundador.
Há algumas avenidas de crescimento. Uma delas está no mercado de seguros. Em 2021, a Creditas adquiriu a Minuto Seguros, que até então tinha 160 mil clientes ativos e uma carteira de R$ 250 milhões. “É um negócio que já atingiu o breakeven”, afirma Furio. “Mas temos apenas 1% do mercado nacional. Podemos chegar em 10%.”
Além de aumentar a receita com essa frente, a companhia entende que nos próximos trimestres até o fim de 2025 pode usar o serviço como um chamariz para outros produtos, impulsionando as outras verticais do negócio em uma estratégia de cross-sell.
Além de empréstimos com garantia de veículo, imóvel ou consignado, a Creditas também oferece soluções de locação (em parceria com a ZAPway, da OLX) e financiamento imobiliário e de automóveis. A empresa entrou também no setor de benefícios flexíveis e compete com empresas tradicionais como VR e Alelo e startups como Flash e Caju.
A companhia não detalha o desempenho específico de cada um dos produtos, mas Furio explica que a Creditas tem atualmente quase 500 mil clientes ativos, mas conta com uma base de usuários que soma quase 14 milhões. Uma fatia de 40% das vendas é feita para clientes que já estão na base de usuários.
“São consumidores que já me conhecem. Isso facilita a experiência e aumenta a conversão”, diz Furio. “O movimento de ativação da base teve bastante sucesso aqui dentro. O motor de crescimento do negócio está nesse bloco.”
E o IPO?
A Creditas vem flertando com a possibilidade de abrir capital já há alguns anos. O plano de readequação de despesas da companhia e a seca dos IPOs fizeram com que a fintech colocasse essa possibilidade em stand by. Agora no comando de uma empresa lucrativa, Furio foi novamente questionado sobre o assunto.
“Riscamos isso do checklist (ser uma empresa lucrativa), mas ainda faltam mais coisas”, diz Furio. O empreendedor diz que deseja aumentar o tamanho da empresa antes de torná-la pública. “O contexto atual é demorar um pouco mais para levar a empresa para a bolsa de valores. Já temos uma receita (anual) de R$ 2 bilhões. Não falta muito.”
Furio citou também o fator externo como um obstáculo. “Fazer um IPO envolve a reabertura da janela de IPOs. Isso começou a ser feito nos Estados Unidos, mas não ainda em mercados emergentes”, afirma Furio. “Mas estamos otimistas que isso vai acontecer.”
Ao todo a Creditas já captou pouco mais de US$ 1 bilhão em aportes, segundo dados do Crunchbase. Além da Fidelity, que liderou a rodada de série F de US$ 260 milhões, e o Andbank, que fez a extensão da mesma rodada de US$ 70 milhões, a fintech atraiu Softbank, Lightrock, QED, Kaszek, entre outros investidores.