A francesa Biomerieux, segunda maior empresa de análise laboratorial do mundo, com € 12 bilhões de em valor de mercado, comprou 100% do capital da Neoprospecta, startup de Florianópolis especializada em soluções de biotecnologia para a indústria alimentícia, que faturou aproximadamente R$ 10 milhões em 2023.
A transação — assessorada pela boutique Over A Capital, investida da igc Partners e contratada pela vendedora — foi feita em caixa à vista e não teve seu valor divulgado. Apesar de a Biomerieux estar presente em 150 países, incluindo o Brasil, essa foi a primeira aquisição feita pela multinacional no País.
A Neoprospecta buscava um comprador para escalar seu negócio. Com clientes no Brasil, Guatemala, Costa Rica, França e Estados Unidos, a startup tem o objetivo de internacionalizar ainda mais seu serviço, ganhando capilaridade global.
“A Biomerieux permite que nós possamos acessar outra camada de clientes, tanto aqui no Brasil como lá fora, que, por sermos uma startup e por não termos os recursos necessários, não conseguíamos”, avalia Luiz Fernando Valter de Oliveira, cofundador e atual CEO da companhia.
Fundada em 2011, a startup catarinense havia feito duas rodadas de captação até então. Em 2013, levantou R$ 500 mil em um investimento anjo. No ano seguinte, a rodada seed de R$ 4 milhões foi integralmente feita pela Cventures, o braço de gestão de investimentos em venture capital da Fundação Certi, que tem participação na Asaas, na Checkplant e na uMov.me.
Com a aquisição, os irmãos cofundadores Luiz Fernando e Luiz Felipe Valter de Oliveira seguirão na companhia. Luiz Fernando passa a ser head de serviços de genômica e dados para a América Latina e Luiz Felipe vai atuar como head de tecnologia.
Todos os 60 funcionários devem ser mantidos e um plano de retenção de talentos será implementado para evitar que profissionais estratégicos deixem o negócio na fase de transição.
O software tido como diferencial da Neoprospecta é o BiomeQuality, instalado nas fábricas para monitorar riscos de contaminação e rastrear microrganismos, sem a necessidade de paralisar a produção. Entre os clientes que já usam a solução estão JBS, BRF, Coca-Cola e Nestlé.
De acordo com Luiz Fernando, a tecnologia permite reduzir o tempo de detecção de um mês para três dias, diminuindo os custos logísticos.
“Um dos nossos clientes produzia queijos de longa maturação e estava com um problema de contaminação que mudava a coloração e o gosto dos queijos" afirma ele. "Isso afetava a produtividade porque levava a indústria a descartar todo o lote ou reprocessar, aumentando as perdas. Com a solução, conseguimos gerar conhecimento para tomada de decisão e resolver o problema.”
O fundador da Over A Capital, Felipe Petersen, diz que o mercado de M&As no segmento de testagem, inspeção e certificação anda aquecido e com bons múltiplos. Segundo ele, antes do deal, a francesa estava em busca de uma solução tecnológica para se proteger da concorrência.
“Mesmo sendo uma gigante listada na Europa, a Biomerieux não tinha o software que a Neoprospecta possui para detectar e prevenir contaminações em fábricas. A negociação foi rápida pela pressão competitiva, e conseguimos destravar preço porque as sinergias estavam claras”, afirma Petersen.