Se durante a maior parte do período pós-pandemia foram os investimentos em rodadas early stage que prevaleceram, principalmente seed e pré-seed, agora omercado começa dar os primeiros sinais de que está aumentando o apetite por startups mais maduras. O movimento mais recente neste sentido vem da Eurofarma.
A gigante farmacêutica, que neste ano deve faturar quase R$ 9 bilhões, está reformulando a sua tese de investimento em startups e irá lançar seu terceiro fundo de corporate venture capital (CVC) no ano que vem. Conforme apurado com exclusividade pelo NeoFeed, o Neuron Ventures II terá R$ 150 milhões para investir em novos negócios.
O dinheiro será utilizado para fazer entre 10 e 12 investimentos, sendo metade deles em rodadas seed e com cheques de até R$ 5 milhões. O restante vai para rounds de série A com aportes de R$ 15 milhões. Uma fatia de até R$ 50 milhões será reservada para follow on.
"Faz sentido ampliar o leque em relação ao tamanho do investimento, porque isso possibilita gerar mais negócios para atender médicos e pacientes", disse uma pessoa familiarizada com o assunto.
Fontes ouvidas pela reportagem dizem que a expectativa é de que o novo fundo seja lançado no primeiro trimestre do ano que vem, mas os primeiros investimentos devem ser feitos somente na segunda metade do ano. No radar estão companhias que atuam no Brasil e nos Estados Unidos e que já tenham negócios com receita anual acima de R$ 10 milhões.
A tese ainda está em fase de análise, mas a tendência é buscar por startups que atuem com terapias digitais nas áreas de saúde feminina, oncologia e problemas relacionados ao sistema nervoso central.
O novo fundo também vai olhar mais ativamente para negócios que facilitem o relacionamento com os médicos. “São empresas que fornecem serviços que ajudem os profissionais a conhecerem e prescreverem produtos da Eurofarma", afirma a mesma fonte.
Esse será o terceiro fundo de investimento da Eurofarma. O primeiro veículo foi criado em 2019 com R$ 50 milhões e investiu em 10 startups. Neste, cheques variavam entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões e foram contempladas empresas como Psicologia Viva (comprada pela Conexa), Ocean Drop e JustForYou.
Essa última, inclusive, já está sendo considerada dentro da Eurofarma como uma das apostas que não deram certo. Com dívidas de R$ 26 milhões, a startup que fabrica xampus e condicionadores personalizados ingressou em agosto deste ano um pedido de recuperação judicial.
O segundo fundo é o Eurofarma Ventures, lançado neste ano para investir até US$ 100 milhões em startups de deep tech de mercados como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Israel. O NeoFeed apurou que dois investimentos, ambos nos EUA, já foram feitos até o momento, mas os acordos ainda são mantidos em sigilo.
Em relação ao mercado brasileiro, ainda pouco amadurecido em deep techs, o Eurofarma Ventures quer fazer o investimento em outros fundos especializados em deep tech. ]Um deles é gerido pela Grids Capital, gestora fundada por Guy Perelmuter e que administra um fundo de US$ 120 milhões. Procurada, a gestora não respondeu aos contatos da reportagem.
CVC em queda
Esses movimentos mais recentes da Eurofarma acontecem em um momento em que o mercado de corporate venture capital (CVC) está em baixa em relação a anos anteriores, quando o volume de investimentos em startups feito por empresas cresceu.
Nos primeiros 11 meses de 2023, os investimentos de corporate venture capital em startups brasileiras somaram cerca de R$ 270 milhões, segundo dados do Distrito. No ano passado, foi de R$ 925,2 milhões. Em 2021, o valor atingiu R$ 1,3 bilhão.
Ainda assim, algumas empresas desbravaram o mercado de corporate venture capital em 2023. A Braskem, por exemplo, firmou parceria com a Touchdown Ventures para auxiliar em investimentos da Oxygea.
A VLI, por sua vez, começou a estruturar seu fundo de investimento em startups. Outra empresa que anunciou novidades em relação ao seu fundo de CVC foi a Vivo, que tem R$ 320 milhões para investir em startups.
Procurada, a Eurofarma informou que não iria se manifestar sobre o assunto.