O Pátria, que tem mais de R$ 140 bilhões sob gestão, está exercendo sua opção de compra da Kamaroopin e assumindo 100% da gestora liderada por Pedro de Andrade Faria, em mais um movimento para aumentar sua diversificação de classes de ativos.

Quando anunciou a transação, em dezembro de 2021, o Pátria ficou com 40% da Kamaroopin em um negócio em dinheiro. Agora, Faria e seus sócios na Kamaroopin (Talita Lacerda, Beatriz Lutz e Bruno Tupinamba) estão recebendo ações do Pátria.

“Estamos reforçando a aliança e seguimos trabalhando de forma autônoma”, diz Faria, com exclusividade ao NeoFeed. Ele ficará à frente da Kamaroopin e integrará a vertical de private equity do Pátria.

Quando o acordo foi anunciado, a opção de compra do Pátria estava condicionada a alguns requisitos. Entre eles, a captação de um novo fundo de US$ 200 milhões para investir em growth.

Até agora, o fundo, que tem o Pátria como âncora, já levantou US$ 120 milhões. A captação deve fechar em março de 2024 e Andrade está otimista que conseguirá chegar aos US$ 200 milhões.

No primeiro fechamento do fundo, a Kamaroopin atraiu investidores brasileiros, acostumados a investir com a Tarpon, a gestora onde Andrade atuou por quase 20 anos. Em uma segunda etapa, trouxe LPs (limited partners) internacionais, capitaneados pelo Pátria.

Entre esses investidores internacionais está a Siguler Guff, gestora americana que tem mais de US$ 17 bilhões sob gestão e que, recentemente, tornou o brasileiro Cesar Collier, que comandava a América Latina desde 2011, em sócio global. Family offices de Cingapura e da Alemanha também participaram.

Agora, Faria conversa com investidores institucionais de agências de fomento para concluir a captação. “Temos negociações avançadas”, diz.

Ao assumir a Kamaroopin, o Pátria dá mais um passo em sua diversificação de classes de ativos. Quando fez seu IPO na Nasdaq e levantou US$ 625 milhões, em janeiro de 2021, a gestora tinha força em private equity e infraestrutura.

Ao longo desses mais de dois anos, o Pátria foi cada vez mais entrando em novas áreas, com crédito, public equities e real estate. Mais recentemente passou a atuar com venture capital e growth.

No primeiro caso, comprou a Igah, a gestora comandada por Pedro Melzer. Em growth, tinha feito um investimento minoritário na Kamaroopin.

Novos investimentos

Com os esforços de captação em fase final, a Kamaroopin deve acelerar seus investimentos. Desde que o Pátria assumiu uma fatia da gestora, a empresa comandada por Faria não esteve muito ativa nessa área.

Desde então, a Kamaroopin fez apenas um investimento, liderando o aporte de R$ 170 milhões na dr.consulta, em agosto de 2022.

Neste ano, a gestora também participou de uma nova rodada de R$ 125 milhões que marcou a entrada do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Agência Internacional de Cooperação do Japão (JICA, na sigla em inglês) na base de acionistas da healthtech .

O portfólio da Kamaroopin, além do dr.consulta, inclui a Zenklub (de saúde mental), a Consorciei (techfin) e StartSe (educação) e Petlove (e-commerce para pets).

Na visão de Faria, a área de saúde está bem coberta com o dr.consulta e Zenklub. Não há planos de fazer mais investimentos em educação. Os alvos, agora, climatechs e techfins, setores com boas oportunidades de investimentos.

Os aportes também não serão restritos ao Brasil. Faria diz que negocia dois investimentos fora do Brasil neste momento – uma empresa no Chile e outra na Colômbia.

A ideia é construir um portfólio concentrado, chegando a, no máximo, dez empresas. E, até o ano que vem, boa parte dos recursos captados devem estar investidos. Os cheques serão na faixa de US$ 20 milhões, mas sempre em conjunto com outros investidores, que podem aportar valores semelhantes.

Essa nova campanha de investimentos, que acontece agora com a captação do novo fundo avançada, reflete também o atual cenário de mercado, em que os valuations estão mais realistas, segundo Faria.

Esse panorama retrata também uma nova postura das empresas que estão trabalhando para crescer de forma rentável. O portfólio da própria Kamaroopin indica isso. StartSe e Consorciei, por exemplo, têm Ebitda positivo.

A dr.consulta estava no breakeven, o que deixou de acontecer após esses novos aportes. “Mas, em breve, voltará”, afirma. Petlove, nas palavras de Faria, está em seu melhor momento.

Outro sintoma que parece está começando a abrandar é o que ficou chamado de o inverno das startups. A própria Kamaroopin chegou a dar números a isso, com uma pesquisa que mostrou que faltavam US$ 2,4 bilhões de capital para growth na América Latina.