Em meio ao inverno das startups, a Agrolend, uma fintech que financia pequenos produtores rurais com microcrédito para a compra de equipamentos e insumos agrícolas, está conseguindo um feito raro em 2022: duas captações em apenas 11 meses.
A primeira, em janeiro deste ano, levantou R$ 120 milhões em sua séria A. Agora, a Lightrock, fundo europeu que tem como seu principal investidor o LGT, instituição financeira pertencente à família real de Liechtenstein, está liderando uma rodada série B de R$ 145 milhões na Agrolend.
“O nosso plano é expandir a nossa carteira de crédito para R$ 2 bilhões em dois anos. Com o aporte, conseguimos manter uma alavancagem conservadora”, diz Andre Glezer, fundador e CEO da Agrolend, ao NeoFeed.
Participaram da rodada a Yara Growth Ventures, o corporate venture capital da Yara, fornecedora global em nutrição vegetal, e o Mago Capital, que tem os fundadores da Locaweb como sócios.
Os investidores da séria A, Valor Capital, Continental Grain Company, SP Ventures, Provence Capital e Barn Invest, que já investiram na Agrolend, também seguiram a captação.
O que levou a Agrolend a conseguir, em meio a restrição de capital, duas rodadas em um espaço tão curto de tempo? Em primeiro lugar, a fintech atua fornecendo crédito para o agronegócio, uma área que não vive em crise. Depois, e muito importante, ser uma empresa que apesar de ter pouco mais de dois anos de vida, está no breakeven.
“A Agrolend não queima caixa”, afirma Gustavo Verdelli, sócio da Lightrock. “Vamos ajudar o balanço (da Agrolend) a fornecer mais crédito e desafiar o roadmap estratégico daqui para frente. O crédito é só o começo.”
Esse é o primeiro investimento da Lightrock em uma agtech, como são conhecidas as startups tecnológicas que atuam no agronegócio. A gestora tem cinco unicórnios no portfólio latino-americano: as startups brasileiras Creditas, Dock e Frete.com, a chilena BetterFly e a mexicana Konfio.
De acordo com Verdelli, a gestora buscava ativos na área agro, mas encontrava empresas grandes que não eram escaláveis ou companhias em estágio muito inicial. “A Agrolend tinha um modelo provado, era escalável e precisava de capital”, diz o sócio da Lightrock.
Com os recursos da captação, a Agrolend aumenta sua base de capital para R$ 220 milhões, o que dá margem para esse salto bilionário em sua carteira de crédito. Neste ano, a carteira de crédito da fintech deve fechar em aproximadamente R$ 250 milhões, um crescimento de quase 10 vezes quando comparado ao fim de 2021.
Atualmente, a Agrolend financia os seus empréstimos através de FIDCs e Fiagros. Até agora, já foram três captações, que juntas somaram R$ 275 milhões. Mas o plano é começar a emitir CDBs LCAs, distribuindo em plataformas de investimentos como a da XP.
“É mais barato, mais flexível e mais simples de lidar no dia a dia. Conseguimos emitir muito mais”, diz Alan Glezer, fundador e CFO da Agrolend, referindo-se à captação via CDBs e LCAs. “É uma virada e atrai o investidor do varejo”.
Para poder emitir CDBs e LCAs, a fintech entrou também com um pedido no Banco Central para se tornar uma Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento, transformando-se em uma financeira. A aprovação é esperada para o ano que vem.
Crédito via WhatsApp
Fundada por Andre, Alan, Valéria Bonadio, Leopoldo Vettor e Carlos Fagundes, a Agrolend faz empréstimos sem garantia para pequenos produtores rurais para financiar a compra de insumos agrícolas como sementes e fertilizantes.
O objetivo é complementar a necessidade de capital desse público, que já está alavancado com outras instituições financeiras que cobram garantias reais, como a produção ou a propriedade. “Não competimos com o plano Safra, nem com o barter”, diz Alan, referindo-se ao crédito do Plano Safra e a forma de financiamento feita por fabricantes de insumos.
Para atender os pequenos produtores rurais, a Agrolend fez parcerias com uma rede de 100 revendas, que oferecem o crédito da fintech. A operação acontece toda em um smartphone via o WhatsApp.
De forma simples, o produtor rural recebe um link para fazer um cadastro, que dura em média 90 segundos. Depois, a solicitação é analisada pela Agrolend, que consulta oito bases de dados diferentes para criar um score de crédito proprietário e avaliar se empresta ou não o dinheiro.
Caso aprovado, o produtor rural recebe o contrato para assinar via WhatsApp e a operação está concluída O dinheiro é liberado em até sete dias. O aplicativo de mensagens da Meta (ex-Facebook) também envia os boletos para o cliente pagar as mensalidades.
A fintech diz que tem 0,5% de atrasos acima de 30 dias. A baixa inadimplência, de acordo com Andre, deve-se ao fato de o agro ser um bom pagador. Além disso, o dinheiro financia a compra de insumos. “Estou financiamento a semente, que vai gerar mais dinheiro. É um financiamento de baixo risco”, afirma o CEO da Agrolend.