A situação do segmento de veículos elétricos já não anda boa neste ano, com o mercado vendo diversas companhias entrarem com pedidos de recuperação judicial, como foi o caso da Fisker. E considerando a situação financeira precária de muitas delas, mais as promessas do presidente eleito Donald Trump de reduzir os subsídios para o setor, o cenário pode ficar ainda pior.

Um levantamento feito pelo jornal The Wall Street Journal com 54 empresas, de montadoras a fabricantes de baterias, mostra uma situação financeira delicada, com a maioria com caixa em níveis muito baixos.

Sete dessas empresas já entraram com pedidos de recuperação judicial. De um total de 36 companhias desse grupo, que apresentam números detalhados, três quartos delas estão perdendo dinheiro e 13 devem ficar com o caixa zerado até meados do ano que vem.

Mesmo companhias um pouco mais estabelecidas, como a Rivian Automotive e Lucid Group, enfrentam perspectivas nebulosas. Suas ações registram uma queda acumulada de 40% ou mais neste ano, em meio ao recuo na demanda por veículos elétricos, aumento dos custos de produção e problemas na cadeia de fornecimento.

A mudança de administração na Casa Branca deve tornar a situação ainda mais complicada. Enquanto o presidente Joe Biden estimulou a indústria via subsídios e financiamentos, Trump prometeu acabar com o crédito fiscal de US$ 7,5 mil para a compra de carros elétricos.

E o plano do novo presidente de elevar as tarifas de importação sobre veículos e peças deve pressionar ainda mais os custos da indústria automotiva.

Muitas startups se tornaram públicas nos últimos anos, surfando o entusiasmo em torno do tema e tentando ser a próxima Tesla. Algumas delas apelaram para as Special Purpose Acquisition Companies (SPACs), popularmente conhecidas como “empresas de cheque em branco”. Mas a realidade frustrou as expectativas.

Uma que se enquadra nesse caso é a fabricante de vans Canoo. Ela se listou via uma SPAC, em 2020, além de ter recebido US$ 113 milhões em incentivos fiscais, com planos de criar mais de 1,3 empregos em sua fábrica de veículos e baterias em Oklahoma. A companhia projetava que teria um faturamento de cerca de US$ 1,4 bilhão neste ano.

Passado o tempo, a situação é outra. A companhia sofre com queima de caixa e se viu obrigada a demitir quase um quarto do quadro de funcionários para preservar recursos.

A transição para o segundo mandato Trump vem num momento crítico para grandes montadoras, como Ford e General Motors. Essas empresas, que prometeram aportar bilhões de dólares para expandir seus portfólios de carros elétricos, estão adiando ou recuando desses investimentos, uma vez que as vendas não se materializam como esperado.

A situação das companhias americanas, sejam novas ou mais antigas, e a posição do governo Trump faz muita gente prever que os Estados Unidos ficarão atrás da China nesta indústria, com nomes como BYD e a fabricante de baterias CATL ganhando mercados pelo mundo.

Em meio a essa mudança de cenário, a Rivian corre para fechar um empréstimo de US$ 6,6 bilhões com o governo dos Estados Unidos para aumentar sua capacidade produtiva. O crédito foi aprovado preliminarmente nesta semana, mas investidores estão preocupados que a fabricante de caminhonetes elétricas possa não receber os recursos antes da posse de Trump, marcada para 20 de janeiro.