Em meados de 2019, a Ultrapar, holding responsável pela Ipiranga, Ultragaz, Ultracargo, Oxiteno e Extrafarma, começou a construir um caminho para reverter a trajetória de seguidos resultados frustrantes, iniciada no primeiro trimestre de 2018.

Esse percurso foi interrompido com a Covid-19. A quarentena imposta e a redução da circulação de veículos nas ruas afetou, em especial, a operação da rede de postos de combustível Ipiranga, o carro-chefe do grupo.

Ao divulgar seu balanço do terceiro trimestre de 2020, a Ultrapar ressaltou, porém, que “o pior já passou” e sinalizou que pode estar retomando a trilha pré-pandemia para resgatar a confiança do mercado.

“Já estamos sentindo a retomada da atividade econômica”, afirmou Frederico Curado, CEO da Ultrapar, em teleconferência com analistas nesta quinta-feira, 5 de novembro. “Agora, temos dois cenários: um de recuperação e de algumas poucas correções de rumo, e outro de preparação para um ciclo diferente de crescimento.”

Nessa última ponta, o executivo destacou a perspectiva da entrada da Ultrapar no segmento de refino. A holding é um dos nomes confirmados na disputa pela Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras.

“É um projeto importantíssimo, de grande vulto, e uma oportunidade rara”, disse Curado, sobre a eventual estreia no segmento, a partir da compra do ativo. “Temos uma sinergia bastante grande no setor, seja com a Ipiranga, com a Ultragaz ou a com a Ultracargo.”

Questionado sobre a possibilidade de buscar parceiros estratégicos para compor a oferta pela refinaria da Petrobras, o executivo respondeu que o modelo está em avaliação e seria “desejável”.

“Mas não condicionamos a disputa a ter um sócio”, disse. “Temos alternativas de fazer isso de maneira independente”, observou Curado, que também afirmou que o grupo está em fase de estudos preliminares para uma eventual entrada no segmento de gás Natural.

Além da abertura de novas frentes, a Ultrapar destacou alguns ajustes e projetos que estão sendo tocados nos negócios do seu portfólio. A rede da Ipiranga é um dos focos. Entre a abertura e o fechamento de unidades, a empresa encerrou o trimestre com duas adições líquidas e 7.107 postos de combustíveis.

“Temos focado em postos com maior galonagem”, disse Rodrigo Pizzinatto, diretor financeiro e de relações com investidores. “A ideia é crescer o volume sem necessariamente ter que expandir muito o número de unidades.”

Ainda nesse espaço, a rede de lojas de conveniência am/pm tem um projeto de reestruturação em andamento. A iniciativa passa por frentes como novo layout, com maior espaço para o consumo de produtos, e um novo mix de ofertas, com a ampliação de categorias como food services, mercearia e higiene e beleza. Com 1.178 lojas, o plano é estender a presença da marca na rede de postos Ipiranga.

O desempenho da Ipiranga foi um dos pontos destacados no balanço. Apesar de uma queda de 11% no volume de vendas entre julho e setembro, na comparação com um ano antes, houve um salto de 20% em relação ao segundo trimestre. “Tivemos quedas menores na comparação com o segundo trimestre, o que confirma a recuperação gradativa da circulação de carros e do consumo”, disse Pizzinatto.

A Ipiranga foi também um dos aspectos ressaltados em relatório do BTG Pactual. “Um portfólio resiliente e a rápida recuperação da Ipiranga impulsionou a Ultrapar depois de um dos mais fracos segundos trimestres em uma década”, escreveram os analistas Thiago Duarte e Pedro Soares, que destacaram ainda negócios como a Ultragaz e a Extrafarma.

De julho a setembro, a Ultrapar apurou um lucro líquido de R$ 277 milhões, queda de 10% sobre o mesmo período de 2019. A receita líquida teve uma retração de 11%, para R$ 20,7 bilhões. Apesar dos recuos, os indicadores ficaram acima das expectativas dos analistas.

No pregão da B3, o desempenho das ações parece confirmar as boas perspectivas de retomada da confiança para a Ultrapar. Cotados a R$ 18,70, os papéis da empresa operavam com alta próxima de 9% por volta das 14h.

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