Primeiro unicórnio brasileiro, a 99, até por esse status, tornou-se um dos principais berços de novas startups no País. Foi nos corredores da empresa, por exemplo, que Adhemar Milani Neto e João Costa se conheceram e começaram a desenhar o percurso e o modelo que os levaria a fundar a Kovi, em 2018.

Passados dois anos e US$ 40 milhões em dois aportes desde então, a startup de carros por assinatura está trazendo novos investidores para essa jornada. A Kovi acaba de captar US$ 100 milhões em uma rodada série B liderada pelo Valor Capital e que tem como colíder a Prosus Ventures (ex-Naspers).

Outros novos nomes estão embarcando no aporte: os fundos Ultra Venture Capital fundo de venture capital do Grupo Ultra; Globo Ventures, fundo da família Marinho; e o family office de Peter Thiel, cofundador do PayPal. Quona, Global Founders Capital, MAYA Capital, Monashees, OneVC e Justin Mateen, cofundador do Tinder, que já investiam na operação, completam a rodada.

“Esse aporte chega com um foco muito grande de expansão internacional”, afirma Neto, cofundador e CEO da Kovi, em entrevista ao NeoFeed. “E, também, de seguir desenvolvendo tecnologia e barreiras de entrada para acelerar o nosso desenvolvimento.”

Presente nas principais capitais brasileiras e na Cidade do México, onde mantém uma estrutura com 40 pessoas, a Kovi ainda está definindo os próximos pontos e também quando eles serão adicionados ao seu mapa de operações. Mas já avalia a entrada em países como Colômbia, Chile e Argentina.

“Queremos chegar às grandes capitais da América Latina”, observa Neto. “Mas entendemos que o nosso modelo tem potencial global e cabe também em outros países em desenvolvimento, como Turquia, Grécia e África.”

O modelo ao qual o empreendedor se refere é asset light. A Kovi mantém acordos para o aluguel de carros de montadoras como Volkswagen, Renault e Toyota, além de pequenas locadoras de veículos. A oferta inclui automóveis hatch, sedan e sedans premium do estoque desses parceiros.

A startup acrescenta um pacote de serviços a essa frota, que passa por ofertas como seguros, software de rastreamento, assistência 24 horas, sistema de pagamentos e aplicativo para o motorista, além de uma carteira digital.

A ideia é eliminar qualquer burocracia e fornecer uma alternativa às altas taxas de financiamento dos bancos para a compra de um veículo e também ao aluguel em locadoras de grande porte. A proposta nasceu centrada nos motoristas de aplicativos, mas a Kovi ampliou seu foco recentemente.

Com uma base atual de 11 mil motoristas, a empresa tem duas opções de planos de locação. A primeira, de no mínimo um mês, dá acesso a um carro seminovo. Já no segundo formato, anual, os veículos disponíveis são zero quilômetro. Em ambos os pacotes, o pagamento é por quilômetro rodado.

“Funciona tanto para um motorista que trabalha 60 horas por semana quanto para aquele que simplesmente quer fugir das taxas dos bancos, de pagar seguro, IPVA, manutenção”, diz Neto. “Basicamente, nós olhamos o carro como objeto de uso e não de desejo e de posse.”

Além de ajudar a levar esse conceito para fora do País, a nova rodada será direcionada ao desenvolvimento de tecnologia. Uma das frentes, mais centrada no conceito de internet das coisas, inclui sistemas de bloqueio e desbloqueio remoto e o uso de machine learning.

Nessa última aplicação, o foco será o comportamento do motorista ao volante, uma abordagem que pode abrir caminho para o desenvolvimento de outros produtos para compor o portfólio da startup.

“Nossa frota já nasce 100% conectada e nossos motoristas rodam 40 milhões de quilômetros todos os meses”, diz Neto. “A grande oportunidade é a geração de dados, seja de condução, de onde os carros são furtados, de manutenção e de sinistros.”

Na trilha do aporte e dos planos de expansão, a empresa também prevê a ampliação do seu time, formado atualmente por cerca de 700 profissionais. Embora não tenha um número fechado, a ideia é reforçar as equipes nas áreas de tecnologia, produto, operação e experiência.

“Estamos surfando três grandes ondas: os carros por assinatura, a gig economy e a transformação da mobilidade urbana”, ressalta Neto. “Tudo está se reinventando, das montadoras ao modelos de compra e venda de carro e à última milha. E estamos no centro de tudo isso.”

A Kovi não é, porém, a única a investir nesse modelo. O mercado brasileiro já conta com serviços de carro por assinatura ofertados, por exemplo, por grandes montadoras, como Renault, Volkswagen e Stellantis.

O segmento também conta com alternativas desenvolvidas pelas três maiores locadoras de automóveis do País. A Localiza,  com o Localiza Meoo, a Unidas, com o Unidas Livre, e a Movida, com o Movida Zero KM.

“Já havia um início de movimentação em torno desse formato, mas isso era restrito a um público menor”, afirma Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. “Com a pandemia, as restrições de saúde e a redução do poder de compra, esse modelo está começando a atrair cada vez mais demanda.”