Consideradas as pioneiras da chamada gig economy, as plataformas de transporte passaram muito tempo no vermelho. Elas queimavam caixa e geravam dúvidas quanto ao modelo de negócios. Mas, entre um ajuste e outro, combinado com uma racionalização do mercado, Uber e Lyft estão, finalmente, começando a entregar resultados.

Depois de trimestres seguidos de resultados fracos, a Lyft deu sinais de que uma volta por cima está próxima. Lançada em 2012 para concorrer com o Uber, a companhia vem buscando reduzir suas perdas, algo que conseguiu no quarto trimestre de 2023, como mostram os resultados divulgados na noite de terça-feira, 13 de fevereiro.

O prejuízo diminuiu 95,5% frente às perdas apuradas no mesmo período de 2022, para US$ 26,3 milhões. A receita de US$ 1,2 bilhão subiu 4% em base anual, em linha com a média das expectativas de analistas ouvidos pela consultoria FactSet citados em reportagem do jornal The Wall Street Journal.

“Nós entramos em 2024 com bastante força e um foco claro em excelência operacional, o que posiciona a companhia a ter uma expansão de margens significativa e nosso primeiro ano completo com fluxo de caixa positivo”, diz a CFO da Lyft, Erin Brewer, no balanço da companhia.

Nem um "erro no caminho" foi capaz de tirar a força de alta da ação da companhia. Em vez de informar que esperava um aumento de 50 pontos-base (0,5 ponto percentual) de margens em 2024, o material sobre o desempenho no quarto trimestre apresentava uma projeção de crescimento de 500 pontos base (5 pontos percentuais). Na teleconferência com analistas, Brewer fez a correção e afirmou que foi um erro de digitação.

No pós-mercado de ontem, o papel da Lyft acumulou alta de mais de 60%. Na quarta, 14, o desempenho e as promessas para 2024 confirmam o impulso na ação. Por volta das 14h20, os papéis subiam 32,4%, a US$ 16,06, levando o valor de mercado da empresa a somar US$ 6,4 bilhões, abaixo dos US$ 24,3 bilhões em que foi avaliada em 2019, no IPO.

Já a Uber parece ter passado a arrebentação. Fundada em junho de 2010, a companhia foi quem introduziu a ideia de uma plataforma que intermediasse e organizasse serviços entre prestadores de serviços autônomos e o público. O modelo se mostrou bem-sucedido, com a companhia atuando em mais de 10,5 mil cidades em 70 países.

Os resultados, porém, vieram com um pouco mais de atraso do que os investidores esperavam quando a companhia abriu o capital, em maio de 2019, e após ela corrigir a rota e abandonar a ideia de que poderia queimar caixa enquanto estivesse crescendo.

Primeiro veio o fim da sangria de caixa, em agosto de 2022, cumprindo com a meta traçada pelo CEO Dara Khosrowshahi para aquele ano. Um ano depois, a Uber registrou seu primeiro lucro, de US$ 394 milhões, além de apresentar um valor de mercado de US$ 158,5 bilhões, acima dos US$ 82,4 bilhões do IPO.

A sustentabilidade do modelo de negócios da Uber ficou evidente na semana passada, quando a companhia teve seu primeiro resultado positivo, de US$ 1,43 bilhão em 2023. De 2016 até o primeiro trimestre de 2023, a empresa acumulou perto de US$ 30 bilhões em perdas operacionais, segundo a S&P Global Market Intelligence.

A situação permitiu à Uber anunciar nesta quarta-feira, 17 de fevereiro, um programa de recompra de ações de até US$ 7 bilhões, embarcando no movimento de outras companhias de tecnologia, como Meta, que no começo do mês ampliou seu programa de recompra de ações a US$ 50 bilhões e anunciou o primeiro pagamento de dividendos de sua história.

“O ano de 2023 foi um ponto de inflexão para a Uber, provando que podemos continuar gerando crescimento robusto e lucrativo em escala”, diz Khosrowshahi no balanço da companhia. As ações da Uber subiam 11,75%, a US$ 77,10 nesta quarta-feira.

Ainda que o horizonte esteja mais claro para as empresas, isso não significa que não enfrentam percalços pelo caminho, especialmente a Lyft. Mesmo com os resultados do quarto trimestre, a FactSet apurou que as ações da empresa têm sido alvo de operações short, com investidores ainda esperando para ver, considerando os trimestres anteriores ruins.

Segundo o levantamento, as posições short representam quase 12% das ações da Lyft, enquanto na Uber é de apenas 3%.