O investidor Marc Andreessen, um dos fundadores da gestora de venture capital Andreessen Horowitz, tem uma opinião negativa e outra positiva sobre a crise do coronavírus.
Em um extenso artigo publicado no site da Andreessen Horowitz, Marc abordou a falta de preparação e de respostas dos principais países ocidentais à pandemia do coronavírus.
E apresentou sua solução: reacender o desejo de construir coisas significativas. “Temos o dinheiro, temos o know-how, mas não temos o desejo”, escreveu ele, no artigo intitulado “É hora de construir”.
Marc é uma das pessoas mais influentes do Vale do Silício. Ao lado de Ben Horowitz, ele criou a Andreessen Horowitz, uma gestora de venture capital com US$ 2,7 bilhões de fundos sob gestão e aportes em mais de 700 startups.
Desde que surgiu, em 2009, logo depois da crise financeira global, a Andreessen Horowitz já fez apostas em estágios iniciais de empresas como Facebook, Instagram, Lyft e Pinterest. No Brasil, a gestora investe na Loft, startup de compra e venda de imóveis.
Marc é também o lendário fundador da Netscape, a empresa que criou um dos primeiros browsers gráficos para navegar na internet e que, nos anos 1990, desafiou a Microsoft.
No artigo, Marc diz que “esse fracasso monumental reverberará pelo resto da década”, referindo-se ao insucesso no combate a Covid-19. “Muitos de nós gostariam de atribuir a causa a um partido político ou a um governo. Mas a dura realidade é que tudo fracassou - nenhum país, estado ou cidade ocidental foi preparada.”
Ele observa que, nesta crise, o olhar está voltado para as coisas que não se têm. “Não temos testes suficientes de coronavírus ou materiais de teste - incluindo, surpreendentemente, cotonetes e reagentes comuns. Não temos ventiladores suficientes e leitos de UTI. E não temos máscaras cirúrgicas, protetores oculares e aventais médicos suficientes. Enquanto escrevo, a cidade de Nova York fez um apelo desesperado para que as capas de chuva sejam usadas como aventais médicos. Capas de chuva! Em 2020! Nos EUA!”
A partir dessa constatação, Marc começa a questionar a razão de não se ter coisas tão básicas. E conclui que se optou por não construir: desde as coisas mais simples até as mais sofisticadas, que poderiam transformar diversos setores, como educação e transporte. “Você não vê apenas essa complacência presunçosa, essa satisfação com o status quo e a falta de vontade de construir, na pandemia ou na área da saúde em geral. Você vê isso ao longo da vida ocidental.”
Para ele, o problema não é dinheiro. “Parece difícil de acreditar quando temos dinheiro para travar guerras sem fim no Oriente Médio e resgatar repetidamente bancos, companhias aéreas e montadoras”, escreve. E arremata: “O problema é o desejo. Precisamos querer essas coisas. O problema é a inércia.”
"Na verdade, acho que construir é como reiniciar o sonho americano"
Para Marc, é a hora para investimentos agressivos em novos produtos, em novos setores, em novas fábricas e em nova ciência. “Na verdade, acho que construir é como reiniciar o sonho americano. As coisas que construímos em grandes quantidades, como computadores e TVs, caem rapidamente no preço. As coisas que não fazemos, como moradias, escolas e hospitais, disparam de preço.”
O investidor admite que construir não é fácil. “Precisamos exigir mais de nossos líderes políticos, de nossos CEOs, de nossos empreendedores, de nossos investidores. Precisamos exigir mais de nossa cultura, de nossa sociedade. E precisamos exigir mais um do outro. Somos todos necessários e todos podemos contribuir para a construção.”
Marc diz que os EUA e a civilização ocidental são baseadas na produção e na construção. “Nossos antepassados construíram estradas e trens, fazendas e fábricas, depois o computador, o microchip, o smartphone e incontáveis milhares de outras coisas que agora temos como garantidas, que estão ao nosso redor, que definem nossas vidas e sustentam nossas vidas.” E conclui. “Existe apenas uma maneira de honrar o legado e criar o futuro que queremos para nossos próprios filhos e netos, e isso é construir.”