Nos últimos meses do ano passado, o empresário Alexandre Zolko viajou aos Estados Unidos para se encontrar com potenciais investidores. Era o início de um roadshow para a captação de um novo aporte para a CRMBonus, companhia que naquele momento valia mais de R$ 1,1 bilhão. “Uma investidora me disse que eu não sabia onde eu poderia chegar”, afirmou o cofundador e CEO da CRMBonus em entrevista ao NeoFeed.
A investidora em questão era Mary Meeker, uma das pessoas mais influentes da internet (tanto que muitos a chamam de a rainha da internet) e general partner da Bond, gestora americana que levantou mais de US$ 5,5 bilhões em três fundos e investiu em gigantes como Airbnb, Canva e Pinterest, além de Facebook, Snap e Spotify.
E foi justamente Meeker que resolveu apostar na CRMBonus. Em seu primeiro aporte numa empresa brasileira, a Bond está liderando uma rodada de série B de R$ 400 milhões que avalia a empresa fundada por Zolko, Eduardo Vieira e Luiz Fernando Guedes em R$ 2,2 bilhões, o dobro do valuation anterior.
A rodada conta ainda com a participação da Valor Capital, gestora que no Brasil já investiu em companhias como Wellhub (ex-Gympass), Gupy, CloudWalk, entre outras. A gestora entrou com US$ 10 milhões. Outros investidores, mantidos em sigilo, também acompanharam o round.
“A rodada vem para coroar a visão que a gente tem de fazer a transição de sair de um modelo de cashback para se tornar uma plataforma de crescimento para as empresas”, afirma Zolko, ao NeoFeed. O acordo foi intermediado por IGC Partners e BZCP.
Esse foi o segundo aporte recebido pela companhia. Antes disso, a CRMBonus havia levantado R$ 280 milhões na série A feita em 2021 junto a Softbank, Riverwood, Igah e Volpe Capital. “Ter capital nunca faz mal, se você não for altamente diluído”, diz Zolko, que afirma que a diluição foi menor do que 18% no round atual e 28% no anterior.
A nova injeção de capital vem para reforçar o caixa da companhia, que diminuiu por conta de aquisições e earn outs. “Eu tive que pagar três earn outs no primeiro semestre. Uma vez que isso acontece, você tem uma descapitalização leve”, diz Zolko, que não revela as empresas que bateram as metas.
Em 2022, a CRMBonus anunciou duas aquisições em menos de 15 dias. Em julho, comprou a plataforma de cashback ChefsClub por valor não revelado. No mês seguinte, anunciou a compra da Zipper, de social selling, por R$ 25 milhões em uma transação feita majoritariamente por troca de ações.
No ano passado foram mais dois movimentos de M&A. Em janeiro, a CRMBonus adquiriu a Giver, outra plataforma de CRM, por R$ 33 milhões. Em março foi a vez da Becon, plataforma de comunicação via chatbot, ser adquirida em um negócio de R$ 18 milhões que envolveu ações e dinheiro.
Apesar de buscar mais capital agora, a CRMBonus não vive uma situação perigosa de caixa. Zolko diz que a companhia é lucrativa. “Na época da série A, a gente fez um acordo com os investidores de que não iríamos queimar caixa, mas não seríamos uma empresa ultralucrativa”, diz Zolko. “Queríamos crescer cada vez mais rápido.”
Até por isso, novas aquisições não estão descartadas – ainda que este não deva ser o principal destino do dinheiro neste momento. Caso avance em algum M&A, o plano é buscar companhias que agreguem ao foco principal do negócio da CRMBonus. “É uma estratégia mais focada em target growth”, diz Zolko.
Veja um trecho da entrevista de Zolko ao programa Vida de Startup, em março de 2024:
O que demanda mais atenção da companhia neste momento é o desenvolvimento dos produtos que já foram lançados. Em especial o Ads, frente de retail media apresentada neste ano pela companhia e que conecta empresas e clientes por meio de ofertas de outras companhias no WhatsApp.
“A oportunidade do Ads é levar o retail media para o mercado offline”, diz Zolko. O foco desta e das outras verticais está em atender empresas de médio e grande porte. Entre elas estão companhias como Azul, Arezzo, Safrapay.
O Ads, atualmente, responde por apenas 5% do faturamento, que deve chegar a R$ 220 milhões neste ano. Ainda assim, Zolko acredita que há potencial para esse ser o carro-chefe do negócio dentro de dois anos. “Vai ser dez vez maior do que as duas outras verticais juntas”, diz o empreendedor.
Zolko refere-se aos produtos de giftback e vale-bônus. O primeiro é uma solução de cashback whitelabel que está presente em mais de 35 mil lojas e representa 50% do negócio. O segundo, que é um marketplace para recompensar clientes com créditos que podem ser usados em ofertas de terceiros, responde por 45% da operação.
Se conseguir impulsionar a terceira frente do negócio, Zolko acredita que poderá criar alternativa à Google e Meta, duas gigantes que dominam o mercado de publicidade. Segundo o empreendedor, o custo de aquisição por cliente pode ser um quarto do que nas plataformas dessas gigantes.
Ponto curioso é que a CRMBonus passa a competir contra a Meta usando um produto da própria empresa, o WhatsApp. Zolko afirma que a relação com a empresa de Mark Zuckerberg é boa e que, inclusive, o incentiva a trabalhar com o aplicativo.
O empreendedor também afirma que não teme mudanças na plataforma. “Dependendo do tamanho que a gente tome, acho que podemos virar um prospect da própria Meta”, afirma Zolko.
Se conseguir criar uma terceira via neste mercado, a CRMBonus poderá não apenas multiplicar suas receitas, mas também provar que Meeker, famosa por suas previsões sobre o futuro da internet, acerte, mais uma vez, em cheio.
Por conta do aporte, Daegwon Chae, sócio da Bond responsável pelo investimento na CRMBonus, vai assumir um assento no conselho da empresa.