Se o colombiano David Vélez viu no Brasil a oportunidade de abrir um banco digital que mais tarde viria a causar uma grande dor de cabeça nas instituições financeiras tradicionais com o sucesso de seu cartão roxo, outros empreendedores latino-americanos também querem repetir o sucesso da Nubank no País que se tornou um berço aconchegante para as fintechs.
Desta vez quem tenta a sorte por aqui é o uruguaio Gabriel Roizner, fundador da Mozper. Fundada no fim de 2019 no México, a startup, que tem parceria com a Visa, oferece cartões de débito para crianças a partir de 6 anos e nos quais os gastos são controlados pelos pais por meio de um aplicativo.
Depois de quase um ano e meio operando no mercado mexicano – já que o serviço só estreou de fato em agosto de 2020 –, a startup finalmente desembarca no mercado brasileiro nesta quinta-feira, 27 de janeiro. Finalmente porque este já era um desejo antigo de Roizner.
Em entrevista ao NeoFeed Brasil ainda em 2020, o empreendedor, que antes da fintech já havia fundado as startups Tizzka e KienVe, afirmou que pretendia chegar ao Brasil ainda no primeiro semestre de 2021. Com a pandemia, os planos foram adiados.
“O Brasil estava no radar por ser um mercado imenso. É o maior da América Latina”, diz Roizner. De acordo com o empreendedor, a startup também vê com bons olhos uma expansão para a Colômbia. Não há data para isso, entretanto.
A chegada por aqui passa por algumas mudanças na operação em relação ao que estava sendo praticado no México. A principal é adaptar o negócio às ferramentas financeiras brasileiras. Principalmente no que diz respeito ao PIX.
Outras mudanças estão relacionadas com testes que deram errado no mercado mexicano e não devem ser repetidas no Brasil. Uma delas está no design dos cartões e das embalagens que são enviadas pela Loggi. Tudo foi redesenhado do zero.
A experiência no México também foi importante para que a companhia estabelecesse de vez o seu modelo de negócio. Em vez de cobrar por cada transação realizada – como uma tarifa para envio de dinheiro, outra para o recebimento, outra para a emissão de cartões –, a companhia juntou tudo num só pacote.
No modelo de negócio atual, a startup ganha dinheiro através da cobrança de assinaturas. O valor parte de R$ 19 por mês no plano anual ou R$ 25 com cobranças a cada mês.
O valor inclui o envio de cartões físicos personalizados para até quatro dependentes e cobre todas as transações feitas, como transferências por PIX, DOCs ou TEDs e o serviço de manutenção de conta.
O correntista só será cobrado de forma adicional se realizar saques em caixas eletrônicos das redes Banco 24Horas e Saque e Pague ou precisar de uma segunda via dos cartões físicos em caso de perda ou roubo.
Para conquistar clientes, a startup oferece um período de teste de 30 dias. De acordo com Roizner, no México, a taxa de conversão do teste para uma assinatura paga é de “quase 100%''.
Na prática, o negócio da Mozper é a digitalização da famosa mesada. Isso permite que os pais possam ter um controle maior sobre o que os filhos fazem com o dinheiro que lhes é dado.
O aplicativo permite criar metas para poupar o dinheiro, impedir que compras sejam feitas em determinados sites, criar categorias nas quais parte do dinheiro deverá ser gasta, entre outras funções. “O cartão é uma funcionalidade do aplicativo. Estamos construindo uma plataforma educativa”, diz Roizner.
No futuro, a startup pretende ampliar o leque de operações ao adicionar opções de rendimento e de investimento na plataforma. Não há previsão de quando isso será feito. “Para o futuro, temos um plano agressivo. Mas agora quero focar agora, em tarefas e ferramentas para poupar o dinheiro”, afirma o empreendedor.
A tendência é de que a Mozper capte mais dinheiro no mercado antes de aumentar sua linha de operação. Até o momento, a fintech recebeu somente US$ 5,1 milhões de investidores privados como Y Combinator e Foundation Capital em rodadas de pré-seed e seed.
Existe a expectativa de que uma nova rodada para levantar capital seja feita ainda neste ano, mas não há uma previsão exata de quando isso vai acontecer e nem do valor que a startup vai buscar.
Sem revelar quantos clientes têm ou dados relacionados à receita ou lucro da operação, a Mozper diz apenas que tem um crescimento médio de 32% ao mês no México e espera replicar o percentual no Brasil.
Isso deve ser feito aos poucos. Ainda mais pelo tamanho da operação no mercado brasileiro. Por ora são apenas seis funcionários e seis vagas em aberto. A expectativa ao longo do ano é ampliar a equipe que fica baseada num escritório em São Paulo.
Por aqui, a empresa enfrentará a competição de diferentes rivais. No setor bancário, bancos digitais como Inter, C6 Bank e Next, do Bradesco, já lançaram produtos voltados para o público com menos de 18 anos e com ferramentas de controle financeiro definidas pelos pais ou guardiões legais do correntista.
“A maioria dos produtos ofertados aqui oferece uma conta e um cartão para os jovens. Não somos uma instituição deste tipo, mas uma plataforma educativa em que o foco está na saúde e na educação financeira, em ensinar o valor do dinheiro”, diz Roizner.
Com uma operação mais semelhante está a Z1, fintech que tem o objetivo de ser a conta digital dos adolescentes. Em novembro do ano passado, a empresa captou R$ 55 milhões numa rodada de Série A liderada pela Kaszek e que também contou com a participação dos fundos MAYA Capital, Homebrew, Clocktower e Mantis.
Com modelos semelhantes, outras empresas estrangeiras já conseguiram conquistar um espaço mais relevante no mercado. No exterior, startups como a americana Greenlight e a britânica GoHenry já consolidaram suas plataformas, pelo menos perante o mercado.
A primeira já levantou mais de US$ 556 milhões em aportes, enquanto a segunda está num estágio mais inicial, com injeções de capital que somam US$ 66,2 milhões.