Em suas andanças profissionais, o uruguaio Gabriel Roizner já carimbou o passaporte em muitos países. Na América Latina, além de uma passagem pela Despegar.com, na Argentina, ele empreendeu no Chile e no Brasil.

No País, em 2013, fundou a Tizkka, plataforma de dicas e conteúdo de moda. Eleita como uma das dez startups latino-americanas mais inovadoras pela revista americana Fast Company, em 2016, a companhia foi vendida dois anos depois para a mexicana Cultura Colectiva.

Agora, Brasil e México estão no centro do novo roteiro de Roizner, que planeja desbravar um espaço ainda pouco explorado na região. Ele é um dos fundadores da Mozper, fintech que oferece cartões de débito, físicos e virtuais, para crianças, nos quais os gastos são controlados pelos pais, por meio de um aplicativo.

Fundada em dezembro de 2019, a startup lançou o serviço no mercado mexicano há uma semana. E já tem o Brasil como o primeiro país em seu roteiro de expansão.

“Nosso foco agora é tornar o produto mais robusto no México”, diz Roizner, em entrevista ao NeoFeed. “Ainda dependemos de algumas variáveis, mas estamos trabalhando para chegar ao Brasil até o primeiro semestre de 2021.”

Disponível para crianças a partir dos seis anos de idade, o modelo da Mozper é, na prática, uma evolução da famosa mesada, agora no plano virtual. Por meio de um aplicativo, os pais podem transferir dinheiro e definir uma série de regras, controles e filtros para os gastos dos filhos.

É possível estabelecer limites para saques em caixas eletrônicos e em quais lojas virtuais as crianças podem fazer compras, assim como escolher as categorias de produtos que podem ser consumidas. A plataforma também permite criar metas de poupança para comprar, por exemplo, uma bicicleta ou um smartphone.

No médio prazo, a ideia é adicionar opções de rendimento e de investimento na plataforma, que emite ainda alertas em tempo real para os pais sobre cada transação. Além de possibilitar a criação de uma agenda de tarefas a serem cumpridas para a transferência da mesada.

Gabriel Roizner, cofundador e CEO da Mozper

“Queremos ser o aplicativo financeiro para a família na América Latina”, diz Roizner. “Nosso plano é dar os ingredientes para que os pais decidam qual é a receita correta para a educação financeira de seus filhos.”

No México, a Mozper cobra uma mensalidade de 69 pesos (US$ 3), sem taxas adicionais, por cada cartão. Com a operação em fase de formatação, a fintech ainda não definiu o preço que irá praticar no Brasil.

Para construir a oferta na região, a companhia realizou pesquisas e compilou dados, que traçam um cenário do potencial desse mercado.

“Só no Brasil e no México, são cerca de 30 milhões de pessoas na faixa etária de 6 a 18 anos com smartphones”, afirma. “E esse público gasta aproximadamente US$ 30 bilhões por meio desses aparelhos.”

Quando desembarcar no mercado brasileiro, no entanto, a Mozper vai encontrar ao menos um concorrente de olho em parte dessas cifras. No fim de julho, o Banco Inter lançou a Conta Kids, destinada a crianças e adolescentes.

Em crescimento

Em outros mercados, como Estados Unidos e Reino Unido, essa tendência já tem mais expoentes e está ganhando terreno. As principais são a americana Greenlight e a britânica GoHenry,

A primeira tem mais de 500 mil assinantes e já captou US$ 81,5 milhões junto a investidores como JP Morgan, Wells Fargo e Drive Capital. Com o mesmo volume de usuários, a GoHenry levantou US$ 12,2 milhões em plataformas de equity crowdfunding.

A Mozper também está reforçando sua conta bancária. A startup acaba de receber um aporte liderado pelo fundo Dux Capital, com a participação de investidores-anjo. Levando-se em conta essa primeira rodada e a inclusão da startup no programa da aceleradora Y Combinator, a empresa já captou cerca de US$ 1,6 milhão.

Os recursos estão sendo usados para escalar e consolidar a plataforma no México. Em seu lançamento, a startup atraiu 13 mil usuários. A meta é fechar o ano com 25 mil clientes. No país, a fintech firmou parcerias com empresas como a Visa, para a bandeira do seu cartão, e com o banco Toka, que dá sustentação regulatória à operação.

A Mozper já captou cerca de US$ 1,6 milhão desde a sua fundação, em dezembro de 2019

Para a operação no Brasil, a Mozper planeja captar um novo aporte. A empresa já mantém conversações com investidores, locais e do exterior. E começa a costurar acordos com outros parceiros no País, entre eles, instituições financeiras que possam viabilizar sua atuação no país do ponto de vista regulatório.

Roizner é, no entanto, cauteloso sobre o desembarque oficial no País. “Há seis meses escrevemos nossa primeira linha de código e agora estamos com o produto no mercado”, diz. “Vamos dar um passo de cada vez. E com responsabilidade.”

Enquanto isso, a empresa segue acelerando o desenvolvimento de recursos para encorpar o serviço, como a oferta de análises e sugestão de controles de gastos, nos moldes do GuiaBolso.

Um campo que já começa a ser explorado são as parcerias com empresas de outros segmentos para conceder benefícios e descontos aos usuários da plataforma.

No México, a Mozper foi lançada na semana passada, com 13 mil usuários

“Buscar parcerias, especialmente fora dos serviços financeiros, é o que pode fazer mais sentido para viabilizar e rentabilizar as fintechs nesse espaço”, diz Bruno Diniz, fundador da Spiralem, consultoria especializada em inovação no setor financeiro. “Do contrário, fica difícil sair do nicho e capitalizar o modelo.”

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