O americano Brian Requarth conhece bem o caminho das pedras de empreendedores em busca de capital para suas startups. Fundador do site de imóveis Viva Real, ele vendeu a empresa para a OLX por US$ 550 milhões no fim de 2021. Mas não sem antes escalar o negócio, captando mais de US$ 74 milhões junto ao mercado.
Nesta segunda-feira, 28 de março, o empreendedor deu mais um sinal de que conhece bem o jogo e captou US$ 11,5 milhões em uma das maiores rodadas seed da América Latina. O dinheiro vai impulsionar a operação da Latitud, ecossistema de startups criado por Requarth, Gina Gotthilf e Yuri Danilchenko e que ajuda a conectar empreendedores com investidores.
Liderada pela empresa de venture capital americana Andreessen Horowitz (a16z), a rodada contou ainda com a participação de investidores como Endeavor, Canary, FJ Labs e NfX. Fundadores de startups como Nubank, Kavak, Rappi, Creditas, dLocal, Bitso, Auth0 e Cornershop, também injetaram capital na operação.
O aporte da Latitud ainda pode aumentar de valor, já que a rodada não está fechada. Dessa vez, porém, a busca é por outro tipo de investidor. Em evento online marcado para o dia 5 de abril, a companhia vai explicar os procedimentos para permitir que qualquer pessoa possa se tornar um investidor do negócio.
Os recursos obtidos nesta rodada vão ajudar a escalar a operação da Latitud, que afirma já ter auxiliado startups a levantar mais de US$ 250 milhões em aportes desde a fundação do ecossistema, em 2020. O negócio é voltado para negócios em early stage, tanto que a avaliação coletiva dessas startups soma apenas US$ 1,5 bilhão.
O aporte deve ajudar a companhia na construção de uma nova identidade perante o mercado. Mais do que uma comunidade para startups, a Latitud quer ser vista como uma empresa de tecnologia que desenvolve produtos para ajudar a retirar barreiras no caminho dos empreendedores.
“Tudo começa com uma comunidade que passamos a conhecer as dores dos empreendedores”, afirma Requarth, cofundador e CEO da Latitud, em entrevista ao NeoFeed. “Escalamos isso e ficou mais claro que deveríamos desenvolver produtos para resolver esses problemas.”
Os esforços neste sentido de escalar a operação já começaram há algum tempo. No ano passado, por exemplo, Requarth criou um fundo para investir em novos negócios com cheques de até US$ 250 mil.
No fim do ano, outra novidade: o lançamento do Latitud Launch, uma ferramenta para permitir que startups de tecnologia da América Latina possam apresentar seus produtos e estabelecer conexões com clientes e investidores através de uma plataforma que lembra um “marketplace de startups”.
Em fevereiro deste ano, a companhia lançou o Latitud Go, uma solução para baratear e baratear os processos de abertura de empresas, captação de investimentos e operações de saída, evitando o pagamento de impostos desnecessários. Tudo dentro da lei.
Neste campo, a Latitud ganhou a concorrência recente da Kamino, que conta com uma solução semelhante para auxiliar as empresas na abertura de operações offshore. A startup que tem entre seus fundadores Benjamin Gleason (ex-Guiabolso) recentemente levantou US$ 6,1 milhões em seed money.
“A gente começou a retirar esses obstáculos do caminho dos empreendedores latino-americanos através de educação em comunidade”, diz Gina, cofundadora e COO da Latitud. “Agora estamos criando plataformas de tecnologia para solucionar problemas em grande escala e é para isso que vai a maior parte do aporte.”
Semente cara
Mesmo que permaneça no valor atual, esta é uma das maiores captações em rodada seed já feitas no Brasil. A rodada é maior, por exemplo do que a realizada pela Kovi em 2019, quando a startup de locação de veículos levantou US$ 10,6 milhões junto a investidores como Monashees e Y Combinator.
No contexto da América Latina, dados da consultoria Transactional Track Record (TTR) apontam que duas startups mexicanas que operam com soluções de e-commerce, a Quinio e a Wonder Brands, já captaram US$ 20 milhões cada em suas rodadas de seed money.
Já Valoreo, que também opera com comércio eletrônico adquirindo e escalando negócios digitais, obteve US$ 50 milhões um seed realizado em fevereiro do ano passado junto a empresas como FJ Labs, Angel Ventures, Presight Ventures, entre outras. Desde então, levantou mais de US$ 110 milhões em rodadas posteriores.
O tíquete médio de investimentos seed em startups brasileiras vem crescendo nos últimos, conforme mostra um estudo realizado pela Distrito. O valor ano no passado foi de US$ 1,6 milhão, 37% a mais do que em 2020 e o dobro do que era aplicado pelos investidores em 2018, por exemplo. Para 2022, a previsão é que o valor médio suba para US$ 2,3 milhões.