Desde que assumiu o comando da Vivo, em janeiro de 2019, o executivo Christian Gebara trabalha para que a empresa de telefonia seja reconhecida como uma companhia de tecnologia digital e não apenas como uma vendedora de conectividade.
Nesta quarta-feira, 13 de dezembro, a Vivo está encaixando mais uma peça no quebra-cabeça de Gebara para transformar a Vivo em uma empresa mais tech.
A operadora de telefonia está anunciando um investimento de R$ 25 milhões na Conexa, plataforma digital de saúde que anunciou, há pouco mais de um mês, uma fusão com a startup de terapia online Zenklub, acordo que ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O aporte acontece através da Vivo Ventures, no maior cheque já assinado pelo fundo de corporate venture capital da operadora de telefonia de origem espanhola, que tem R$ 320 milhões para investir. Esse é o quarto investimento do veículo, que já apostou em Klavi, Klubi e Digibee.
“Desde as primeiras conversas ficou claro o potencial que a Vivo tem para juntar forças com a gente”, afirma Guilherme Weigert, fundador e CEO da Conexa, em entrevista ao NeoFeed. “A visão estratégica faz todo sentido.”
Com o investimento, a Conexa traz para a sua base de acionistas, que já conta com General Atlantic, Kamaroopin, Goldman Sachs e Igah, um parceiro estratégico capaz de acelerar a distribuição de seus serviços por meio de uma base gigantesca de consumidores e de empresas.
Atualmente, a Vivo conta com 112 milhões de acessos (1 acesso é igual a um serviço e um consumidor pode comprar mais de um serviço) e tem também 1,5 milhão de empresas.
“A fortaleza da Conexa é a experiencia digital, tanto para o usuário, como para os parceiros e os médicos”, diz Rodrigo Gruner, diretor executivo de inovação e novos negócios da Vivo. “É um negócio com muitas oportunidades e temos muito para complementar e crescer.”
O investimento da Vivo na Conexa reforça sua tese de saúde. O aplicativo de meditação Atma tem 3 milhões de downloads e o Vale Saúde, comprado em março deste ano em um negócio que pode chegar R$ 60 milhões, é uma plataforma que tem 150 mil assinantes.
No caso do Vale Saúde, os consumidores pagam uma mensalidade para ter acesso a consultas (presenciais e telemedicina), exames e procedimentos cirúrgicos com descontos em uma rede credenciada com milhares de laboratórios e clínicas médicas em todo o Brasil.
Antes mesmo do investimento da Vivo, a Conexa já estava integrada ao Vale Saúde. Mas as possibilidades de escalar a plataforma de saúde digital são muitas. “Neste momento, de concreto, temos a relação com a Vale Saúde”, afirma Gruner. “Mas a Vivo pode ser cliente e podemos fazer a distribuição de produtos e serviços da startup.”
Além da área de saúde, a Vivo estendeu seus tentáculos em diversos outros segmentos. Em educação, por exemplo, tem uma joint venture com a Ânima, que oferece cursos online com certificados na plataforma Vivae.
Em serviços financeiros, o Vivo Money já forneceu R$ 307 milhões em crédito. As receitas com serviços financeiros, que incluem seguros e empréstimos pessoais, totalizaram R$ 106 milhões no terceiro trimestre deste ano.
“Acredito que ainda há um caminho para crescer com conectividade, que é meu core. Mas talvez no médio prazo não seja suficiente”, disse Christian Gebara, CEO da Vivo, em entrevista ao NeoFeed, em maio deste ano. “Quero ser uma conexão inteligente.”
Espaço para consolidação
A Vivo, antes de investir na Conexa, chegou a ter conversas com a Zenklub, que tinha a Kamaroopin como principal investidora. A fusão das duas operações, que precisa ainda ser aprovada pelo Cade, cria, no entanto uma empresa maior.
Quando estiverem unidas, as duas empresas devem ter um faturamento de R$ 250 milhões em 2024, 7 mil psicólogos, mais de 3 mil médicos e realizar mais de 600 mil consultas online por mês, metade delas ligadas à saúde mental.
“A nossa tese na área de saúde sempre foi criar um player digital grande”, afirma Bruno Tupinamba, sócio da Kamaroopin, que foi comprada pelo Pátria. “Isso é necessário para ganhar escala e competitividade.”
Conexa e Zenklub são também negócios complementares. A Conexa tem sua força na plataforma de telemedicina e entrou em terapia online com a compra da Psicologia Viva, rede focada em saúde mental, em 2021.
A Zenklub, por sua vez, é especializada em terapia online para empresas. Somadas, elas terão mais de 800 empresas como clientes, com nomes como Procter & Gamble, Mercado Livre, Inter, McDonald’s e Volkswagen.
Os serviços, atualmente, são oferecidos para oito das 10 maiores operadoras de saúde do Brasil, como Bradesco e Amil, o que significa que atendem mais de 20 milhões de vidas.
Antes do aporte da Vivo, a Conexa já tinha levantado mais de R$ 300 milhões. E a Zenklub, R$ 100 milhões. Mas a companhia ainda tem R$ 200 milhões em caixa, um sinal de que não precisava de dinheiro neste momento.
Com o caixa cheio, uma das estratégias da Conexa deve ser os M&As, avançando para criar uma plataforma de saúde digital cada vez maior. “Tem espaço para consolidação no mercado”, afirma Weigert. “Acredito que é um mercado de poucos players.”
O CEO da Conexa diz ainda que o dinheiro em caixa será também usado para marketing e venda, bem como para melhorar a experiência do usuário.