Quão rico você é? Oito em cada dez americanos se consideram muito ricos — ricos de felicidade. Apenas 49% associam o prazer de viver ao saldo na conta bancária.

Pelo menos é o que indica o levantamento anual da multinacional de serviços financeiros Charles Schwab no relatório 2025 Modern Wealth Survey, divulgado na quarta-feira, 9 de julho. Mas, calma! Não se trata de um elogio à máxima de que “dinheiro não traz felicidade". Longe disso.

Como não há paz de espírito com saldo negativo, o mesmo estudo revela: hoje, nos Estados Unidos, as pessoas só se sentem financeiramente confortáveis com um patrimônio líquido médio de US$ 839 mil — o segundo maior valor apurado pela instituição desde 2021, depois do US$ 1 milhão registrado em 2023. No ano passado, a conquista do bem-estar econômico dependia de US$ 778 mil.

Depois de ouvir 2,2 mil mulheres e homens, entre 21 e 75 anos, entre abril e maio passados, os pesquisadores descobriram que, quando o assunto é riqueza monetária, a régua sobe para US$ 1,461 milhão.

Conforme o novo estudo, a população americana está convicta de que são necessários US$ 2,3 milhões para que alguém possa ser considerado rico. Um valor ligeiramente inferior aos US$ 2,5 milhões de 2024, mas consistente com a série histórica.

“Embora o valor em dólares para ser considerado rico tenha permanecido relativamente constante nos últimos anos, os americanos ainda afirmam que a barreira para alcançar riqueza financeira parece estar aumentando”, lê-se em 2025 Modern Wealth Survey.

Para quase dois terços dos entrevistados, exatos 63%, é preciso mais dinheiro para ser rico hoje em comparação ao ano passado. A piora da economia, a alta da inflação e o aumento de impostos estão entre os principais motivos para a percepção de agora.

Status: rico

Mesmo assim, apesar do cenário pouco favorável, quase metade dos entrevistados já encontrou ou se considera no caminho certo para conquistar a tranquilidade financeira. E um em cada três diz possuir um patrimônio líquido condizente com o status de rico.

"Na prática clínica, o mais importante não é o valor absoluto, mas a sensação de controle. O que observamos com frequência é que a ausência de organização financeira, o acúmulo de dívidas ou a incerteza sobre o futuro provocam sintomas emocionais relevantes: irritabilidade, insônia, sensação de fracasso e, em muitos casos, evitação de qualquer assunto relacionado a dinheiro", diz Luciana Benedetto, neuropsicóloga da healthetch BurnUp, em entrevista ao NeoFeed.

"Ou seja, o conforto financeiro está menos associado ao quanto se ganha e mais à capacidade de lidar emocionalmente com as próprias finanças, de forma estruturada e estável", complementa.

Dos consultados pela Charles Schwab, não há grupo mais otimista do que as novas gerações. Para os nascidos entre 1997 e 2003, os zoomers, o conforto monetário é atingido com um patrimônio líquido médio de US$ 329 mil — e esse valor vem caindo desde 2022, quando foi de US$ 462 mil.

Na outra ponta estão os boomers, nascidos entre 1948 e 1964, que precisam de quase US$ 950 mil para se sentirem tranquilos financeiramente. E aumentando… há três anos, eles se sentiam confortáveis com US$ 811 mil.

Quando analisadas outras pesquisas de comportamento, é fácil entender por que os mais jovens se contentam com menos. Os gen Z e também os millennials valorizam mais viver experiências do que possuir bens e costumam ainda pautar sua rotina por propósitos socioambientais. Outra explicação está no fato de que a maioria deles cresceu em meio à instabilidade econômica.

O preço da felicidade

Desde a Antiguidade, pensadores e acadêmicos tentam precificar a felicidade. Não é fácil. Afinal, a percepção de riqueza beira o “pessoal e intransferível” e é pautada pela combinação de uma gama enorme de fatores.

As emoções e os comportamentos, por exemplo, são decisivos no modo como lidamos com o dinheiro, defende o americano Morgan Housel, no livro A psicologia financeira — Lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade.

"As pessoas não tomam decisões financeiras com planilhas. Elas o fazem na mesa de jantar, em situações que envolvem história pessoal, visão única do mundo, ego e orgulho", disse ele ao NeoFeed, por ocasião do lançamento da obra.

Alcançar conforto financeiro e riqueza é mais fácil para os que se identificam como poupadores e investidores

Psicólogo, professor da Universidade Princeton e ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002, Daniel Kahneman foi um dos primeiros a estudar o preço da felicidade. Em 2023, ele e Matthew Killingsworth, pesquisador da Escola Wharton, da Universidade da Pensilvânia, chegaram ao valor de US$ 500 mil.

Em artigo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, eles mostram que nossa felicidade é tanto maior quanto maiores são nossos rendimentos anuais, pelo menos, até o teto de meio milhão de dólares. A partir dele, mais dinheiro não faria tanta diferença — será?

Um outro trabalho, esse da Universidade de Oxford, na Inglaterra, revela uma relação logarítmica entre ter rendimentos maiores e bem-estar emocional.

Suponhamos que você ganhe R$ 30 mil por mês e seu salário salte para R$ 60 mil. Se os R$ 60 mil sobem para R$ 90 mil, você provavelmente ficará contente, mas não com a mesma intensidade experimentada dos R$ 30 mil para os R$ 60 mil.

Para a mesma recompensa emocional, seus rendimentos deveriam dobrar novamente, para R$ 120 mil, e assim, sucessivamente, mostra a pesquisa liderada pelo belga Jan-Emmanuel De Neve, professor de Economia e Ciências Comportamentais, da universidade inglesa.

De Neve também encontrou um patamar semelhante ao anotado por Kahneman e Killingsworth, a partir do qual ter mais dinheiro faz menos diferença em termos de retorno emocional.

"A riqueza pode oferecer segurança e acesso a recursos importantes, mas não garante felicidade duradoura", explica a neuropsicóloga Luciana. "Isso ocorre, entre outros motivos, por causa do fenômeno conhecido como adaptação hedônica, que mostra como o ser humano tende a se acostumar rapidamente a ganhos materiais ou conquistas."

Como preconizava, lá no século 2, o filósofo grego Epicteto: “A riqueza não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades”. Mas, defina “poucas necessidades”.