Se você está acostumado a ler anúncios de aportes do Softbank com cifras altas, a maioria delas superando os R$ 100 milhões, prepare-se para que cheques menores comecem a fazer parte da rotina dos novos investimentos na América Latina.
Quatro meses após dizer que iria investir em startups em estágio inicial, participando de rodadas seed, séries A e B, com cheques que variam de US$ 800 mil a US$ 13 milhões, o Softbank começou a divulgar os primeiros aportes de seu fundo de US$ 300 milhões.
As três primeiras startups escolhidas foram a Worc, conhecida como um “Tinder dos empregos” do mercado de food service; a BotCity, que desenvolveu uma ferramenta para ajudar times de tecnologia em desenvolvimentos de bot; e a Abstra, que cria aplicativos sem escrever uma única linha de código de programação.
“Vamos investir em algo entre 40 e 50 startups no período de três anos”, diz Rodrigo Baer, sócio do Softbank para Early Stage, ao NeoFeed. “Vamos buscar startups nas áreas de healthtechs e SaaS e startups que têm produtos que são competitivos globalmente.”
Os três primeiros investimentos ilustram essa tese - mais quatro devem ser anunciados em janeiro. A Worc é dona de uma plataforma que permite a contratação de profissionais para a indústria food service no modelo SaaS. Tanto BotCity, como Abstra desenvolveram produtos que podem ser usados de forma escalável em qualquer lugar do planeta.
A BotCity, por exemplo, está recebendo uma rodada seed de US$ 2,5 milhões coliderada por Softbank e Astella Investimentos. “O dinheiro vai ser usado para o desenvolvimento do produto e para a internacionalização”, diz Lorhan Caproni, fundador da startup ao lado de Gabriel Archanjo.
Atualmente, a BotCity, fundada em Campinas (SP) em 2020, conta com aproximadamente 1 mil desenvolvedores que usam a plataforma para fazer a automação de processos complexos de empresas de maneira mais rápida. A meta é, nos próximos 18 meses, atingir 10 mil desenvolvedores. “Pelo menos, 40% devem ser de desenvolvedores de fora do Brasil.”
Ao contrário da BotCity, em que ainda é preciso escrever linha de códigos, a Abstra está inserida no mercado de low code, soluções que automatizam parte da tarefa de desenvolvimento. “A ideia é permitir que os designers possam desenvolver uma aplicação front end rapidamente”, diz Bruno Vieira Costa, fundador da Abstra, que é empreendedor de segunda viagem.
Antes da Abstra, Costa fundou a PaperX, uma plataforma baseada em exercícios para estudantes que prestavam vestibulares e concursos públicos que foi comprada pela edtech Descomplica. Ele, que programa desde os sete anos de idade e é natural do Pará, já foi dono também de um estúdio de videogame.
Fundada no Rio de Janeiro em março de 2020, a Abstra recebeu US$ 2,4 milhões, dinheiro que vai ajudar no desenvolvimento do produto que já é usado por empresas como Accenture e Stone. A equipe vai dobrar com o aporte, passando de 10 para 20 pessoas. Além do Softbank, investiram também na empresa a Alexia Ventures, a Iporanga Ventures e a aceleradora americana Y Combinator.
O terceiro investimento do fundo de early stage do Softbank foi na Worc, que captou uma rodada de R$ 20 milhões com a participação também de SaaSHolic, Positive Ventures, K50 Ventures, Aimorés Investimentos e Latitud Fund. “Damos o match perfeito entre os candidatos e os restaurantes”, diz Alex Apter, fundador da Worc ao lado de João Pedro de Simoni.
A startup ajuda restaurantes e bares a contratar mão de obra, inclusive profissionais temporários. Os profissionais são desde garçons, passando por bartenders, cozinheiros, hostess e até funcionários para a área de gestão. Atualmente, conta com 130 mil candidatos e já gerou 70 mil oportunidades de emprego. A meta é ter mais de 1 milhão de candidatos em 2022.
A Worc já conta com 300 clientes, que são donos de 500 estabelecimentos. “O foco são pequenas e médias empresas do ramo de food service”, afirma Apter, que pagam uma anualidade para usar a plataforma da startup – o cadastramento é gratuito aos candidatos que buscam vagas.
Do seed ao IPO
O fundo de early stage é parte de uma estratégia mais ampla do Softbank, que começou a apostar na América Latina com um fundo de US$ 5 bilhões em 2019 para investir em startups em estágio mais avançados.
Em setembro deste ano, a gestora anunciou um segundo fundo para a região com US$ 3 bilhões, mas que pode ultrapassar os US$ 5 bilhões, pois o Softbank vai captar recursos com terceiros.
Dessa vez, a estratégia é bem mais ampla e vai do seed ao IPO. Um exemplo disso é que o Softbank participou da concorrida abertura de capital do Nubank, na Bolsa de Nova York, em dezembro deste ano, sendo um dos investidores âncoras.
“Hoje, o mercado de late stage está bem desenvolvido no Brasil”, afirma Baer. “A gente começou ver a possibilidade de se diferenciar e ser o parceiro ideal do empreendedor, independente do estágio da jornada dele.”
Embora o dinheiro saia do mesmo bolso, o fundo de early stage tem um comitê de investimentos diferente do que investe em startups mais maduras. E, de acordo com Baer, ele não funcionará com um “deal flow” para o fundo late stage.
Além de Baer, um investidor com grande experiência no mercado de venture capital e que atuava na Redpoint eventures antes de ir para o Softbank, o fundo early stage conta também com Marco Camhaji, ex-diretor de desenvolvimento de negócios da Amazon no Brasil, onde atuou estabelecendo parcerias com fintechs.