Num momento em que novas montadoras enfrentam dificuldades para se manterem financeiramente, com os investidores cada vez mais cautelosos com o setor automotivo, a startup de tecnologia para veículos autônomos Nuro conseguiu levantar US$ 203 milhões em novos recursos, atraindo para seu cap table a Nvidia.
Baseada no Vale do Silício, a Nuro anunciou na quinta-feira, 21 de agosto, que novos e atuais investidores, como a Uber, injetaram mais US$ 97 milhões na companhia, complementando a primeira parte da Série E, encerrada em abril, quando levantou US$ 106 milhões. Com a nova tranche, a companhia foi avaliada em cerca de US$ 6 bilhões.
A chegada da Nvidia ocorre após anos de cooperação técnica entre as partes. A Nuro utiliza as unidades de processamento gráfico (GPU, na sigla em inglês) e os modelos de treinamento da gigante de tecnologia, que recentemente alcançou o feito de ser avaliada na marca de US$ 4 trilhões.
Em nota, a Nuro informou que os recursos serão utilizados para escalar sua plataforma de IA para carros autônomos, via parcerias. No mês passado, a Uber anunciou um acordo com a Nuro e a fabricante de carros elétricos Lucid para lançar uma frota de robotáxis. A expectativa é de que os primeiros veículos comecem a rodar a partir de 2026.
O acordo previa que a Uber investisse “centenas de milhões” na Nuro. Uma parte desses recursos foi aportada na Série E. O restante será liberado à medida que a startup atinja determinadas metas, segundo informações do site TechCrunch.
“Com este novo capital, estamos bem posicionados para continuar nossa próxima fase de crescimento, na qual vamos focar em oferecer novas parcerias comerciais para oferecer autonomia em escala global”, diz, em nota, o cofundador e presidente da Nuro, Dave Ferguson.
A rodada ocorre num momento complexo para o ecossistema de carros elétricos e autônomos. A guerra de preços provocada pelo aumento de players, barreiras regulatórias e tarifárias, e os altos investimentos exigidos para desenvolver novas tecnologias e competir estão pesando sobre montadoras e fornecedores.
No final do ano passado, um levantamento feito pelo jornal The Wall Street Journal (WSJ) apontou que 54 empresas, de montadoras a fabricantes de baterias, lidavam com problemas financeiros, com a maioria trabalhando com caixa em níveis muito baixos. A montadora Fisker entrou com um pedido de recuperação judicial em junho do ano passado, e a fabricante de baterias sueca Northvolt pediu falência em março deste ano.
Mesmo tendo sucesso em levantar novos recursos, a Nuro sentiu o peso desse cenário. O valuation da Série E representa uma queda em torno de 30% em relação à avaliação de US$ 8,6 bilhões que a empresa obteve na Série D, em 2021. A companhia já levantou cerca de US$ 2,3 bilhões.
Fundada em 2016, a Nuro teve que adaptar seu modelo de negócios para encarar o duro momento do nascente mercado de carros autônomos. A empresa promoveu uma série de demissões entre 2022 e 2023 antes de revisar seu plano de negócios.
A Nuro abandonou, no ano passado, o plano de operar uma frota própria de veículos de entregas. A companhia decidiu focar suas operações no desenvolvimento e licenciamento de tecnologia para carros autônomos a outras montadoras.