Pouco mais de um ano após captar um aporte de US$ 100 milhões, a Kovi, startup que atua com um serviço de locação de veículos, está recalculando seu percurso para ir além dos motoristas de aplicativos, um segmento que, até então, guiou todo o seu crescimento.

Para isso, nos últimos meses, a empresa estruturou um novo plano de locação de automóveis. Por trás destas novidades estão dois objetivos. O primeiro, diversificar a base de clientes em direção aos usuários das classes C e D. O segundo, dar maior peso aos contratos com maior duração.

“Está sendo feita uma recalibração. A gente entende que a locação do veículo é um serviço de mais longo prazo”, diz Bruno Poljokan, sócio e diretor de receita da Kovi em entrevista ao NeoFeed.

Em testes desde o ano passado, o Kovi Próprio é a terceira opção de locação de veículos da startup. O novo plano permite que os carros sejam emprestados por períodos de até 48 meses, com preços mais em conta na assinatura do que as ofertas com vencimento mensal e anual.

O diferencial é a possibilidade de adquirir os veículos alugados após um período mínimo de 24 meses de locação. Nesse caso, a compra deverá ser feita à vista. Caso o cliente permaneça por mais tempo com o automóvel, terá desconto no preço. Se o prazo for de 48 meses, além de um desconto máximo de 30% no valor registrado na tabela FIPE, o motorista também poderá adquirir o carro financiado em até 18 vezes.

A ideia de lançar um plano de “longuíssimo prazo”, como definiu o executivo, está na busca por clientes de diferentes perfis. Enquanto as modalidades de locação mensal e anual atraíam principalmente motoristas de aplicativo, o novo plano é voltado para quem não usa o carro necessariamente como ferramenta de trabalho, num movimento que aproxima a startup do modelo explorado por locadoras mais tradicionais.

Vale lembrar que, no ano passado, Adhemar Milani Neto, CEO da Kovi, afirmou ao NeoFeed que a Kovi olhava para o carro “como objeto de uso e não de desejo e de posse”.

Essa abertura de leque tem relação direta com o momento do mercado de aplicativos de transporte. Com a disparada de preços no valor dos automóveis e dos combustíveis, empresas como Uber e 99 lutam para manter os motoristas em suas plataformas.

Nessa semana, a 99 lançou uma nova regra na tentativa de atrair novos motoristas para sua base. A companhia vai passar a cobrar uma taxa máxima semanal de 19,99% em cima dos valores das corridas para quem realizar ao menos 10 viagens por semana. Até então, a taxa que ficava com a empresa era variável e poderia chegar a percentuais próximos de 40%.

A Kovi não foi a única empresa de locação a surfar na onda dos aplicativos de transporte. Locadoras tradicionais, como Localiza, Unidas e Movida, também acompanharam de perto essa demanda. O mesmo foi feito por montadoras como  RenaultVolkswagen e Stellantis, que lançaram seus próprios planos de assinatura de veículos.

Freio de mão puxado?

Quando captou os US$ 100 milhões na rodada de série B liderada pelo Valor Capital e pela Prosus Ventures, a Kovi tinha como plano expandir sua operação que até então estava nas principais capitais brasileiras e na Cidade do México. Países como Colômbia, Chile e Argentina estavam no radar. “Queremos chegar às grandes capitais da América Latina”, disse Neto na época.

Entretanto, desde então, pouco foi feito nesse sentido. “No último ano, a gente não expandiu para novas cidades”, afirma Poljokan. De acordo com o executivo, os planos para a chegada em novas praças ainda permanecem, mas essa “é uma estratégia de médio e longo prazo”.

Polkojan conta que o dinheiro captado na última rodada vem sendo utilizado para investir em tecnologia e desenvolver produtos (como o Kovi Próprio). Uma parte do montante também foi direcionado a expansão da frota de automóveis.

A Kovi terminou o ano passado com cerca de 11 mil automóveis em circulação. A meta para este ano é aumentar este número em 70%, o que aproximaria a companhia dos 20 mil automóveis alugados. Para 2023, a previsão de crescimento fica entre 50% e 75%.